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Mães reconhecem acusado de ordenar seqüestros em Vigário Geral

Por Agencia Estado
Atualização:

Um mês depois do seqüestro de oito jovens na favela de Vigário Geral, na zona norte do Rio, o traficante foi preso na vizinha Parada de Lucas. "Perdi", disse o homem apontado como chefe do tráfico de drogas de Lucas e acusado de ter ordenado o seqüestro e provável morte dos rapazes, ao ser surpreendido por policiais civis da delegacia do Tanque (41ºDP), na casa que ocupava na favela. Apesar de negar ser traficante, Furica foi reconhecido por três mães, uma irmã e uma namorada das vítimas. Segundo elas, Furica era um dos homens que entraram nas casas com fardas da Polícia Militar e levou os jovens. O paradeiro deles ainda é desconhecido. Levadas para a delegacia para reconhecer o bandido, algumas mães choraram e chegaram a passar mal quando viram Furica. "Foi ele que bateu no portão dizendo que era policial e eu abri. Ele entrou, revirou minha casa e levou meu filho dizendo que ia levar para o postinho (posto policial local) para averiguar. Até hoje estou esperando a volta do meu filho", disse a mãe de um rapaz de 16 anos que pediu para não se identificar. "Ele estava com o boné bem puxado para o rosto, mas hoje, cara a cara com esse Furica, eu reconheci até o jeito dele. Quando ele se pôs de pé na sala, era o mesmo homem que eu vi na minha casa levando o meu filho", disse, chorando. Uma das mulheres chegou a discutir com o advogado de Furica. Alguns parentes protestaram pedindo Justiça na porta da delegacia, a maioria escondendo o rosto com medo de represálias. Na madrugada do dia 13 de janeiro, depois que policiais militares fizeram uma operação com um veículo blindado em Vigário Geral, traficantes de Lucas aproveitaram-se da fragilidade dos bandidos locais e invadiram a comunidade para levar os oito jovens, que seriam desafetos deles na guerra do tráfico, que dura quase duas décadas. Guiados por um menor de 17 anos, o único participante detido até agora, e fardados como PMs, eles contaram com a ajuda de policiais militares do posto policial que fica na divisa das duas favelas. Para o sub-chefe de Polícia Civil, José Renato Torres, a prisão de Furica aproxima a polícia do paradeiro dos jovens. "A polícia está toda envolvida em elucidar esse caso. Com certeza, esse inquérito vai terminar, assim como foi esclarecido o caso do ônibus 350. Nesse momento, demos um passo largo na investigação, identificação e prisão de toda a quadrilha de Lucas". A equipe de 15 policiais, comandada pela delegada Adriana Belém, monitorava ligações telefônicas do bandido há três meses. Depois de uma tentativa frustrada de prendê-lo, há cerca de um mês, os agentes fizeram um levantamento de informações sobre o local em que Furica se escondia, inclusive com fotos aéreas. Com base nesse trabalho e com a ajuda de um helicóptero, os policiais ocuparam as principais rotas de fuga dele por volta de 3h30 de hoje. Pouco antes das 4h, eles surpreenderam o bandido quando ele saía de casa e o prenderam sem disparar um único tiro. Furica estava desarmado e não reagiu. "Ele pedia a todo momento que o tirássemos logo dali porque poderia haver reação. Ele tinha medo até de ser morto por outros traficantes. Por isso, para preservar a comunidade, retiramos rapidamente. No entanto, ele nega tudo. Só assume que foi bandido, mas que deixou de ser depois que a mãe foi morta", disse a delegada. Segundo ela, além de ter comandado o seqüestro, Furica deu ordem para atirar e inviabilizar o protesto de mães na fronteira entre Vigário e Lucas na semana passada. "Outras quatro pessoas da quadrilha de Furica já foram identificadas e são o nosso próximo alvo", declarou Adriana Belém. Com a prisão de Furica, a polícia descobriu que ele usava documentos falsos com o nome de Jorge Williams de Oliveira Bento, que constava em um dos inquéritos sobre ele na delegacia de Braz de Pina (38º DP). Por isso, acredita a delegada, o preso negou ser Furica. Diante da imprensa, ele disse ser padeiro e que saía para trabalhar. "Vocês estão cometendo uma injustiça. Meu nome é Cauã". Para a delegada, não há dúvidas. "Todos eles sempre negam. Ele diz isso porque ninguém tinha o nome dele. Nós tínhamos, mas como estávamos fazendo um serviço de inteligência não podíamos divulgar", disse Adriana. Descrito, principalmente pelos moradores de Vigário, como um bandido violento, o temido Furica nunca tinha sido preso pela polícia. Nascido em Recife, veio para o Rio ainda criança e viveu com a família em Vigário Geral. Mudando-se para Lucas, tornou-se o sucessor de Robertinho de Lucas no comando do tráfico de drogas na favela. Furica é suspeito de ter mandado matar Robertinho, a quem responsabiliza pelo assassinato da mãe. Para a delegada, tudo indica que ela também era envolvida com o tráfico de drogas local.

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