Máfia das carteiras destruiu provas

Empresário aparece em escutas mandando ?limpar tudo? no escritório; STF mandou libertar 17 do esquema

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Por Bruno Tavares e Valéria França
Atualização:

O empresário José Antônio Gregório da Silva, apontado pelo Ministério Público Estadual (MPE) como um dos chefes da máfia das carteiras de habilitação (CNHs), ordenou a destruição de informações que supostamente o incriminavam. Escutas telefônicas feitas com autorização da Justiça mostram que, minutos depois de ser informado sobre a Operação Carta Branca, no começo de junho, Silva pediu a um homem identificado como Teixeirinha para ir até seu escritório e "limpar tudo". O empresário e outros 16 acusados de participação no esquema de venda e falsificação de CNHs foram soltos por decisão do ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), após passarem 43 dias na prisão. A primeira chamada de Silva para Teixeirinha ocorreu às 5h32 do dia 3 de junho, data em que promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) de Guarulhos e homens da Polícia Rodoviária Federal desencadearam a operação. "Seguinte, presta atenção! Tem polícia em casa, tá", adverte o empresário, acusado de ser o responsável pelo derrame de CNHs fraudadas em diversos Estados. "Tem um mandado de busca lá na minha casa, tá, tem de avisar as meninas pra não ir pro escritório e nós precisávamos dar um jeito de limpar aquilo lá cara, não sei como é que eu vou fazer." Apesar do nervosismo, é Silva quem encontra uma solução para o problema. Ele telefona para uma mulher identificada como Carol, possivelmente uma secretária, e diz que é preciso "limpar lá". Pouco mais de uma hora depois do primeiro telefonema, às 6h57, o empresário recebe uma ligação de Teixeirinha. "Deu (certo), nós estamos aqui dentro (do escritório)." As últimas orientações de Silva são: "Então vai, arrepia cara, arrepia! Leva com fio, leva com tudo! Mas corre, corre!" Ao que tudo indica, o empresário teve sucesso ao tentar eliminar provas. Durante a varredura feita em seu escritório, promotores e policiais não conseguiram apreender nenhum computador. As pessoas citadas nas conversas - Teixeirinha e Carol - ainda não haviam sido identificadas e, segundo os promotores, a tarefa será mais difícil a partir de agora. "Essa investigação está fadada ao insucesso", lamentou o promotor Marcelo Oliveira, do Gaeco de Guarulhos. "Com o bandido solto, fica mais fácil postergar o processo." Segundo ele, cada réu tem agora o direito de apontar até oito testemunhas de defesa para cada fato criminoso. "Só que alguns dos denunciados respondem a mais de mil falsificações. Ou seja, em tese, podem chamar mais de 8 mil testemunhas." Ao analisar o habeas corpus, o presidente do Supremo argumentou que "a prisão preventiva foi decretada de forma genérica para todos os denunciados, apresentando os mesmos fundamentos para justificar a custódia cautelar (prisão temporária)". O ministro é o mesmo que, na semana passada, concedeu liberdade ao banqueiro Daniel Dantas, um dos 17 presos pela Operação Satiagraha, da Polícia Federal (PF). Defensor do empresário, o advogado Alberto Zacharias Toron disse que não havia justa causa para mantê-lo preso. "Meu pedido baseou-se no princípio de proporcionalidade da decisão em relação à pena máxima que ele pegaria caso fosse condenado por formação de quadrilha." Toron disse desconhecer o conteúdo dos grampos do Gaeco. A Secretaria da Segurança Pública disse que não poderia se pronunciar, pois as investigações correm em segredo de Justiça.

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