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Lula 'não pode fazer nada por mim', diz mãe de jovem morto

Presidente se encontrou com mães dos jovens da Providência assassinados por traficantes do Morro da Mineira

Por Adriana Chiarini
Atualização:

As mães dos três jovens que foram assassinados por traficantes no Morro da Mineira depois de terem sido retirados do Morro da Providência pelo Exército confirmaram que foram recebidas no Palácio da Guanabara, sede do governo fluminense, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Ele não pode fazer nada por mim", disse Lilian Gonzaga Costa, mãe de Wellington Gonzaga Costa Ferreira. "Agradecemos por ele ter recebido a gente", disse também. "Eu peço justiça", afirmou. Ela fez as afirmações enquanto caminhava rapidamente para deixar o local, acompanhada das outras mães. Veja também: Lula se reúne com familiares dos jovens mortos da Providência Mais cedo, Policiais militares do 5º BPM da Praça da Harmonia começaram a atuar no Morro da Providência, na zona portuária do Rio de Janeiro, onde três jovens foram mortos na semana passada. Os rapazes foram detidos por militares do Exército que trabalhavam na área quando voltavam de um baile funk e entregues a traficantes do Morro da Mineira. Os corpos foram encontrados num lixão. Por questões de segurança, a assessoria da PM do Rio não informou o número de soldados que foram deslocados para os acessos do Morro da Providência. Disse, no entanto, que os objetivos da ocupação são aumento no patrulhamento da área e propiciar maior segurança aos moradores. No último sábado, 21, o Comando Militar do Leste diminuiu o contingente no morro de 200 para 60 homens. A medida foi adotada em cumprimento à decisão judicial que impôs restrições à permanência das tropas na comunidade.                                                             Reconstituição O Comando Militar do Leste (CML) estuda a possibilidade de fazer a reconstituição do episódio que terminou com o assassinato de três jovens do Morro da Providência, no último dia 14. O procedimento é praxe em Inquéritos Policiais Militares (IPMs), mas, devido à repercussão do caso, o Exército quer avaliar os prós e os contras para só depois definir uma data. A maior preocupação é com a integridade física dos 11 militares indiciados na semana passada pela morte dos rapazes e do efetivo que teria de ser deslocado para dar segurança aos responsáveis pela investigação. O primeiro entrave estaria nos ânimos dos moradores da Providência, que desde a morte dos jovens por traficantes de morro rival se opõe à permanência das tropas. Para iniciar a simulação seria preciso evacuar a Praça Américo Brum, um dos locais mais movimentados. Ali, Wellington Gonzaga Costa, de 19 anos, Marcos Paulo da Silva Correia, de 17, e David Wilson Florêncio da Silva, de 24, foram detidos - mais tarde foram entregues a traficantes do Morro da Mineira, na zona norte. "Seria algo inviável", avaliou o advogado João Carlos Figueiredo Rocha, que defende o segundo-tenente Vinícius Ghidetti, apontado como líder do grupo que entregou os rapazes aos traficantes da Mineira. "A reconstituição seria positiva para o meu cliente, mas, nas condições em que as coisas estão, já avisei que ele não vai. Seríamos recebidos com granadas." Outra dificuldade seria simular a entrega dos jovens aos traficantes. A Mineira é dominada pela facção Amigos dos Amigos (ADA) enquanto a Providência está sob o Comando Vermelho (CV). Na avaliação de fontes ligadas à investigação, seria preciso a intervenção de homens do Batalhão da Operações Policiais Especiais (Bope) para entrar na favela. Ainda que isso fosse viabilizado, poderia haver depois retaliações do tráfico local tanto aos militares quanto aos moradores da Providência. O capitão Fábio Peçanha, um dos encarregados do IPM, disse que é cedo falar em reconstituição.                                                                Permanência Pelo segundo dia consecutivo desde a decisão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (Rio e Espírito Santo) de limitar a atuação do Exército na Providência, militares continuaram ontem espalhados por diferentes pontos da favela. Além do trecho de 100 metros da Rua Barão da Gamboa onde ocorrem as obras do Projeto Cimento Social, o Estado avistou homens nas imediações do conjunto habitacional da Vila Portuária, vizinho à favela, e na capela do Cruzeiro. No entendimento do defensor público da União André Ordacgy, autor da ação civil pública que pedia a retirada imediata das tropas, o despacho do TRF2 permite ao Exército ficar no morro até quinta-feira, quando o governo federal terá de apresentar solução definitiva. Em nota, o CML diz ter determinado "a redução dos efetivos na região de 200 para 60 militares", e que a permanência das tropas na favela fica "restrita à região do canteiro de obras e às áreas absolutamente necessárias à execução das atividades administrativas e ao estabelecimento da segurança do pessoal, material e equipamentos utilizados nas obras, bem como na sua fiscalização". (Colaborou Bruno Tavares, enviado especial de O Estado de S. Paulo)

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