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Mães influencers compartilham experiências: de gravidez saudável a educação antirracista

Em geral, elas começam publicando textos ou vídeos nas redes de forma despretensiosa e são surpreendidas pela repercussão; dicas incluem ainda sobrecarga e saúde mental das mulheres

Por Isabela Moya
Atualização:

As “mães influencers” ganham cada vez mais espaço nas redes sociais e atraem famílias interessadas em informações sobre como educar os filhos. Os temas relacionados à maternidade são variados – de gravidez, relato de parto e amamentação, passando por educação e saúde infantojuvenil, e até mesmo autoestima e sobrecarga das mães.

Em geral, elas começam publicando textos ou vídeos, despretensiosamente, sobre suas sensações em relação à maternidade. Aos poucos, os conteúdos ganham repercussão e elas percebem que outras mães passam por experiências parecidas. Foi assim que Thaís Vilarinho, de 43 anos, começou a falar sobre maternidade em 2014, “quando o Instagram era mato”, brinca a fonoaudióloga e escritora. “Na época, não se falava muito das dores de ser mãe. Eu tinha medo de me acharem doida, infeliz. Mas, para minha surpresa, comecei a ter cada vez mais leitores que se identificavam com os meus textos”, conta.

Thaís Vilarinho, 43 anos, com os filhos Matheus Vilarinho Peres, 14 anos, e Thomás Vilarinho Peres, 11 Foto: DANIEL TEIXEIRA/ ESTADÃO

Ela explica que seu trabalho é mais focado no compartilhamento de textos e crônicas sobre os momentos que está vivendo com a família. “Gosto muito de escrever sobre a saúde mental da mãe. Quando a mulher nasce como mãe, ela fica praticamente invisível. Para além da mãe, ela é uma mulher, tem uma identidade”, afirma Thaís. Mãe de Thomás, de 11 anos, e Matheus, de 14, ela tem como um dos focos atuais a adolescência. Com o sucesso de seus textos na internet, Thaís lançou seis livros. Um deles – Mãe fora da caixa, nome que batiza também seu perfil no Instagram – se tornou, inclusive, uma peça de teatro.

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Victória Xavier, de 30 anos, começou a compartilhar mais sobre a sua vida nas redes há dois anos, quando o filho tinha 45 dias. No auge da pandemia e durante o puerpério (primeiras semanas após o parto), a “mãe recém-nascida” se sentia isolada por estar longe da família. “Cada fase do bebê traz desafios diferentes e gosto de falar justamente deles”, explica. Dicas de produtos para bebês, brinquedos e a experiência de introdução alimentar de seu filho – Augusto, de 2 anos – também são assuntos constantes.

Adriana Arcebispo, de 43 anos, criou em 2016 o perfil “Família Quilombo” como um canal do YouTube, para dividir as experiências da família, e depois expandiu a produção para outras redes sociais. “As nossas experiências também são vividas por outras famílias, em algum aspecto, mas vivemos experiências únicas pautadas pela questão de sermos pretos e pretas em uma sociedade racista”, relata a assistente social, escritora e produtora de conteúdo. “Nosso primeiro vídeo foi para falar sobre a ausência de pessoas parecidas com o meu filho no material didático dele”, relembra a mãe de Akins, de 10 anos, e Dandara, de 6.

Adriana Arcebispo com os filhos Akins e Dandara Foto: FOTO TABA BENEDICTO/ESTADAO

A mãe conta que gosta de mostrar conteúdos da rotina da família, que os humanizam, mas também aborda questões sobre ensino antirracista. “Gosto de mostrar a gente passeando, viajando, comendo, cuidando do cabelo, o cinema e o churrasco que fazemos em casa, mas isso está longe de ser o que mais engaja. O conteúdo que mais engaja é aquele que fala sobre sofrimento, dor e racismo, e que expõe muito a minha vulnerabilidade”, diz, reforçando que isso acontece devido ao racismo.

Gisielly Viana, de 29 anos, passou a produzir conteúdo online há quatro anos, porque as pessoas ficavam admiradas com seu filho mais velho, na época com dois anos, que tinha uma alimentação saudável. “Comecei a compartilhar a introdução alimentar dele e outras experiências como mãe. Isso teve uma repercussão muito grande”, conta a pedagoga e enfermeira.

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Hoje, o foco do seu conteúdo é educação respeitosa. “Ensino as mães a educarem seus filhos sem castigo, sem bater, sem punir, mas com autoridade, impondo limites sem desrespeitar a criança, porque ela é um ser humano e merece respeito.” explica a mãe de três - Gabriel, 6 anos, Melissa, 2 anos, e Laís, 9 meses. “Não é nem autoritarismo, nem educação permissiva, é uma alternativa, o caminho do meio”, completa.

Para ela, ver o impacto do seu trabalho em outras famílias faz valer todo o esforço. “Além do cansaço mental de produzir conteúdo o tempo inteiro, a exposição cansa demais. O anonimato é mais fácil. Se você erra, ninguém fica sabendo. Sou ser humano, lógico que também vou falhar, e na internet, as pessoas não perdoam e não toleram nenhum tipo de erro, já te cancelam”, diz a influencer, que conta que já pensou em desistir. “Mas aí recebo mensagens dizendo: ‘meu relacionamento com meu filho mudou depois que segui suas sugestões’. Meu coração se enche de alegria.”

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Ilana Katz, psicanalista e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), explica que as iniciativas das mães influenciadoras são bem-vindas. “Elas oferecem diversas perspectivas de existir e propõem um reconhecimento do saber que se constrói na experiência do cotidiano das famílias, avançando contra uma ideia de universalização de uma determinada forma de paternidade e de ser criança”, afirma. Sandra Dedeschi, psicopedagoga autora do Programa Semente, metodologia especializada em aprendizagem socioemocional, concorda e pontua que é preciso diferenciar as falas nesse contexto, que partem de uma perspectiva da experiência, das falas de profissionais da educação infantil, que têm um caráter científico. Segundo ela, é interessante que as mães se preocupem em compartilhar dicas. “A gente sabe que não é fácil educar os filhos. Falar sobre autoconhecimento e compartilhar as angústias pode ser acolhedor”, acrescenta. 

Dedeschi alerta, por outro lado, para os cuidados tanto para quem produz conteúdo, quanto para quem o consome. “É preciso estar atento quanto a uma preocupação excessiva com a imagem, número de curtidas e repercussão, por exemplo, para não passar isso para as crianças como valores, porque poderia prejudicar a autoestima delas”, explica.

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