Mulher ‘veste’ filho de escravo e causa revolta nas redes sociais

Fantasia usada em festa de Dia das Bruxas de colégio particular em Natal repercutiu nas redes; MP abriu procedimento

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Foto do author Julia Affonso
Foto do author Renato Vasconcelos

NATAL E SÃO PAULO - O Ministério Público Federal no Rio Grande do Norte e a Promotoria de Justiça de Defesa da Criança e do Adolescente do Ministério Público do Estado abriram procedimentos para investigar o caso de uma criança que foi “fantasiada” de escrava pela mãe para uma festa de Dia das Bruxas de uma escola particular de Natal

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As imagens foram publicadas no domingo, 29, pela mãe da criança, a jornalista Sabrina Flor. Nas fotos, o menino aparece usando maquiagem para simular cicatrizes e ferimentos no corpo. Vestida apenas com túnicas brancas e uma faixa na cabeça, a criança também usa imitações de correntes e grilhões, instrumentos aplicados em tortura e aprisionamento de escravos. 

“Quando seu filho absorve o personagem! Vamos abrasileirar esse negócio! #Escravo”, publicou a mãe no Instagram. A publicação revoltou internautas, que em seus comentários apontaram racismo e preconceito. O cantor Marcelo D2 republicou as imagens e entrou na discussão. “Quando você pensa que já viu de tudo na vida”, escreveu o cantor.

Depois da repercussão da publicação do cantor, a mãe voltou a se manifestar. “Não leiam livros de história do Brasil. Eles dizem que existiu escravidão de negros no País, mas isso é mentira. Não discuta com essa afirmação, pois você estará sendo racista, a pior pessoa, um lixo.”

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Depois, ela pediu desculpas, fechou sua conta no Instagram e apagou as publicações. “Queria somente pedir desculpas pelo fato! Jamais foi minha intenção ofender alguém, estou extremamente arrependida por tudo o que aconteceu e me sentindo muito mal com xingamentos e ameaças horríveis que estão me mandando”, escreveu. 

O Colégio CEI, onde a criança estuda, lamentou a escolha da fantasia. “O Colégio CEI não incentiva nem compactua com qualquer tipo de expressão de racismo ou preconceito.” 

O professor de História da África da PUC-SP, Amailton Magno de Azevedo, avaliou como desnecessária a postura da mãe em fantasiar o filho de escravo.  Segundo Azevedo, é uma abordagem ultrapassada, falida e deslocada e que faz reavivar uma mentalidade escravocrata.  "O passado histórico ainda persiste no imaginário brasileiro. Temos que combater este tipo de postura, mirar na pluralidade e ter outra narrativa. O negro tem que ser inserido na sociedade de maneira mais digna", disse Azevedo.

A publicação revoltou internautas, que em seus comentários apontaram racismo e preconceito Foto: Instagram

Investigação

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Segundo o MPF, o órgão recebeu diversas denúncias contra a publicação de Sabrina. “As informações serão avaliadas para que se decida pela instauração, ou não, de um inquérito”, informou, em nota. 

Coordenador do Núcleo de Combate à Corrupção e outro Ilícitos do MPF no Estado, o procurador Fernando Rocha criticou a publicação. “Sim, a escravidão existiu, não acabou e a sociedade brasileira não pode conviver com a banalização do mal como expressão dominante de uma ideia”, disse. 

Sabrina foi procurada pelo Estado, mas não respondeu às tentativas de contato.