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Mãe briga e reprova o filho em escola pública

Por Agencia Estado
Atualização:

Depois de muita briga e insistência, a recepcionista Maria Cristina de Queiroz conseguiu, enfim, reprovar o filho Diego Francisco de Queiroz Oliveira, de 13 anos, na Escola Pública Municipal Abimael Carlos de Campos, em Votorantim, a 108 quilômetros de São Paulo. O estudante havia passado para a quinta-série do primeiro grau sem saber ler e escrever. Inconformada, a mãe foi à justiça para que o filho refizesse a série anterior. "Fiquei envergonhada quando ele foi tirar a cédula de identidade e teve que botar o dedão na tinta, pois não conseguia escrever o nome", justificou a mãe. Maria Cristina foi à escola, discutiu com os professores, procurou a imprensa e o Ministério Público. Isso bastou para que ela e a escola ficassem sabendo que o menino tinha dislexia, uma disfunção cerebral que impede a leitura de frases, palavras ou sílabas. Depois de cinco anos de estudos, Diego continua analfabeto. Desde a primeira série, a recepcionista notava que o filho tinha dificuldade para aprender. "Estive várias vezes na escola, mas sempre diziam que ele se recuperaria." Diego foi sendo aprovado, mas não apresentava evolução. "Eu achava que ele tinha de ficar de ano, mas os professores diziam que a lei não permitia a reprova." Em 2000, já na quarta-série, sem ter conseguido fazer uma única prova ao longo do ano letivo, Diego foi reprovado. "Achei, então, que ele ia ter uma atenção especial." No ano passado, ele continuou mal na escola, mas foi aprovado. No reinício do ano letivo, este mês, a mãe soube que o filho iniciara as aulas na quinta-série e se rebelou. "Se eu tivesse condições, punha em uma escola particular." Segundo a direção da escola, a lei federal 9394 não permite que um aluno seja reprovado nas três primeiras séries do ensino fundamental, a não ser por abandono ou excesso de faltas. "Também por causa da progressão continuada, não poderíamos retê-lo mais de um ano na quarta-série", explicou a diretora Siliane Manzano Rolim Nunes. "Não sabíamos que ele tinha dislexia." O caso foi levado à secretaria municipal de ensino, que encaminhou o menino a um especialista, onde foi constatada a disfunção. Na última terça-feira, a Diretoria Regional de Ensino da Secretaria de Estado da Educação deu parecer favorável à permanência na quarta-série, desde que o aluno receba um tratamento diferenciado, visando recuperar todo o ciclo. "Estamos providenciando o tratamento especial", disse a diretora. Segundo ela, a Secretaria vai abrir uma classe específica para a recuperação de alunos de toda a rede que também saíram da primeira série sem saber escrever. "Há outros 15 ou 20 casos". O neurologista Samuel Simis, que analisou o caso do estudante, disse que a dislexia não afeta a inteligência da criança. "Ela apenas não consegue decodificar palavras ou sílabas durante a leitura." Segundo ele, na escola a criança deve ouvir ao invés de ler. "A aula deve ser dada com recursos auditivos." O tratamento fonoaudiológico ajuda a criança a vencer a dislexia e levar uma vida normal . "Há pessoas famosas afetadas por essa disfunção, como o presidente Bush, dos Estados Unidos."

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