Maestro que voltou a ver e cura de hemorragia pós-parto: os milagres de Irmã Dulce

Santa Dulce dos Pobres será canonizada, no próximo domingo, 13, graças a milagres concedidos a uma grávida e um cego

PUBLICIDADE

Por Renata Farias
Atualização:

SALVADOR - Em comum, a fé na santa e a incredulidade dos médicos. A religiosa baiana Maria Rita Lopes Pontes, mais conhecida como Irmã Dulce, será elevada aos altares, ou seja, canonizada, no próximo domingo, 13, graças a milagres concedidos a uma grávida e a um cego. Será a primeira santa católica nascida no Brasil.

Moreira recuperou a visão: 'Em noite de muita dor, peguei uma imagem de Irmã Dulce e coloquei sobre os olhos' Foto: Sara Gomes/ARQUIDIOCESE DE SALVADOR

PUBLICIDADE

Necessário para a canonização, o segundo milagre reconhecido pelo Vaticano foi a cura instantânea da cegueira do maestro José Maurício Moreira, hoje com 51 anos, que convivia com a cegueira havia 14 quando ocorreu o que era considerado impossível.

“Descobri que tinha glaucoma em 1992, com 23 anos. Tratei essa doença durante quase dez anos, mas não foi o suficiente porque, quando descobri, já tinha perdido muito do nervo óptico”, conta Moreira.

Apesar de passar por alguns tratamentos, em 2000 estava completamente cego.

Foi em 2014, ao contrair conjuntivite com sintomas intensos, que o maestro fez um pedido a Irmã Dulce e recebeu muito mais do que esperava.

“Em uma noite de muita dor e sofrimento, peguei uma imagem de Irmã Dulce, coloquei sobre os olhos e, com toda a fé que sempre tive, pedi que ela curasse minha conjuntivite. Não pedi para voltar a enxergar, os médicos já tinham dito que eu praticamente não tinha mais nervo óptico.” 

Algumas horas depois, foi capaz de ver as próprias mãos, e a “nuvem de fumaça” que bloqueava seus olhos começou a se dissipar gradativamente. Houve ainda uma segunda surpresa, após a alegria de recobrar a visão. Ao se consultar com o médico que já cuidava da conjuntivite, o maestro foi informado de que nada havia mudado fisicamente. 

Publicidade

Conforme exames clínicos, ele continuava cego, já que o nervo óptico estava muito danificado.

“Irmã Dulce era assim: se alguém pedisse a ela para subir dois degraus, ela já colocava a pessoa lá em cima na escada. Ela não fazia o bem pela metade, ia até o final”, acrescenta.

A imagem da freira usada naquele momento pertencia anteriormente à mãe. Moreira cresceu assistindo às contribuições de sua família às ações de Irmã Dulce e chegou a conhecê-la. 

Irmã Dulce vai virar santa Foto: Acervo do Estadão

Sangramento parou após médicos esgotarem alternativas

PUBLICIDADE

Já o primeiro milagre atribuído à Irmã Dulce, que levou à beatificação (estágio anterior à canonização) em 22 de maio de 2011, agraciou uma mulher que não a conhecia antes do episódio. Claudia Santos, hoje com 50 anos, recuperou-se de uma grave hemorragia pós-parto, cujo sangramento foi subitamente interrompido.

Moradora de Malhador, no interior de Sergipe, deu à luz o segundo filho em 2001. Após o parto normal, ela apresentou hemorragia incontrolável, que a levou à unidade de terapia intensiva (UTI). Os médicos realizaram todos os procedimentos possíveis, mas já havia poucas esperanças de salvar a vida da paciente.

“Chegou um momento em que o médico falou para minha família que não tinha mais o que fazer, só aguardar o falecimento."

Publicidade

A paciente foi então transferida para Aracaju, onde recebeu a visita de um religioso de sua cidade.

“Padre Almir foi me visitar e levou uma santinha, Irmã Dulce. Ele rezou e me entregou a santinha. Depois disso, foi cada dia uma melhora”, acrescenta Claudia.

Segundo ela, nem o médico que realizou o parto acreditou quando a viu chegar ao hospital para uma revisão. Hoje, Claudia é devota de Irmã Dulce e agradece sua vida à intercessão naquele momento.

Papa João Paulo II se encontra com Irmã Dulce, em Salvador Foto: Acervo do Estadão

Iniciado em janeiro de 2000, o processo de canonização da Santa Dulce dos Pobres foi o terceiro mais rápido da história contemporânea da Igreja Católica, atrás de João Paulo II (nove anos após sua morte) e Madre Tereza de Calcutá (19 anos depois).

“Foi um dos processos mais rápidos da atualidade”, comenta o Frei Giovanni Messias, reitor do Santuário de Irmã Dulce.

Ele explica que, “para acontecer tanto o processo de beatificação quanto de canonização, é preciso uma análise minuciosa da vida do candidato, até mesmo para comprovar as virtudes de santidade, fé, caridade, amor, esperança”. Para finalizar o processo de canonização, excluindo o caso de mártires, cobra-se a comprovação de dois milagres. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.