Mãe acusada erroneamente de drogar filha é libertada

Mulher ficou 37 dias presa, apanhou de presidiárias e perdeu parte da visão

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Depois de 37 dias presa, a dona de casa Daniele Toledo do Prado, de 21 anos, foi libertada nesta terça-feira, 5, da penitenciária feminina de Tremembé, no Vale do Paraíba. Detida em flagrante no dia último dia 29 de outubro, sob a acusação de ter matado a própria filha com cocaína na mamadeira, em Taubaté, Daniele foi solta depois que a Justiça concedeu sua liberdade provisória. O juiz da Vara do Júri da Comarca de Taubaté, Marco Antonio Montemor, baseou sua decisão, embora que provisória, no laudo definitivo do Instituto de Criminalística do Estado de São Paulo, que detectou ausência de cocaína nos exames das substâncias colhidas na boca da criança e na mamadeira. "Minha cliente vai se apresentar em cinco dias no fórum de Taubaté, onde assinará um termo de responsabilidade, se comprometendo a comparecer em todas as audiências", informou a advogada de Daniele, Gladiwa de Almeida Ribeiro. A decisão do juiz Montemor foi contrária à do promotor de Justiça João Carlos Maia, que negou o hábeas-corpus na tarde desta terça, informando que ainda não havia o resultado das vísceras, da urina e do sangue da criança. O laudo definitivo do Instituto de Criminalística de São Paulo detectou ausência de cocaína na mamadeira tomada por Victória Maria do Prado Iori Carvalho, de 1 ano e 3 meses, antes de morrer. A criança havia sido internada, na noite de 28 de outubro, no Pronto Socorro Municipal, passando muito mal, com pressão e pulsação baixa e sonolência. Victória morreu 14 horas depois de internada, com um quadro de convulsões e três paradas cardíacas. Os médicos do Pronto Socorro teriam levantado a hipótese de cocaína, que foi comprovada inicialmente em um teste usado normalmente pela polícia, chamado Blue Teste. Embora os exames das vísceras ainda não estejam prontos, com a prova definitiva sobre a ausência de cocaína na mamadeira e na língua da criança, a advogada vai protocolar, no Tribunal de Justiça em São Paulo, o pedido para o arquivamento do processo. "Com o laudo, cai por terra a acusação de homicídio duplamente qualificado. Não há mais acusações contra Daniele", disse Ribeiro. Liberdade Às 17h30 desta terça, Daniele saiu pela porta da frente da penitenciária, bastante abatida e com o olho e ouvido direitos ainda inchados, por causa do espancamento na cadeia de Pindamonhangaba, primeiro local onde foi colocada, após o flagrante. "Foi feito justiça. Deus estava do meu lado e essa graça tem o dedo da minha filha, que já está com Ele." Emocionada, abraçou a avó Luzia e o pai José Benedito do Prado. Pelo menos dez pessoas da família se abraçaram e Daniele parou por 5 minutos para falar com os jornalistas. "Sofri muito porque não pude velar minha filha. Perdi meu porto seguro, meu chiclete, e vou provar minha inocência." A jovem contou que ficou revoltada depois de ter sido espancada por 19 presas em uma cela da cadeia feminina de Pindamonhangaba. "O começo foi conturbado, mas aqui fui bem tratada", disse referindo-se à penitenciária de Tremembé. Daniele ficou uma semana internada, teve perfuração no tímpano direito por causa de uma caneta enfiada, e ainda tem seqüelas no olho e ouvido. Questionada sobre a causa da morte da filha, ela disse que a criança demorou para ser atendida no Pronto Socorro Municipal de Taubaté. "Houve demora no atendimento e não sei se deram muito remédio pra ela. Também quero saber porque minha filha morreu." O primeiro desejo de Daniele assim que saísse da prisão era visitar o túmulo da filha, no cemitério de Tremembé. Cerca de 10 minutos antes do cemitério fechar, ela foi ao túmulo, se agachou com um vaso de flores na mão e chorou. "Muita saudade, não da pra acreditar." Na saída do cemitério, disse que quer recuperar a saúde para continuar cuidando do filho mais velho, de 3 anos e fez mais um desabafo. "Fui escrachada, considerada doente, mas eu, Deus e minha família sabiam da minha inocência." Investigações Apesar da divulgação do laudo definitivo do IC, a polícia civil ainda aguarda o resultado dos exames das vísceras, da urina e do sangue da menina Vitória para encerrar o inquérito e descobrir o que provocou a morte da criança. O laudo, segundo a polícia, deve demorar mais 15 dias, mas segundo a advogada, já estaria pronto. "Temos informações extra oficiais de que o laudo está pronto, deu negativo também, mas não foi suficiente para detectar a causa da morte". A menina Victória esteve internada no Hospital Universitário de Taubaté por duas vezes e em uma delas chegou a ficar cerca de 20 dias. Passou, segundo os familiares, por muitos exames, apresentava convulsões, mas nunca se descobriu o que ela tinha. Estupro A dona de casa Daniele fazia companhia para a filha no hospital quando, segundo ela, foi vítima de um estupro nas dependências do Pronto Atendimento. Por volta das 23h30 do dia 9 de outubro ela saiu do quarto para tomar água quando foi atacada por um homem, que, segundo ela, era estudante do quinto ano de Medicina da universidade. "Mantenho a acusação do estupro", disse Daniele, quando saía da penitenciária. Ela passou por exames de corpo de delito, que confirmou a violência sexual e ainda disse em depoimento à polícia, que o agressor prometeu se vingar dela e da filha, caso fosse delatado á polícia. Daniele reconheceu o estudante, que se dispôs a fazer exame de DNA. Segundo o delegado seccional Roberto Martins de Barros o laudo deu negativo por ausência de material no órgão genital de Daniele. "O estupro houve, ficou comprovado em exame feito pelos peritos do IML, mas não tem material para fazer o confronto com o exame de sangue do estudante apontado como autor pela vítima." O estuprador teria usado preservativo e por este motivo não havia material na vítima. "Mesmo assim as investigações sobre o estupro continuam e vamos voltar a ouvir as partes envolvidas."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.