O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou às 16 horas uma reunião com o Ministério da Defesa, Comando da Aeronáutica e Infraero para discutir o problema de atraso nos vôos em todo o País. Na reunião desta terça-feira, o presidente deverá cobrar soluções imediatas, porque há uma grande preocupação com o que poderá acontecer a partir desta quarta-feira, véspera do feriado de Finados. Mas uma solução definitiva para o setor, segundo fontes do governo, não deverá ocorrer antes de seis meses ou um ano. O ministro da Defesa, Waldir Pires, declarou nesta segunda-feira que a solução para o atrasos dos vôos nos aeroportos brasileiros não é simples e disse que a situação pode perdurar e prejudicar até as viagens de fim de ano. Os controladores de vôo estão em operação tartaruga há mais de uma semana, embora o governo não admita oficialmente a manifestação. o intervalo de operação entre uma aeronave e outra, que era de dois minutos, passou a ser de dez minutos. Na segunda-feira, em alguns momentos, chegou a 20 minutos. O maior problema é a falta de pessoal para atender a crescente demanda do tráfego aéreo, que no último ano cresceu 14%. Os controladores querem a contratação de mais funcionários. A Aeronáutica reconhece que falta gente treinada para o trabalho, mas diz que precisa de tempo para treinar e contratar novos profissionais. Após a colisão entre o jato Legacy e o Boeing 737-800 da Gol, ocorrida em 29 de setembro, em Mato Grosso, que causou a morte de 154 pessoas, os controladores de Brasília resolveram, na última semana, seguir à risca os procedimentos de vôo e não trabalhar mais acima de sua capacidade. Na operação, que começou na sexta-feira, os passageiros geralmente chegam a aguardar entre 30 e 40 minutos dentro do avião na pista até que a torre de controle libere a partida. Os vôos decolam com até três horas de atraso. Pousos e decolagens com pouco intervalo ficam limitados. Em determinadas situações, as decolagens chegam a ser proibidas. O próprio presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Proteção ao Vôo (SN-TPV), Jorge Botelho, admitiu que a operação-padrão foi uma reação da categoria à suspeita de que a conduta de um funcionário do Cindacta 1 teria contribuído para o acidente. Na prática, nenhuma norma internacional estabelece quantas aeronaves um controlador tem condições de monitorar simultaneamente. Segundo a Organização de Aviação Civil Internacional (Icao, na sigla internacional), cabe às autoridades aeronáuticas de cada país estipular esse número, conforme o fluxo de aviões no espaço aéreo e o quadro de funcionários. Alternativas Na tentativa de reduzir os transtornos causados pela operação-padrão dos controladores de vôo de Brasília, a Aeronáutica decidiu na segunda-feira, 30, instituir uma espécie de rodízio para aviões de pequeno porte e jatos executivos. Nos horários de pico - entre as 7h30 e o meio-dia e das 17 às 20 horas -, essas aeronaves ficam, em princípio, impedidas de decolar, pousar ou sobrevoar o espaço aéreo entre Brasília, Cuiabá, São Paulo, Rio e Belo Horizonte. Exceções serão feitas em situações de emergência - como transporte de órgãos humanos para transplantes ou de pessoas doentes. Aviões em missões militares e de defesa - ou que estejam levando o presidente da República e ministros - também estão livres da restrição. Assinada no domingo à noite pelo Comando da Aeronáutica, sem que nenhuma das empresas afetadas fosse previamente notificada, a norma técnica vai vigorar até 28 de novembro. Outra alternativa para reduzir os transtornos seria a convocação de militares da Aeronáutica que já foram para a reserva para trabalharem nos centros de controle do espaço aéreo, em particular na região de Brasília. A proposta começou a ser debatida nesta segunda, no final da tarde, pelo ministro da Defesa, Waldir Pires, com representantes da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), da Aeronáutica e da Infraero. O governo avalia que essa é a forma mais rápida de solucionar os transtornos da falta de pessoal. Os militares da reserva precisariam de menos tempo de treinamento que novos contratados para os cargos. A estimativa é que poderia variar entre uma semana a um mês de treinamento, dependendo do tempo que estão afastados.