Mangueira e Viradouro brilham no primeiro dia de desfiles no Rio

Apesar de sambista histórica ter sido expulsa de carro por integrante, Mangueira se destacou; Viradouro empolgou a platéia com as inovações

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Por Agencia Estado
Atualização:

A Estação Primeira de Mangueira e a Unidos do Viradouro levantaram o público na Marquês de Sapucaí no primeiro dia de desfile do Grupo Especial no Rio de Janeiro. Apesar da diretoria da Verde-e-Rosa expulsar do carro dos baluartes a sambista Beth Carvalho, mangueirense histórica e madrinha da Velha Guarda, a escola se destacou com as alas coreografadas e o brilho de Preta Gil, rainha da bateria, que mostrou ter samba no pé e bastante carisma. Já a Viradouro empolgou a multidão com inovações. A bateria começou o desfile em cima de carro alegórico, substituída, no meio da avenida, por passistas que imitavam os movimentos dos integrantes. Outro destaque foi a primeira porta-bandeira da escola que usou um vestido que imitava uma roleta. A noite também teve espaço para homenagens à família do garoto João Hélio Fernandes, de seis anos, brutalmente assassinado durante um assalto na zona norte do Rio, no começo de fevereiro, também fizeram parte das apresentações. Problemas não faltaram. A Viradouro, por exemplo, teve um carro parcialmente destruído antes mesmo de entrar na concentração. Dois carros da Império Serrano quebraram e a coreografia da comissão de frente também não agradou. Na Estácio de Sá, um integrante da comissão de frente sofreu um acidente e foi levado para o hospital. É campeã! Com o samba-enredo "Minha pátria é minha língua, Mangueira meu grande amor. Meu samba vai ao Lácio e colhe a última flor", o carnavalesco Max Lopes foi do Coliseu romano ao Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, para homenagear o português. Os quase 4.500 componentes da Mangueira, terceira escola a desfilar, acompanharam durante todo o percurso o ritmo do puxador Luizito, que substituí o interprete oficial da escola, Jamelão, com problemas de saúde. A Comissão de frente, vestida de Camões, trouxe inovações e emocionou o público presente. Os integrantes carregaram letras de papelão e formava mensagens, como "Jamelão", "Paz" e "João", em homenagem ao bruto assassinado de João Hélio Fernandes, o garoto de 6 anos que ficou preso ao cinto de segurança e foi arrastado por sete quilômetros. A Mangueira concluiu o desfile sob os gritos de "É Campeã". Mas nem tudo foi perfeito para a verde-rosa. Um mal entendido deixou de fora do desfile Beth Carvalho. A cantora, que não podia desfilar no chão por problemas de saúde, foi expulsa de um carro alegórico por um integrante da escola. Sem desfilar, Beth chorou. ?Fui muito humilhada. Esse casamento acabou", desabou a sambista. ?Eu não sei o que aconteceu, mas a pessoa que fez isso me odeia.? Beth Carvalho afirmou que não desfilará mais pela Mangueira. E o presidente da escola, Percival Pires, disse inicialmente e que houve apenas ´um desencontro na concentração´. Porém, a ser informado que Beth foi retirada do carro por Raymundo de Castro, um dos 22 baluartes da escola, disse que ainda vai se "inteirar" do assunto. Inovações Com o enredo sobre o jogo, a Viradouro fez um desfile tecnicamente perfeito e empolgou a multidão. Conhecido por suas inovações, o carnavalesco Paulo Barros fez sua estréia na escola este ano. Ele preparou uma fantasia inusitada para a primeira porta-bandeira da escola, Simone, um vestido que imitava uma roleta. A bateria da escola também surpreendeu. Ao som do enredo "Viradouro Vira o jogo", a bateria do mestre Ciça começou o desfile em cima de um carro alegórico, que representava um tabuleiro de xadrez. No meio do sambódromo, os 300 ritmistas desceram para serem substituídos por passistas que faziam mímicas de quem toca bateria. A rainha da bateria, Juliana Paes, levantou a multidão, chamando a atenção do público presente na Sapucaí. O começo da festa A festa na Sapucaí começou por volta das 21 horas de domingo com a entrada da Estácio de Sá, reprisando um de seus temas mais famosos, o Ti-ti-ti do Sapoti, de 1987. A escola volta ao Grupo Especial depois de 10 anos. E o desafio é ser original com o enredo repetido de 20 anos atrás - apesar do sucesso do samba nas rádios da época, a escola ficou em quarto lugar. Antes de abrir o desfile, a escola pediu a todos os presentes na Marques de Sapucaí para fazerem um minuto de silêncio em homenagem ao menino João Hélio. Um integrante da comissão de frente desmaiou após sofrer uma pancada na cabeça, quando a porta do carro onde entrava para trocar de roupas, uma "pirâmide", fechou. Em seguida foi a vez da Império Serrano fazer uma bonita apresentação com enredo em defesa da igualdade e da inclusão social: "Ser diferente é normal: o Império Serrano faz a diferença no carnaval". Mas, apesar da empolgação do público com o samba, a escola teve problemas na harmonia, como na comissão de frente. Formada por 13 São Jorges, santo padroeiro da agremiação, os bailarinos amadores, metade cavalo e metade cavaleiro, não dançaram - trotaram, marcharam e galoparam. Mas o efeito não foi bonito. A escola também teve problemas na evolução. Dois carros quebraram e provocaram buracos. Os refletores do carro da coroa, símbolo da escola, não acenderam. Eletricistas tentavam fazer o reparo em frente ao primeiro grupo de jurados. Comissão de frente A Comissão de frente foi um dos destaques da Mocidade Independente de Padre Miguel, penúltima escola a desfilar. Um grande livro fazia parte da coreografia, no qual um integrante, vestido de Adão, ocupava o lugar da ilustração. De tempos em tempo, o passista era ´expulso´ do desenho e a alegoria virava para mostrar a passagem da população pela época da robotização do mundo. Apesar de mostrar um carnaval cheio de efeitos de luz, muito brilho e mulheres bonitas, a escola não empolgou o público e muito menos se mostrou inventiva como em anos passados. Metamorfose Para fechar o primeiro dia dos desfiles, a Unidos de Vila Isabel trouxe o enredo a "Metamorfose". A campeã do ano passado animou o público, trazendo transformações por todos os lados. Um dos destaques foi a comissão de frente, que mostrava a evolução da raça humana através da metamorfose de macacos em homens, com coreografia da bailarina Ana Botafogo. A escola trouxe para a Sapucaí 36 alas, oito carros alegóricos e 3.600 integrantes. Entre eles, famosas como Letícia Spiller, Viviane Araújo e Kelly Key. O desfile desta segunda-feira começa às 21 horas com a Unidos do Porto da Pedra, seguida pela Unidos da Tijuca, a Acadêmicos do Salgueiro, a Portela, a Imperatriz Leopoldinense, a Grande Rio e a Beija-Flor de Nilópolis.

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