Lula diz que dia do debate foi um dos "mais tristes" de sua vida de político

O presidente atacou Alckmin, a quem chamou de "arrogante" e "pedante"

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Por Agencia Estado
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Um dia depois de ser confrontado com seu adversário no primeiro debate das eleições e de ser questionado sobre a compra de dossiê por antigos companheiros, o presidente e candidato à reeleição pelo PT Luiz Inácio Lula da Silva atacou duramente o tucano Geraldo Alckmin, a quem chamou de "arrogante" e "pedante". Em discurso de improviso para 30 cantores de música gospel, que foram ao Palácio da Alvorada transmitir apoio à sua candidatura, Lula condenou o nível do debate. "Ontem pensei que não estava na frente de um candidato, pensei que estava na frente de um delegado de porta de cadeia", desabafou o presidente, afirmando que, por isso, este foi "um dos dias mais tristes" de sua vida de político. Ao se referir à insistência de Alckmin em saber de onde veio o R$ 1,7 milhão para a compra do dossiê contra os tucanos, Lula ironizou: "O cidadão é um samba de uma nota só". O presidente afirmou que o tucano não apresentou propostas de governo e só quis falar sobre corrupção. "Os nossos adversários não querem discutir políticas econômica, social e educacional", comentou ele, salientando que pensou que "o debate fosse sobre solução dos problemas brasileiros". E, depois de lembrar que já debateu com inúmeros políticos, como Ulysses Guimarães, Fernando Collor e Mário Covas e que "todos tinham nível", avisou: "O povo não quer ver um candidato xingando o outro, quer saber o que é que vai fazer para melhorar a vida dele, dar emprego, crescer mais e, lamentavelmente, não foi isso que aconteceu para minha tristeza e do povo brasileiro". Muito aplaudido pelos evangélicos, Lula disse que Alckmin "pegou notas de jornal" com denúncias e transformou isso no seu programa. "Então, é aquela sanfona quebrada, que só faz o mesmo som", atacou, repetindo o discurso de que é o defensor dos menos favorecidos. "Tinham dois projetos, o nosso, que representa os anseios da maioria da população e o outro que representa o jogo de interesse dos grupos que tradicionalmente mandam no Brasil desde que Cabral pôs aqui os pés", alfinetou ele, acrescentando que este é "um grupo de interesses arrogante, pedante, das pessoas que falam com nariz em pé como se tivessem mais autoridade do que o restante do planeta". Engavetar corrupção Se colocando como paladino da moralidade, Lula declarou: "Eu, possivelmente, sou o único brasileiro que governou este País nos últimos anos que tem autoridade para falar de corrupção. É fácil não sair corrupção nos jornais, é só engavetá-las, é só colocá-la embaixo do tapete do sofá. Tem gente que prefere não levantar do sofá e deixa a sujeira se acomodando lá e só quando vai mudar de casa vai ver quanta sujeira tinha lá". E prosseguiu ressaltando que colocou a Polícia Federal para funcionar, que "as coisas vão aparecer sem pressa", e reiterando que presidente da República não prende, não pune, e apenas exonera porque quem tem de punir é a Justiça e quem tem de prender é a polícia. Mais uma vez, Lula não defendeu os companheiros que cometeram erros. Segundo ele, a diferença entre ele e os políticos do PSDB é que, no atual governo, as investigações vão a fundo. "Quanto mais companheiro ou amigo for (o envolvido em corrupção), mais tem que se apurar. Companheiros e amigos não podem fazer coisa errada." Pobres e ricos O presidente Lula disse que seus adversários estão "irritados" e "vão ficar muito mais" porque na comparação entre os dois governos, "ganha todos os itens". Em seguida, voltou a se colocar como defensor dos pobres. "Não se meta a fazer coisa pelos pobres e aí você vai pagar um preço. É assim, é como se fosse a revolta da chibata cotidiana neste país, cada vez que a gente adota uma política", disse ele, citando que a "elite política" está sendo "implacável" com ele, como foi com Juscelino Kubitschek, Getúlio Vargas e João Goulart. "Inventaram uma história que o Lula quer dividir o Brasil entre pobres e ricos. Eu não quero dividir, pelo contrário, quero que todo pobre seja rico", declarou, avisando que "eles é que não querem que os pobres tenham acesso às coisas básicas porque para eles, pobre tem de ser coadjuvante, pobre tem de ficar apenas batendo palmas, pobre não pode subir no palanque e nós ensinamos o pobre a subir no palanque". Muitos debates Para o presidente, este é um momento de grandes definições para o País. Ressaltou que "é calejado" e "não tem medo de cara feia". "Temos muito a fazer pelo Brasil. Estamos apenas começando", destacou, avisando que espera que tenha muitos debates pela frente e que haja "uma evolução para que as pessoas que estão sentadas no sofá possam optar por um candidato em função do compromisso que tiver assumido com ela e não pelas bravatas". Na cerimônia com os evangélicos, no Alvorada, o vice-presidente José Alencar também aproveitou para atacar Alckmin pelo que chamou de "tom agressivo" e "desrespeitoso" com o presidente da República. "Acho que ele marcou um gol contra ele", comentou ao Alencar que atribuiu esta postura "ao desespero" dos adversários e disse que Lula foi "educado", "respeitoso" e "sereno", diferente de seu opositor. Depois, em discurso para os evangélicos, Alencar foi buscar uma passagem na Bíblia para dizer que "os humildes serão exaltados e os exaltados serão humilhados". Outros evangélicos também saíram em defesa de Lula.

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