
28 de maio de 2010 | 00h00
Outro sintoma do poder figurativo do vice, que não dispõe de uma caneta capaz de "escrever" o Diário Oficial, é dado pela crônica dos loteamentos de cargos na Esplanada e estatais. Registra-se, com frequência, o protagonismo de senadores-padrinhos, ministros-padrinhos, governadores-padrinhos... Raros, são, no entanto, os reconhecidos como indicados do vice-presidente.
Política, mesmo a boa política, não se faz sem lastro. É preciso comandar um naco do Estado ? nomeações, dotações orçamentárias, assinaturas de convênios e contratos ? para se ter influência e futuro eleitoral.
Para atrair o ex-governador mineiro para a chapa, Serra terá de tratar Aécio Neves como uma espécie de partido (ao lado do DEM, PPS e PTB), oferecendo-lhe status de "coligado", com direito a espalhar seu comando por parte da geografia da Esplanada. Sociedade nos louros da vitória, seguida de um período de recolhimento no "Anexo", interrompido pela missão constitucional de preencher a cadeira presidencial nas viagens ao exterior do titular, não é uma oferta sedutora.
Tanto que o PSDB, na corte a Aécio, fez chegar ao ex-governador, na linguagem sibilina das negociações de bastidor, a proposta que ele comandaria (diretamente ou mediante procurador nomeado) um ministério importante no governo Serra.
A oferta pode não ser o bastante para Aécio, que possui legítimas ambições de poder e apetite de PMDB. Nessa hipótese, fazer o sucessor em Minas, somado ao mandato de senador com habilidades negociadoras, traduz-se num fator real de poder maior do que um lugar no "Anexo".
É JORNALISTA DO "ESTADO"
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