Lula afirma que atuação da oposição sugere um golpe de Estado

"Os números mostram que nós demos mais certo do que eles, e eles agora estão ansiosos para ver se existe outro meio que não a eleição para evitar que as pessoas dirijam este país"

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Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva elevou o tom da voz novamente nesta sexta-feira, ao comentar o escândalo do dossiê contra políticos tucanos, que já derrubou oito pessoas no PT e no governo. Falando de improviso, no Hotel Nacional, em Brasília, para cerca de 500 prefeitos, ele declarou que a atuação da oposição ao seu governo teria conotações golpistas. "Temos que ficar de olho. Tem gente neste país que ainda não aprendeu a viver na democracia. Tem gente neste país que falou: ´Vamos deixar este operário ganhar, ele não vai dar certo, e a gente volta com toda a força.´ Só que os números mostram que nós demos mais certo do que eles, e eles agora estão ansiosos para ver se existe outro meio que não a eleição para evitar que as pessoas dirijam este país". As declarações de Lula vão ao encontro do que já pode ser visto no site do PT na Internet. A idéia de uma ação golpista da oposição já está estampada em artigos de cientistas políticos e manifestos ali publicados. Ele disse ainda que é o maior interessado na apuração do escândalo da montagem do dossiê. "Sou o maior interessado na apuração. De onde vem esse dinheiro?", perguntou Lula. Ainda irritado, o candidato questionou: "quero saber que tramóia é essa, que arapuca é essa? Que diabo de conteúdo está nesse dossiê que meteu esse pessoal nessa enrascada? Quem fez isso não era da inteligência". Ele classificou como "deplorável" o episódio com o qual petistas pretendiam associar à máfia dos sanguessugas o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra. "É deplorável negociar com bandido. Quem quer vender (dossiê) é bandido, e quem compra é tão bandido quanto", disse Lula. Confiança na vitória Lula afirmou também ter certeza de que vai ganhar as eleições, ainda que não seja no primeiro turno. "Não tem eleição ganha antes da apuração. É preciso que a gente trabalhe muito. E, se não der no primeiro turno, não tem problema. Só queria que vocês trabalhassem, porque o resultado depende desse trabalho, depende de vocês. (De) Que nós vamos ganhar eu tenho certeza, eu não tenho dúvida", disse o presidente. Ainda em referência ao dossiê que petistas teriam comprado aos irmãos Vedoin, chefes da máfia das ambulâncias, para usar contra o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, Lula afirmou que, "se fosse boa a intenção" das pessoas que participaram da armação, o material "não seria vendido, seria dado." Ao final do discurso para prefeitos, o presidente baixou o tom de voz e disse que vai manter a calma durante a campanha, apesar dos ataques da oposição. "Quanto mais eles baixarem o nível, mais eu vou elevar o nível", disse. O presidente contou que, mais cedo, tinha recebido um telefone da primeira-dama, Marisa Letícia, e que ela lhe pedira para "não ficar nervoso e não xingar ninguém". "Por isso, vocês me verão muito mais tranqüilo do que agora. Não tenho razão para ficar nervoso. Certamente, meus adversários é que têm", afirmou Lula. Dossiê já derrubou 8 pessoas no PT e no governo Um golpe estrondoso atingiu uma região nevrálgica do poder, perto do presidente Lula, e em cheio o PT. A prisão de Valdebran Padilha e Gedimar Passos, até então figuras pouco ou nada conhecidas, fez um estrago comparável a um strike do boliche, derrubando primeiro as figuras de bastidor, depois assessores de trânsito livre no Palácio do Planalto e, por fim, abatendo o presidente do PT, Ricardo Berzoini, e outras peças-chave da campanha à reeleição do presidente Lula. A bola foi arremessada contra o governo no dia 15, quando, em poucas horas, o País ficou sabendo de denúncias contra tucanos veiculadas pela revista IstoÉ e, em seguida, assistiu ao desmonte de uma operação para a venda do dossiê Vedoin. A tentativa de associar candidatos do PSDB à máfia das ambulâncias mal repercutia quando Valdebran - empresário filiado ao PT - e Gedimar - advogado e ex-policial - foram presos pela Polícia Federal com R$ 1,75 milhão. Na noite anterior, Paulo Roberto Trevisan - da família que chefiava o esquema - fora detido em Cuiabá tentando embarcar para São Paulo. O próximo arremessado para fora do círculo de poder foi Freud Godoy, ex-assessor e chefe de segurança que gozava de extrema confiança de Lula, a ponto de ganhar uma sala no Palácio do Planalto, perto de onde o presidente despacha e ao lado do espaço reservado à primeira-dama. É suspeito de ter ordenado a compra do dossiê. Quase simultaneamente, o escândalo envolveu e derrubou Jorge Lorenzetti, outro amigo de Lula, churrasqueiro oficial dos fins de semana na Granja do Torto. Diretor licenciado do Banco do Estado de Santa Catarina, Lorenzetti cuidava da campanha nesse Estado. Juntamente com o ex-secretário do Ministério do Trabalho Oswaldo Bargas, teriam atuado no episódio do dossiê antes mesmo das prisões em São Paulo. Lorenzetti e Bargas teriam oferecido a mesma denúncia à revista Época, no dia 6 deste mês. Alegavam possuir informações que ligariam Serra e Barjas Negri - ambos tucanos e ex-ministros da Saúde - ao esquema de venda de ambulâncias superfaturadas. No mesmo dia, porém, telefonaram de novo, avisando que o denunciante desistira de fazer as revelações. Berzoini, que foi informado da conversa com a revista, balançou forte e perdeu a função de chefe da campanha de Lula. Também antes das prisões que detonaram o caso, outro personagem entrou em cena. Era Expedito Afonso Veloso, diretor de Gestão de Risco do Banco do Brasil, que tirou férias e viajou para Cuiabá (MT), no dia 11 de setembro. Lá, tentou convencer Darci e Luiz Antônio Vedoin, pai e filho, que montaram a fraude dos sanguessugas, a denunciar os tucanos à IstoÉ. Reuniu documentos. Acabou, anteontem, afastado do BB, após 20 anos de carreira. A crise esbarrou, ainda, em Hamilton Lacerda, coordenador de campanha daquele que poderia se beneficiar de um eventual abalo na candidatura Serra - o candidato ao governo paulista pelo PT, Aloizio Mercadante. Como Berzoini e Lula, Mercadante garante que tudo aconteceu sem o seu conhecimento. Alegou quebra de confiança para afastar o assessor, também ligado ao ex-ministro José Dirceu e com participação na campanha de 1989. A origem do dinheiro foi desvendada, os donos das contas, não. E o strike pode fazer novas baixas.

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