Ligação entre homicídios e crack é polêmica

Com a chegada desse vício, várias capitais registram aumento na violência, mas SP desafia as estatísticas

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Por Bruno Paes Manso
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Jaboatão dos Guararapes e Recife, em Pernambuco, Serra e Cariacica, no Espírito Santo, Maceió, em Alagoas, Guaíra e Foz do Iguaçu, no Paraná, são cidades com problemas de tráfico de crack que se encontram entre as mais violentas do Brasil. Em Salvador, o pico dos assassinatos ocorreu no ano passado, acima dos 60 casos por 100 mil habitantes. Em Belo Horizonte, o recorde foi alcançado entre os anos de 2002 e 2003. Ambas passaram a ter problemas com a droga a partir do final dos anos 1990. E Brasília, onde viciados se encontram atualmente em pontos centrais do Plano Piloto, também está entre as dez capitais mais violentas do País. Esse quadro leva autoridades e estudiosos a debaterem a forte relação que existe entre o comércio do crack e assassinatos. O caso de São Paulo, no entanto, é suficiente para derrubar aqueles que defendem essa tese. A permanência do comércio da droga no Estado não impediu que São Paulo registrasse queda nos homicídios superior a 70% desde 1999. "O tráfico de crack é problemático porque pulveriza o varejo e aumenta a quantidade de pequenos traficantes. Para piorar, eles também se tornam consumidores da droga. Isso tende a aumentar a concorrência e fazer crescer o total de mortes. Isso não parece ocorrer, contudo, em mercados em que o tráfico de drogas é controlado por uma grande organização, como em São Paulo com o Primeiro Comando da Capital (PCC), que prioriza o lucro e teme a punição pela violência cometida", diz o Luiz Flávio Sapori, coordenador do Centro de Estudos e Pesquisa em Segurança Pública da PUC-MG, que pretende realizar em 2009 um estudo nacional sobre o crack. Já a professora Solange Nappo, pesquisadora do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), que ao longo da carreira já entrevistou cerca de 300 usuários de crack, acredita que importantes mudanças no perfil do consumo da droga no Estado ajudam também a compreender a queda da violência relacionada ao uso. Mesmo sem contar com dados quantitativos capazes de apontar essas transformações, Solange diz que foi possível detectar nos últimos anos o aumento da quantidade de mulheres usuárias. Outro dado apontado por ela é que, atualmente, cada vez mais viciados relatam usar o crack misturado a drogas relaxantes, como a maconha e o álcool. "Se por um lado, os danos à saúde do usuário permanecem grandes, por outro essa mistura contribui para que o viciado tenha um maior controle sobre os efeitos colaterais do uso do crack, que são a fissura e a paranóia. Dessa maneira, ele consegue ficar menos exposto à violência", afirma. O delegado titular da Divisão de Prevenção e Educação do Departamento de Narcóticos de São Paulo, Luiz Carlos Magno, concorda que crack e tráfico desorganizado são um binômio explosivo. "Isso, contudo, não nos permite associar a diminuição da violência no comércio à organização do crime", diz.

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