Lorenzetti pede afastamento do comitê de campanha de Lula

Ele é apontado como intermediador das negociações para a venda do dossiê contra Serra e Alckmin

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Por Agencia Estado
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O chefe da chamada "Abin do PT" - o núcleo de inteligência da campanha petista -, professor Jorge Lorenzetti, pediu afastamento das funções de analista de mídia do Comitê de Campanha. A carta do diretor licenciado do Banco de Santa Catarina (Besc) e churrasqueiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à direção do PT repete a estratégia política usada pelo partido, no ano passado, quando foi denunciado o esquema do valerioduto. Para desvincular Lula do escândalo da compra de dossiê e retirar de cena o seu amigo e segurança Freud Godoy, o principal vínculo da denúncia com o Planalto, Jorge Lorenzetti pediu desligamento das suas funções da campanha presidencial e assumiu a responsabilidade pelo episódio. Ele admitiu que extrapolou "o limite de suas atribuições na campanha" ao tratar do dossiê e se pôs à disposição da Polícia Federal e do PT. Lorenzetti é apontado como intermediador das negociações para a venda do dossiê envolvendo os candidatos tucanos José Serra e Geraldo Alckmin na máfia das ambulâncias. O afastamento foi comunicado na noite desta terça-feira pelo comitê de campanha do presidente Lula. A mesma tática de desvincular Lula desse escândalo, nesta reta final da campanha eleitoral, foi adotada pelos senadores Roberto Saturnino (PT-RJ) e Sibá Machado (PT-AC), os únicos governistas que estavam presentes hoje ao plenário e saíram em defesa de Lula. Em resposta ao tiroteio da oposição, ambos pediram apuração das denúncias e punição dos responsáveis, deixando claro, porém, que jamais Lula se envolveria num episódio dessa natureza para desestabilizar a candidatura de José Serra (PSDB) ao governo de São Paulo. No ano passado, quando explodiu a denúncia do esquema financeiro montado pelo PT e o empresário Marcos Valério, o Planalto e os aliados do governo agiram para evitar que as acusações atingissem o presidente Lula, apesar do envolvimento do então chefe da Casa Civil, José Dirceu. Em meio às pressões, ministro se afastou do cargo e depois teve cassado o seu mandato de deputado federal. A responsabilidade do valerioduto recaiu sobre dirigentes do PT, sobretudo do tesoureiro Delúbio Soares, o único do comando nacional que foi punido, sendo expulso do partido. Ligações Ele foi apontado ontem por Freud Godoy, assessor especial de Lula, como o intermediador dos encontros que teve com o advogado Gedimar Passos - preso na sexta-feira, em São Paulo, com R$ 1,75 milhão, que seria usado na compra do dossiê Vedoin. Ele será investigado pela Polícia Federal como um dos pilares do escândalo. O envolvimento de Lorenzetti com Lula e com a cúpula do PT transcende as relações político-partidárias. Apontado como homem com trânsito livre no Palácio do Planalto, ele é também o churrasqueiro preferencial do presidente nos encontros promovidos na Granja do Torto. Um desses churrascos foi o que Lula ofereceu ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, durante a transição de governo. Ou mesmo no churrasco oferecido ao líder cubano Fidel Castro, em 2003. Diretor do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc) desde março de 2005, Lorenzetti pediu licença do cargo em 1º de agosto para integrar a campanha à reeleição do presidente, em Brasília. A própria indicação dele para o cargo foi feita diretamente pela Presidência, mas a assessoria do banco não quis confirmar se foi um pedido pessoal de Lula. Coincidência ou não, o atual presidente do Besc, Eurides Luiz Mescolotto, é também um velho amigo de Lula e de Lorenzetti. Indicado pelo presidente para assumir o banco - que foi federalizado em 1999 -, Mescolotto é ex-marido da senadora Ideli Salvatti (PT-SC). Consta que na primeira quinzena de julho o próprio Lorenzetti e a senadora Ideli foram recebidos em Brasília. No encontro se discutiu, entre outras coisas, a criação de um comitê suprapartidário em Santa Catarina em apoio à reeleição. Confiança pessoal A confiança de Lula em Lorenzetti não se restringe aos seus horários de lazer. Em 21 agosto de 2003, durante discurso do presidente, no lançamento do Pólo de Fruticultura da Amazônia, no município de Benevides (PA), Lorenzetti foi nominalmente citado por Lula como alguém em quem os presentes deveriam ´confiar´, como um bom homem de relações internacionais. De fato, Lorenzetti é conhecido como um exímio arrecadador de fundos internacionais. Esse histórico começou em meados da década de 90, quando ele era uma das principais lideranças nacionais da Central Única dos Trabalhadores (CUT) - quando a entidade ainda não tinha relações profundas com o PT. Um ex-petista que participou da fundação do partido e da campanha de Lula em 1989 disse que, por volta de 1994 e 1995, Lorenzetti formava, juntamente com Delúbio Soares (tesoureiro) e Gilmar Carneiro (secretário-geral), o tripé de comando da CUT. Segundo esse ex-petista, foi por meio da ligação de Lorenzetti com Lula e o ex-ministro José Dirceu que a CUT passou a se aproximar do PT e começou a buscar fundos internacionais para formação sindical. Enfermeiro por formação, Lorenzetti foi também o primeiro candidato a prefeito de Florianópolis pelo PT, em 1985.

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