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Mais dois ônibus são incendiados no Rio; número chega a 11

Mais de 80 agentes da Polícia Civil tiveram intensa troca de tiros com traficantes; segundo autoridades, a operação é em represália aos ataques da madrugada

Por Agencia Estado
Atualização:

Mais dois ônibus foram incendiados na tarde desta quinta-feira, 28, na seqüência da onda de ataques que aterrorizou o Rio desde a madrugada e deixaram 18 mortos, entre eles nove civis, dois policiais e sete bandidos, segundo balanço da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Um dos ônibus foi atacado na região metropolitana de Niterói e outro em Mesquita, na Baixada Fluminense. Não há informações de vítimas. Já chega a 11 o número de coletivos incendiados na capital. Os outros nove ônibus foram incendiados em bairros da zona oeste e zona norte. No pior ataque, contra um veículo da Viação Itapemirim, de acordo com testemunhas, dois criminosos entraram no coletivo, despejaram combustível, impediram os passageiros de sair e atearam fogo. O resultado foi sete mortos carbonizados e 12 feridos, num episódio chocante classificado pelo comandante da Polícia Militar do Rio de Janeiro, coronel Hudson de Aguiar, como "desumano" Em represália aos ataques cometidos no Rio, segundo a polícia, mais de 80 homens da Polícia Civil entraram no Complexo do Alemão, onde estão as favelas, no meio da tarde, com o pretexto de prender o traficante conhecido como Nica, que seria o chefe da facção Comando Vermelho na região, e um companheiro conhecido como Gerinho. Houve intenso tiroteio e, durante o confronto, no início da noite, os criminosos usaram granadas. Um policial e dois traficantes foram feridos. A ação foi chefiada pelo diretor do Departamento de Polícia Especializada, delegado Alan Turnowski, e com o apoio da Coordenadoria de Recursos Especiais, liderada pelo delegado Marcos Reimão. Os policiais bloquearam o acesso ao complexo a partir da Avenida Nossa Senhora da Glória, de onde atiram nos criminosos, enquanto uma equipe de agentes, abrigada no carro blindado conhecido como ´Caveirão´, tentavam entrar na favela. Segundo Reimão, a operação visa revidar os ataques cometidos desde a madrugada por bandidos, que supostamente obedeciam a ordens dadas a partir de presídios. Motivos dos ataques A Polícia Civil abriu inquérito para investigar o motivo dos ataques no Rio, embora ainda não haja consenso entre as principais autoridades de segurança da cidade, com hipóteses variando entre a subida de Sérgio Cabral (PMDB) ao governo do Estado, a retaliação contra organizações formadas por ex-policiais e reformas penitenciárias. Para o secretário de Segurança Pública, Roberto Precioso, os ataques foram motivados pela insatisfação dos presidiários com a troca de governo, com a saída de Rosinha Garotinho (PMDB) e a posse de Cabral, que deve acontecer no dia 1º de janeiro. Já o secretário de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, discordou de Precioso e afirmou que os atentados são resultado da união das facções criminosas contra o avanço das milícias - organizações formadas por ex-agentes da lei, acusadas de expulsar traficantes de favelas. Indagado se as ações teriam sido motivadas por uma represália às propostas de mudança na gestão de segurança, como aponta a Secretaria estadual de Segurança Pública, ou pela atuação de milícias em favelas, como afirmam panfletos distribuídos pelos bandidos, o chefe da Polícia Civil, Ricardo Hallack, disse que nenhuma hipótese será descartada na investigação. "Não sabemos qual é a causa dos ataques, não tem cabimento a autoridade policial achar nada", respondeu ele à perguntas de jornalistas sobre qual a hipótese mais provável de motivação dos bandidos. Segundo ele, a Polícia Civil e a Polícia Militar agiram para tentar impedir que os ataques realizados atingissem proporções maiores. "Mas ataques de kamikazes existem", disse referindo-se ao incêndio do ônibus da Viação Itapemirim que ia do Espírito Santo para São Paulo. O comandante-geral d PM também disse que não houve como impedir o ataque ao ônibus. "Tentamos fazer o possível e o impossível, mas não temos condições de onipresença ou onisciência, as notícias que tínhamos eram relacionadas (a ataques) a unidades militares ou civis", disse. Violência no Rio Durante a madrugada, foram registrados 12 ataques a delegacias, a postos da PM e a um supermercado em Itaboraí. Até as 14h30, foram confirmadas as mortes de nove civis, dois policiais e sete bandidos. Segundo o Corpo de Bombeiros, sete pessoas morreram em um atentado a um ônibus da Viação Itapemirim com destino a São Paulo, que foi incendiado quando passava pela Avenida Brasil, na capital fluminense. As ações violentas continuaram pela manhã. Um posto da PM e três ônibus foram incendiados em Bangu, na zona oeste do Rio. O policiamento foi reforçado na capital fluminense, que se prepara para receber turistas para a famosa festa de revéillon nas areias da praia de Copacabana. A inteligência da Polícia Federal havia alertado as autoridades de segurança do Rio, há dois dias, que facções criminosas preparavam uma onda de ataques violentos na cidade. A onda de ataques, conforme os dados levantados, começariam na quarta-feira e se destinavam a promover um grande banho de sangue às vésperas do ano-novo, no momento em que a cidade recebe milhares de turistas do mundo inteiro. Graças ao alerta, o secretário de Segurança do Rio, Roberto Precioso, mobilizou forte aparato policial e guarneceu os pontos sensíveis da cidade. "Era para ter sido muito pior", disse o diretor-geral da PF, delegado Paulo Lacerda, que se encontra no Rio para passar o Reveillon. Por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo federal colocou seus órgãos de segurança de prontidão, inclusive a PF, para ampliar a colaboração, mas o governo do Rio, por enquanto, dispensou a oferta. Precioso, que também é delegado federal, informou a Lacerda que as forças locais estão dando contra do enfrentamento aos criminosos e a situação está sob controle. Detenções O delegado Eduardo Freitas, da 22ª Delegacia de Polícia, informou na tarde desta quinta-feira a prisão de três suspeitos de incendiar o ônibus da Viação da Itapemirim durante a madrugada. São eles: Graciel Mauricio do Nascimento Campos, de 18 anos; Cleber de Carvalho Fonseca, de 23 anos, que tem passagem na polícia por tráfico de drogas - os dois estavam com documentos quando foram presos e, portanto, tiveram a identidade confirmada pelo delegado. O terceiro suspeito preso se identificou como Elzio Guilherme de Oliveira, de 23 anos. Todos são do bairro Nova Campina, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. De acordo com Freitas, sua equipe já sabe, inclusive, quem comprou o combustível utilizado no crime e quem foi responsável por atear fogo ao ônibus. A PM informou também que dois homens foram mortos na madrugada desta quinta-feira, quando tentaram atacar uma cabine da corporação. Os policiais de plantão reagiram e houve troca de tiros. Uma das vítimas foi identificada como Luiz Cláudio Veras, de 22 anos. Com eles, "foram apreendidas uma granada M-9, uma pistola calibre 40 com três munições intactas e uma motocicleta roubada". O secretário estadual de Segurança, Roberto Precioso, disse que, além dos suspeitos presos, outros sete foram mortos. "O resultado foi trágico", disse. "Se não fosse a ação da polícia, poderia ter sido pior". Conteúdo atualizado às 20h06

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