''Lula fez deboche da quebra de sigilo''

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Por Daniel Bramatti e Flavia Tavares
Atualização:

Em sabatina promovida pelo Estado, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, disse ontem que o PT convive mal com a democracia, ao avaliar o episódio da quebra do sigilo fiscal de sua filha, Verônica Serra. Para o tucano, a Receita Federal tem participado de uma "operação-abafa" para atrapalhar a elucidação do caso. Serra afirmou ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez "deboche" sobre a questão.Participaram da sabatina João Bosco Rabello, diretor da sucursal do Estado em Brasília, as repórteres Julia Duailibi e Patrícia Campos Mello e o mediador Roberto Godoy. A seguir, os principais trechos:Violação de sigiloNão acho que o principal aspecto dessa questão seja eleitoral, ao contrário do que muitos setores da imprensa têm considerado. É de outra natureza, tem a ver com a democracia, com os direitos individuais. Tem a ver com o estilo e as características de atuação do PT, que é um partido que convive com a democracia, mas não convive bem, convive com desconforto. Porque, no fundo da alma e às vezes até na superfície, os petistas não são democratas.Ação do governoA Receita tem feito uma operação-abafa. Eles sabiam que a procuração que havia servido para retirar os dados sigilosos da minha filha era falsa. Ganharam um tempo antes de admitir isso. Na verdade, eles têm procurado desde o começo atrapalhar a elucidação do que estava acontecendo. A Receita, de certa maneira, termina sendo cúmplice disso que o Everardo Maciel chama de sindicalização de um órgão de Estado que, na sua essência, deve estar acima de governos e de partidos.Conversa com LulaEstive com o presidente Lula em janeiro. Eu disse a ele que estava preocupado com ataques sistemáticos a minha filha, inclusive no blog Amigos do Lula e no blog da Dilma, que eram semioficiais. Tinha carta do Lula parabenizando o blog pelo aniversário. É um blog sujo, como outros que são pagos diretamente pelo governo federal. Eu disse que havia dados que pareciam até sigilosos. Eu não tinha certeza. Ele disse: "Eu vou ver". Eu nem reclamei nem pedi nada. Foi uma conversa bastante amistosa.Lula e DilmaO presidente Lula fez deboche de uma questão (violação de sigilo) bastante séria. De fato, a Dilma vive à sombra do Lula. Já vi candidatos criados por detentores do poder. O caso mais famoso é o do Maluf e do Pitta. Este caso da Dilma é até original, porque ela nem sequer debate os temas da campanha. Quem debate por ela parece ser o Lula e o presidente do partido. Não conheço episódio de ocultamento do candidato como esse. Até junto ao Superior Tribunal Militar houve gestões para não divulgar trechos do processo que ela sofreu. Aspectos da biografia estão trancados em um cofre. Essa, aliás, é uma especialidade do PT, que quer abrir o cofre constitucional dos outros e não quer abrir o cofre biográfico de seus integrantes. Ação contra Dilma no TSEOs petistas foram eficientes em criar uma pauta com a imprensa que os ajuda. Os jornalistas vivem falando da pauta deles. Você pega jornal e lê a pauta petista consagrada lá. Pouca gente se deu ao trabalho de analisar o que foi colocado no TSE. O PSDB pediu para que o assunto fosse investigado. Não pediu cassação de ninguém.Diferenças entre Serra e DilmaEu represento a certeza, no sentido de que sou conhecido, todos sabem o que eu penso, minha vida pública é pública de verdade. A Dilma é a dúvida em tudo. A escolha vai se dar entre algo conhecido, testado, e um envelope fechado.BoatosCom qualquer coisa que eu diga eles fazem campanha por e-mail para apavorar todo mundo. O boato mais sofisticado que espalharam é o de que eu vou acabar com os concursos. É organizado, tem uma central para isso. Eu tenho uma central anti-boatos. Imagine se eu espalhasse que ela disse na revista Exame, e ela disse mesmo, que iria alongar a idade dos aposentados. O PSDB, os tucanos são ineptos para espalhar fofocas, para fazer guerra subterrânea. E o petista nasce com isso no DNA. Não sei se ele aprende porque entra no PT ou se ele entra no PT porque é assim.Propaganda eleitoralAs críticas à campanha eleitoral são a coisa mais normal, ainda mais quando se está atrás nas pesquisas. Todo mundo tem uma opinião, depende também do programa que você viu. Dentro daquilo que você conhece num determinado momento, o programa é bom. Se você soubesse que ia ter essas coisas de sigilo, a gravidade que isso teria, já começaria a preparar uma semana antes. Além disso, são as minhas possibilidades, porque, afinal, é a minha cara que está lá, é a minha fala. Não faço falas forçadas, parte das vezes eu mesmo escrevo. Sobre a favela cenográfica, isso é truque de petista, porque fantasia maior do que o programa do PT eu não conheço. Tem uma proibição de ter externas nos comerciais, foi só por causa disso que fizemos a favela cenográfica.Aliados nos EstadosHá uma escassez de material de campanha, realmente. Foi feita uma programação aquém da expectativa das pessoas, não sabíamos o tamanho dessa expectativa. No Brasil, é difícil fazer o material chegar a cidades como Manaus, Belém. Do lado adversário, calculo que na história do Brasil nunca se gastou um quarto do que eles estão gastando no plano nacional. É a campanha mais rica e abundante da história do Brasil. Nossa campanha é normal. Não é indigente, mas é normal. Agora, nos Estados, a questão é a seguinte: todo mundo que se candidata quer ganhar e cada um tem sua estratégia. ContinuidadeA partir do dia 1º de janeiro, o Lula não estará lá. Essa história de o Lula continuar governando de fora não existe. Os exemplos são mais pelo contrário: Quércia e Fleury, Maluf e Pitta, João Paulo e o que o sucedeu no Recife. A Ana Julia Carepa, que o Lula ofereceu o pescoço para eleger, é uma pré-Dilma. Veja que o Lula tem um faro especial para a escolha de mulheres para a eleição. As questões econômicas do Brasil para o futuro são essenciais. Quem saberá resolvê-las? A saúde, a segurança e a educação ficaram para trás. O Brasil tem que pensar nisso.

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