Mangueira encerra desfile com homenagem a Nelson Cavaquinho

PUBLICIDADE

Por Roberta Pennafort
Atualização:

Enredos biográficos já levaram a Mangueira à glória – em 1984, cantando Braguinha, e em 1998, com Chico Buarque, foi campeã – e à ruína – em 1989, falando do ex-rei da noite do Rio Chico Recarey, chegou perto do rebaixamento. No fim da noite de domingo, com Nelson Cavaquinho, não chegou a qualquer dos extremos. Os mangueirenses que resistiram à chuva e ao cansaço saíram do Sambódromo com dia claro, cantando os versos de louvação ao compositor que se tornou um dos símbolos da escola e felizes. Mas o desfile ficou aquém da escola e do enredo.

PUBLICIDADE

A ruidosa vaia ao presidente, Ivo Meirelles, ao se dirigir aos componentes e ao público na entrada da escola, já era um mau prenúncio. “Eu vou usar uma frase de Cartola: ‘Mangueira, por você fiz o que pude’”, disse, num tom egocentrado. O público não perdoou. Depois veio um discurso longo e desnecessário, lido pelo ator Milton Gonçalves, de evocação a Nelson Cavaquinho. A plateia não queria papo, esperara até tarde para ouvir samba, e não falatório.

Nelson apareceu já na comissão de frente, acompanhado dos boêmios “amigos de fé” e companheiros de mesa, do Morro da Mangueira. Também ao lado de Beth Carvalho – que desfilou mesmo ainda estando mal da coluna –, Sérgio Cabral (autores do enredo) e Guilherme de Britto, seu parceiro, no carro que representava o Zicartola, seu palco. E fechou o desfile, “voando” como um anjo de asas longas. Antes, a escola mostrou referências a seus sambas, uns mais conhecidos do que outros: “A Flor e o Espinho’, “Folhas Secas”, “Juízo Final”, ‘A vida.”

Faltou criatividade aos carnavalescos Mauro Quintaes e Wagner Gonçalves – a Mangueira tinha fantasias repetitivas, e não se viu muita inventividade no chão nem nas alegorias –, que pecaram também no acabamento dos carros (já o abre-alas era problemático). Mas sobrou disposição entre os componentes, que batiam no peito para dizer versos do samba-enredo (em primeira pessoa, Nelson falando), como “Sou mangueira”. Mesmo que o sotaque fosse paulistano. Os puxadores ficaram em silêncio em vários momentos para deixar que a vozes dos componentes e das arquibancadas se sobresaíssem. Foi bonito uma vez, depois perdeu a graça.

Quem conviveu com Nelson no morro era só emoção, como se cantava na letra do samba. “Lembro dele amanhecendo no Buraco Quente, cantando e bebendo. Era disso que ele gostava”, dizia, na concentração, dona Léa de Araujo, 68 anos de Mangueira.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.