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Mandato-tampão vira arma eleitoral

Governadores Roseana Sarney (MA), José Maranhão (PB) e Henrique Gaguim (TO) reforçam ação e, incomodados, adversários reagem

Por Wilson Lima de São Luís , Adelson Barbosa dos Santos de João Pessoa e Jocyelma Santana de Palmas
Atualização:

Três dos quatro governadores que cumprem mandatos-tampão, depois de substituir os titulares cassados por problemas com a Justiça, são pré-candidatos à reeleição. Todos são do PMDB e trabalham discreta ou publicamente para se eleger, costurando alianças e fazendo promessas e concessões ao eleitorado.São eles: Roseana Sarney, no Maranhão; José Maranhão, na Paraíba; e Carlos Henrique Gaguim, no Tocantins. Rogério Rosso, também do PMDB, empossado no Distrito Federal no último dia dia 19, não deve concorrer à reeleição (veja abaixo).A gestão Roseana é marcada por um plano de governo à la Juscelino Kubitschek. Ela afirma que seu objetivo é corrigir em 18 meses erros dos 76 meses das administrações anteriores, de José Reinaldo Tavares (PSB), e Jackson Lago ( PDT), a quem substituiu. Na lista de prioridades, está a entrega de 132 escolas e de 72 hospitais - ou 7,3 escolas e 4 hospitais em cada mês de seu governo. As obras já foram licitadas. Roseana listou como urgente o reforço na segurança e investimentos em festas populares. Em um ano, entregou cerca de 500 viaturas e, no carnaval, investiu de R$ 19 milhões. "O maranhense voltou a ter autoestima", tem reiterado Roseana, em pronunciamentos. Ela não trabalha diretamente na articulação de alianças para a reeleição, mas conta com a ajuda de interlocutores como o ex-ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB), pré-candidato ao Senado.A oposição vê no programa de governo da peemedebista uma tentativa de atenuar seus índices de rejeição em algumas regiões do Estado, como no sul, ou como "propaganda enganosa". O mandato-tampão tem sido marcado também por várias críticas aos números apresentados pelos secretários de Roseana e a problemas na área de educação. Em janeiro, a oposição questionou a realização de um concurso para contratação temporária de 5,1 mil professores, antes da nomeação de 5,3 mil já aprovados. Além disso, o ano letivo em 267 escolas da rede pública sofreu atrasos por falta de professores ou por reformas atrasadas.Mais recentemente, o presidente da Assembleia, Marcelo Tavares (PSB), denunciou que o governo Roseana gastou, em 2009, R$ 43 milhões em comunicação. "Isso é dez vezes mais do que o gasto pelo governo em habitação rural", protestou. Essas propagandas institucionais foram alvo de investigação do Ministério Público e de uma ação civil pública impetrada em novembro, ainda não foi julgada.Alianças embaralhadas. Na Paraíba, a posse do senador Maranhão para um mandato de um ano e 10 meses antecipou a campanha pelo Palácio da Redenção, sede do governo estadual. Ao assumir, ele deixou claro que seria candidato à reeleição e esfriou as pretensões do então prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho (PSB). Nas duas campanhas de prefeito, Coutinho foi eleito com o apoio de Maranhão.Nesse cenário, a aliança entre PMDB e PSB se desfez. Coutinho, antes ferrenho crítico do ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB), cassado por corrupção eleitoral, e do senador Efraim Morais (DEM), se aliou aos dois para derrotar Maranhão.Maranhão lidera as pesquisas e Coutinho aparece em segundo. Eles têm percorrido o Estado em pré-campanha. Ele se controla para evitar que os crimes cometidos por Cunha Lima na campanha de 2006 se repitam. Ele suspendeu o programa Praça da Gente, que atendia a população em praça pública com serviços de assistência social. Proibiu o jornal oficial A União de publicar textos com conotação política, para evitar ser acusado de uso da máquina. Mas os adversários o acusam de fazer nomeações excessivas de apadrinhados, de promover perseguição política e de inaugurar obras que já concluídas pelo antecessor.Caminho aberto. Dois dos pré-candidatos que haviam manifestado intenção de concorrer a o governo do Tocantins desistiram - a senadora Kátia Abreu (DEM) e o prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), abrindo o caminho para o governador Carlos Henrique Gaguim (PMDB), virtual pré-candidato à reeleição. Ele retornou ao Estado na sexta-feira, depois de 15 dias na China e encontrou um partido dividido: um dos seus principais expoentes, o deputado Moisés Avelino quer aliança com o PSDB, de Siqueira Campos, que será apoiado pelo DEM.Gaguim, eleito pela Assembleia para o mandato-tampão depois que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassou Marcelo Miranda, também do PMDB, em agosto de 2009, tem pregado austeridade no Estado, mas já concedeu reajuste salarial para várias categorias de servidores.A oposição o critica dizendo que os aumentos, em ano eleitoral, terão uso político. O governador justifica que só atendeu a reivindicações das categorias, que vinham de vários anos. Quatro meses depois de assumir o governo, Gaguim já tinha despesa com pessoal e encargos sociais 11,19% maior do que no ano anterior. Enquanto não é confirmado como pré-candidato, ele segue realizando programas de atendimento concentrado à população, nos mesmos moldes do Governo Mais Perto de Você, que resultou na cassação de Miranda.Para entender1.O que é, na prática, o chamado mandato-tampão?Quando um governador é casado em última instância, assume o segundo colocado nas urnas ou há eleição indireta, dependendo do Estado. 2.Por que houve cassações em TO, PB e MA?Cássio Cunha Lima (PSDB), da Paraíba, foi condenado por abuso de poder econômico e político (02/2009). Jackson Lago (PDT), pelos mesmos motivos, deixou o governo do Maranhão (04/2009). Marcelo Miranda foi cassado no Tocantins por abuso de poder político (06/2009).3.Há outros acusados?No início de 2009, o TSE tinha 7 governadores na mira.

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