Mãezonas, as baianas esbanjam disposição

Com câncer, sambista da X-9 não abre mão: sairá em carro, de baiana

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Por Fernanda Aranda
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Nos versos da canção de Dorival Caymmi, a pergunta foi imortalizada: "O que é que a baiana tem?". Paulistanas do samba, boas da cabeça e saudáveis dos pés, respondem. "Temos força de vontade e garra de sobra para encarar a avenida", diz Berenice de Souza Pereira, de 56 anos, que não faltou a nenhum ensaio da Império de Casa Verde. Ela é uma das muitas senhoras que rodopiam pelo Anhembi, vestindo fantasias pesadas, com graça. A ala das baianas é uma das mais tradicionais, composta quase sempre pela velha guarda feminina. Nos desfiles de São Paulo, além de marcarem presença entre uma coreografia e outra, elas carregam histórias de amor e dedicação pelas comunidades. Foi na quadra da X-9 Paulistana que a "baiana" Adélia do Amparo Cid Simões, de 60 anos, encontrou "uma paixão para a vida toda". Ela fez do samba um remédio e desfila há 18 anos, quase o mesmo período em que descobriu um câncer na mama. "Não tem doença que me faça perder o samba. O tumor reapareceu no ano passado e, de lá para cá, já fiz mais de 60 sessões de quimioterapia." Este ano, a opção foi desfilar em carro alegórico, "mas de baiana". Sandra Aparecida Silva, de 52 anos, também transformou o samba em terapia. Após a viuvez, decidiu conhecer a quadra da Mocidade Alegre. "Já faz 15 anos, e nunca mais saí. Sempre desfilei como baiana e quero morrer assim." Apesar da experiência, ela sente a ansiedade: "Quando piso no Sambódromo, meu coração dispara. Meus olhos enchem de água, e as mãos formigam. Depois eu transformo tudo em garra e me jogo no samba." Sandra segue um exemplo. Pertinho dela, aos 94 anos, dona Hortência da Mocidade, como é conhecida, não perde um desfile. "Ela é minha musa", diz Sandra. A baiana Berenice da Império diz que todas as mulheres que ocupam o posto são as "mãezonas" das escolas e ajudam no preparo das fantasias.

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