Maceió terá de evacuar área equivalente a 78 campos de futebol por causa de rachaduras

Área em risco tem hospitais, escolas e até estação de energia; proximidade com lagoa pode causar alagamento

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Por Paula Felix , O Estado de S.Paulo e e Carlos Nealdo
Atualização:

MACEIÓ e SÃO PAULO - Uma área equivalente a 78 campos de futebol (78 hectares) terá de ser evacuada em bairros afetados por rachaduras e afundamento desde fevereiro de 2018 em Maceió. É o que aponta documento elaborado por agências do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil. As fissuras, provocadas pela extração de sal-gema na região, vêm se agravando e causam apreensão entre os moradores.

O plano de evacuação engloba os bairros do Pinheiro, Mutange e Bebedouro e mostra que quatro hospitais, três unidades de saúde, 12 escolas e uma subestação de energia que abastece um terço da capital alagoana estão dentro da área de risco – alguns equipamentos terão de ser realocados e outros, monitorados. Existe ainda risco de alagamento em alguns pontos porque há áreas passíveis de colapso na Lagoa Mundaú, que tem conexão com os bairros. 

Nos quatro bairros de Maceió, cerca de 40 mil moradores são afetados pelas rachaduras Foto: Ailton Cruz/Estadão

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Uma área de 242 hectares é atingida pelo problema, que afeta mais de 40 mil pessoas, segundo o documento. E 2.114 imóveis terão de ser evacuados. O cronograma de evacuação não foi divulgado. O Ministério do Desenvolvimento Regional considera a situação um “desastre em andamento”. Procurada para detalhar as ações, a gestão municipal não se manifestou.

Rachaduras mudam rotina de moradores

As rachaduras mudaram a rotina de moradores – parte já se mudou e outros assistem ao esvaziamento dos bairros. É o caso do professor Eduardo Jorge Ramos de Araújo, de 47 anos, que mora no Pinheiro, bairro de classe média de Maceió, desde os 4 anos de idade. Aos poucos, viu seus amigos de infância abandonarem os imóveis condenados. Hoje, mora sozinho no quarteirão em frente a um conjunto de 23 blocos de edifícios praticamente abandonados por causa do afundamento.

Ele chegou a se cadastrar no aluguel social do governo federal, como fizeram seus amigos, mas desistiu porque o valor oferecido (R$ 1 mil) não pagaria nem metade da casa que encontrou. “Teria de encontrar um imóvel equivalente ao meu, que pudesse acomodar meus animais”, diz ele, que tem três cães e dois gatos. 

Araújo fez dos cães seus companheiros de andanças no bairro, que hoje registra mais assaltos e arrombamentos depois que dezenas de moradores deixaram o local. “Não dá mais para andar sozinho em determinadas horas. Os cães pelo menos dão certa segurança.”

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Família recebe dinheiro emergencial, mas tem dificuldade para alugar imóvel

Segundo o ministério, até o momento a Defesa Civil Nacional repassou R$ 35,6 milhões para a concessão de aluguel emergencial às famílias. O aposentado Jairon Pinheiro, de 65 anos, saiu da casa onde morava em maio no Pinheiro e está recebendo o aluguel, mas não conseguiu um imóvel com o valor. “Deixei um apartamento e uma casa de primeiro andar. Foi bastante difícil alugar um apartamento. O preço subiu muito e só achava por mais de R$ 1 mil. Consegui alugar por R$ 1,3 mil.”

Em uma das áreas com recomendação para realocação por causa de “processos erosivos e patologias estruturais em edificações”, há um hospital filantrópico, que é referência para hemodiálise e realiza 10 mil atendimentos por mês, além de cinco escolas estaduais. A Secretaria de Estado da Educação informou não ter recebido nenhuma nova notificação de interdição de unidades. 

Outra zona, que tem até áreas alagadas, abriga dois hospitais psiquiátricos com 298 pacientes e uma creche que atende 221 alunos. Os prédios devem ser evacuados. Uma escola estadual da região já foi interditada. A subestação de energia elétrica do Pinheiro, que abastece um terço da cidade, está na zona de monitoramento. E a linha de trem urbano está dentro da área de risco. Em nota, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) informou que não foram observados afundamentos ou alterações nas estações Bebedouro, Mutange e Bom Parto do Veículo Leve sob Trilhos (VLT), que transportam 2 mil por dia. 

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Apontada por um estudo do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) como principal responsável pelo afundamento nos bairros, a Braskem vai iniciar na segunda uma ação de cadastro para pagar indenizações e realocar 1,5 mil pessoas de áreas no entorno de 15 poços de extração de sal-gema. A remoção de moradores de 400 imóveis e a criação de uma zona de resguardo na região tinham sido anunciadas no fim de novembro, pouco depois de a empresa informar à Agência Nacional de Mineração o encerramento das atividades de extração de sal-gema e fechamento dos poços.

Não é possível estabelecer elo entre problema e ação da empresa, diz Braskem

Segundo a petroquímica, ainda não é possível estabelecer a relação entre o fenômeno e a atividade realizada pela empresa. Na segunda, a Braskem iniciou um estudo com sonar para avaliar o fundo da Lagoa Mundaú. Serão monitorados 30 pontos. À margem da lagoa, estão regiões que integram a zona de alagamento. E há ainda pontos que podem ter desmoronamento.

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