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Lula afirma ser ''injustificável'' presença de Exército em obra

Presidente se reuniu ontem com familiares de três jovens entregues por soldados ao tráfico

Por Tania Monteiro , Talita Figueiredo e Felipe Werneck
Atualização:

Em meio ainda a um clima de consternação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou de uma reunião de quase uma hora, no Palácio da Guanabara, com cinco familiares dos rapazes mortos pelo tráfico, após serem entregues a gangues inimigas por militares que tomavam conta das obras do Exército no Morro da Providência. Lula chegou a desabafar que considera "injustificável" a presença de homens do Exército em "uma obra terceirizada" , já que os trabalhadores ali empregados são da comunidades, e os únicos militares seriam dois engenheiros. Mais informações sobre o caso O presidente decidiu receber os familiares dos rapazes para ouvir o outro lado da história, já que tomou conhecimento da maior parte do caso apenas pelo Ministério da Defesa. Na avaliação do presidente, "são muito diferentes as versões" sobre a forma como os jovens foram abordados, presos e entregues para as facções rivais. Lula defendeu que o julgamento dos 11 envolvidos na morte dos jovens seja feito pela Justiça Civil, e não na Justiça Militar. O ministro Nelson Jobim endossa a mesma tese, o que é contrário ao entendimento dos militares. Na conversa com as famílias, o presidente Lula reiterou a disposição do governo em pagar uma indenização aos familiares das vítimas. Mas, apesar do discurso aparentemente contrário à atuação das Forças Armadas no Morro da Providência, o presidente Lula concordou com o fato de o Ministério da Defesa ter pedido à Advocacia-Geral da União (AGU) para entrar com recurso na Justiça a fim de garantir que os militares permaneçam na favela, dando proteção ao pessoal que trabalha na obra e ao material. Até quinta-feira, a Justiça decide se a redução dos militares foi suficiente ou se devem deixar definitivamente o morro. Nos questionamentos sobre a presença do Exército na área, o presidente Lula lembrou que "não tem policiamento ostensivo em nenhuma das obras do PAC". Com isso, na sua avaliação, não haveria motivos, também, para ter soldados do Exército fazendo segurança ostensiva naquela obra. As obras no Morro da Providência não estão incluídas no PAC - elas fazem parte do Projeto Cimento Social, fruto de acordo entre o Ministério das Cidades e o Comando do Exército para atender a uma emenda parlamentar do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), que seria o candidato preferido de Lula à prefeitura do Rio. Ontem, pela primeira vez após o crime, o senador compareceu a uma solenidade de lançamento de apoio à candidatura do Rio para sede das Olimpíadas de 2016. Lula e Crivella saíram juntos da cerimônia. Após a reunião com Lula, a servente Lilian Gonzaga, mãe de Wellington Gonzaga da Costa, de 19 anos, foi a única do grupo a conversar com jornalistas, mas disse apenas que agradeceu e pediu justiça. JULGAMENTO O juiz do 3º Tribunal do Júri do Rio, Sidney Rosa da Silva, se declarou "incompetente" para julgar os 11 militares acusados. Segundo ele, a ação dos militares maculou "os serviços do Exército" e, por isso, há interesse da União. Disse ainda que o crime aconteceu quando os militares estavam em serviço. Os autos do inquérito apresentado pelo Ministério Público Estadual serão remetidos hoje para a Justiça Federal. O promotor Marcos Kac disse que vai analisar a decisão do juiz, da qual discorda. Ele também considera que o crime deve ser julgado na esfera estadual. O promotor não chegou a oferecer denúncia contra os militares.

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