Mais duas mortes na guerra do PCC

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

A guerra entre a cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC) fez mais três vítimas nos últimos cinco dias. Duas mulheres e um homem ligados a César Augusto Roris da Silva, o Cesinha, um dos fundadores da facção, foram fuzilados. Só o homem sobreviveu. A Polícia Civil e o Ministério Público Estadual acreditam em vingança e atribuem os crimes ao racha existente dentro do "partido do crime". Os dois únicos fundadores do PCC presos no Estado de São Paulo - José Márcio Felício, o Geleião, e Cesinha - e suas respectivas mulheres estariam jurados de morte por uma outra ala da facção, que tem a intenção de tomar o poder e a liderança da organização criminosa, hoje com cerca de 15 mil associados nos presídios paulistas. O conflito entre os líderes da facção se acirrou no dia 20 de outubro, após a prisão de Petronília Maria de Carvalho Felício, a Petrô, mulher de Geleião. Ela foi presa e acusada de ser a porta-voz do marido para ordens de atentados contra órgãos públicos e contra PMs. Após a prisão, a polícia apreendeu 30 quilos de explosivos que seriam usados contra a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Os planos terroristas de Geleião contrariariam a posição de Cesinha e de Marcos William Herbas Camacho, o Marcola, outro chefão do PCC, nivelado na mesma posição hierárquica dos fundadores. Mas a matança de pessoas aliadas a Geleião e Cesinha foi decretada após a morte da advogada Ana Maria Olivatto Camacho, de 45 anos, ex-mulher de Marcola. Ana foi assassinada com dois tiros quando saía de sua casa, na periferia de Guarulhos. A polícia suspeita de que o homicídio da advogada tenha sido ordenado pela mulher de um dos líderes: Petrô ou Aurinete Carlos Félix da Silva, a Netinha, mulher de Cesinha. Na noite da última quarta-feira, morreu a segunda vítima do conflito. Erenita Galvão Guedes, de 43 anos, teve sua casa invadida por homens encapuzados, que estavam à caça de Netinha, sua amiga íntima. Erenita levou vários tiros na cabeça e morreu no Hospital Jabaquara. Interceptações telefônicas feitas pelo Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado (Deic) revelaram que as duas amigas tentaram suspender as ordens terroristas de Geleião e foram ameaçadas de morte pela mulher dele. A polícia suspeita, entretanto, que Erenita tenha sido executada por ordem de outra ala do PCC. A terceira vítima foi a assaltante de bancos Andrea Paredes Gomes Kalid, de 25 anos, fugitiva da Penitenciária Feminina de Porto Alegre (RS). A mulher, conhecida no Sul como Lili Carabina, também era ligada à mulher de Cesinha. Em São Paulo, ela se apresentava como Carol. À polícia, a criminosa foi identificada como Maria Carolina. O marido de Andrea, Jefferson Lima dos Santos Souza, de 31 anos, também levou dois tiros, mas sobreviveu. Há duas versões para a morte, ocorrida às 4h50 da última quinta-feira. A primeira, segundo a Secretaria de Segurança Pública, é a de que o casal foi vítima de uma tentativa de assalto, na Rua Sebastião Gonçalves da Silva. Andrea, que estava na direção do carro, foi morta com um tiro na cabeça. Souza, mesmo baleado na boca e na testa, conseguiu se arrastar até a Rua Zilda, onde localizou uma viatura da PM. O boletim de ocorrência não explica o fato de Souza não ter identificado a mulher, que estava sem documentos. Segundo a secretaria, após ser socorrido, Souza desmaiou. Os policiais o levaram ao Pronto-Socorro do Mandaqui, onde foi medicado e liberado. A segunda versão é a que o Jornal da Tarde apurou junto a policiais que investigam o crime organizado. Segundo eles, o casal foi abordado em sua residência. Os assassinos estariam à procura de Aurinete e teriam torturado Andrea para que ela delatasse o paradeiro da amiga ou a atraísse para uma emboscada. Ninguém soube dizer como a vítima foi parar na rua em que seu corpo foi localizado. Os assassinos teriam revirado a casa de Andrea e levado um fuzil que Souza escondia no imóvel, localizado no Capão Redondo, zona sul. Moradores da Rua Sebastião Gonçalves da Silva ouviram cinco tiros na madrugada de quinta-feira. Uma vizinha disse que Andrea foi assassinada na calçada, onde seu corpo permaneceu até a manhã de sexta-feira. Ela foi sepultada às 10 horas deste sábado no Cemitério Municipal Colônia Paraíso, em São José dos Campos, onde vive sua família. Segundo o Deic, Souza também é assaltante de banco e seria fugitivo de uma penitenciária do Rio Grande do Sul. Policiais tentaram prendê-lo no Hospital Jabaquara, mas, quando chegaram lá, ele já havia fugido. A polícia recebeu a informação de que o bandido voltou a ter hemorragia após a fuga e que estaria com a saúde abalada. A Secretaria de Segurança Pública informou que ele não foi preso na hora em que pediu socorro porque nada constava em sua ficha criminal. Outras mulheres marcadas para morrer Policiais do Deic têm informações de que outras mortes de aliados da cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC) vão ocorrer nos próximos dias e tentam localizar algumas supostas vítimas para livrá-las da morte. Petronília Maria de Carvalho Felício, a mulher de José Márcio Felício, o Geleião, está com seu nome no topo da lista, junto da ex-amiga Aurinete Carlos Félix da Silva, a Netinha, mulher de César Augusto Roris da Silva, o Cesinha. Petrô, como é conhecida, está detida no Centro de Readaptação Penitenciária (CRP) de Taubaté, e as autoridades garantem que ela está sendo mantida em isolamento total para não ser atingida. Quando soube que seria removida do Deic para um presídio de regime disciplinar diferenciado (RDD), Petronília implorou para não ser levada para Taubaté. ?Vou morrer lá?, disse aos delegados, referindo-se ao fato de o marido ter vários desafetos internados naquele presídio. Aurinete estaria escondida ou seqüestrada Ela pediu para ser removida para o CRP de Presidente Bernardes, o mesmo em que Geleião está detido, onde se sentiria mais segura. No último sábado, Aurinete faltou pela primeira vez à visita ao marido. Mesmo no período em que ele esteve detido no Paraná e no Rio de Janeiro, ela nunca deixou de vê-lo. A polícia suspeita de que ela esteja se escondendo por medo de ser morta ou até mesmo de que esteja seqüestrada, nas mãos de algum inimigo. As autoridades descartam a possibilidade de Geleião e Cesinha serem mortos em Presidente Bernardes, onde ficam isolados em celas individuais 23 horas por dia. Segundo a polícia, só correm risco iminente de morte os aliados da cúpula da facção que estão em liberdade. No sistema carcerário há um clima de expectativa e tensão. ?Não sabemos o que pode acontecer?, disse um preso da Penitenciária do Estado.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.