Lula pede cabeça de Berzoini no PT para se livrar do dossiê Vedoin

Preocupação do presidente é chegar ao debate de domingo com o discurso de que o partido tomou providências

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Por Agencia Estado
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Pressionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a cúpula do PT inicia nesta sexta-feira, 06, um expurgo interno, na tentativa de salvar o projeto de poder do partido para os próximos quatro anos. A 24 dias do segundo turno, numa reunião extraordinária da Executiva Nacional do PT, em São Paulo, dirigentes petistas proporão o afastamento do deputado Ricardo Berzoini (SP) da presidência do partido e a expulsão dos cinco filiados envolvidos na tentativa de compra do dossiê Vedoin. Lula ordenou à coordenação de sua campanha que encontrasse uma ´solução definitiva´ para o escândalo no PT antes do debate marcado para o domingo com o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, na TV Bandeirantes. O presidente quer chegar ao confronto sem esse peso e com o discurso de que o PT tomou providências. Até a noite desta quinta, Berzoini resistia muito a passar o bastão e a transferir o comando do PT para Marco Aurélio Garcia, primeiro-vice-presidente, apesar do apelo de Lula. Sua tendência, Unidade na Luta, estava dividida e desnorteada. Mas alguns de seus amigos prometiam conversar com ele na manhã desta sexta, horas antes da reunião, pedindo que se antecipasse e tomasse a iniciativa do afastamento. Berzoini não queria convocar a Executiva, mas não teve escolha. Aloprados Desde que foi confirmado o segundo turno, Lula culpa os ´aloprados´ do partido - como definiu os antigos companheiros - por não ter conseguido vencer na primeira etapa. Em conversas reservadas, não se cansa de repetir que sua reeleição está ameaçada por causa de ´imbecis´ do PT. Os petistas que deverão ser submetidos à comissão de ética são Oswaldo Bargas, Jorge Lorenzetti, Valdebran Padilha, Expedito Veloso e Hamilton Lacerda. A Polícia Federal descobriu que todos integravam um ´grupo de inteligência´ do PT que tentou comprar um dossiê do lobista Luiz Antônio Vedoin, por R$ 1,75 milhão. Composto por fotos e um DVD, o dossiê conteria denúncias que ligariam o então candidato José Serra, hoje governador eleito de São Paulo, à máfia dos sanguessugas. A trama tinha o objetivo de impulsionar a candidatura de Aloizio Mercadante (PT) ao Palácio dos Bandeirantes. O escândalo derrubou Berzoini da coordenação da campanha de Lula e teve efeito dominó sobre outros petistas graúdos. Freud Godoy, assessor especial do presidente, também caiu, mas até agora a PF não encontrou provas contra ele. "Se Berzoini não pode ser coordenador da campanha, como pode ser presidente do PT?", perguntou Jilmar Tatto, terceiro-vice-presidente do partido. "Não adianta fazer campanha e ignorar o dossiê nem tapar o sol com a peneira: há um defunto na sala." Luta interna Na desesperada tentativa de estancar a sangria causada pela crise, petistas de várias facções engalfinham-se em mais uma luta interna. Da Articulação de Esquerda, o secretário de Assuntos Internacionais, Valter Pomar, disse que a Executiva deve aprovar uma resolução defendendo a expulsão dos cinco envolvidos no escândalo. "Mas a situação de Berzoini é diferente e ainda será dirimida, porque, apesar de assumir que o grupo de inteligência estava sob sua coordenação, disse desconhecer o conteúdo de seus atos", comentou. O estatuto do PT prevê a suspensão da filiação e a instalação de comissão de ética com prazo de 60 dias para concluir as investigações. Mas, como não menciona a degola sumária, a resolução é a alternativa para uma resposta imediata. Um dos poucos que se posicionaram contra a punição, neste momento, foi o secretário de Mobilização do PT, João Felício. "Eu acho que deveremos tratar disso depois", disse.

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