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Luteranos festejam 100 anos de sua igreja

Templo no centro, que ganhará livro, é o primeiro neogótico

Por Mônica Cardoso
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Quase todos os domingos pela manhã, há 83 anos, a tradutora de alemão Waldtraut Rose sai de sua casa em Pinheiros, na zona oeste, e vai ao culto na Igreja Luterana Martin Luther, na Avenida Rio Branco, no centro. "Quando era criança, a região era bem diferente, com muitas chácaras", diz. A pequena confeitaria ao lado da igreja deu lugar a um arranha-céu da Polícia Federal. Foi na "stadkirche", como Waldtraut a chama carinhosamente, que ela foi batizada, casou e batizou sua filha. Sua história se confunde com a da própria igreja, que completa 100 anos no dia de Natal, 25 de dezembro. Em comemoração à data, será lançado um livro sobre a história da igreja em abril do próximo ano. O imponente templo é o primeiro em estilo neogótico na capital e foi elaborado por Guilherme von Eÿe, que também projetou o prédio do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. No seu interior, os vitrais retratam passagens do Evangelho e são de autoria da famosa oficina Casa Conrado, de Conrado Sorgenicht, o mesmo vitralista do Mercado e do Teatro Municipal. O majestoso órgão alemão Walcker também é centenário. Tombada pelos patrimônios históricos municipal e estadual de São Paulo, a paróquia dará início à sua primeira restauração, cujo projeto só depende da aprovação do Ministério da Cultura. O objetivo é incluí-lo na Lei Rouanet, para que as doações sejam dedutíveis do Imposto de Renda. "Com a aprovação, começaremos a arrecadar os recursos. A previsão é de que o restauro fique em torno de R$ 4 milhões", diz o pastor Frederico Carlos Ludwig. Aliás, toda a história da igreja foi feita com doações dos fiéis. O primeiro culto da comunidade luterana em São Paulo foi realizado na botica Ao Veado D?Ouro, de propriedade da família Schaumannem, em 26 de dezembro de 1858. Depois, eles passaram a ser realizados em um espaço cedido por uma igreja presbiteriana, também localizada no centro da cidade. Finalmente, em 1907, a comunidade que então contava com 150 membros recebeu a doação do terreno pelos empresários alemães Daniel e Hermann Heydenreich. O culto era falado em alemão, idioma da maioria dos freqüentadores, formado por imigrantes e descendentes de alemães. Durante a 2ª Guerra Mundial, porém, o presidente Getúlio Vargas proibiu que se falasse os idiomas dos países que compunham o Eixo - Itália, Alemanha e Japão. A partir de então, eles começaram a ser celebrados em português, dando início a um maior processo de integração com brasileiros.

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