Manifestações marcam 1.º dia da derrubada de barracas de praia em Salvador

Proprietários de 352 estabelecimentos e trabalhadores interditaram trânsito na Avenida Octávio Mangabeira; Prefeitura ainda não tem projeto alternativo para as barracas

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Por Tiago Décimo
Atualização:

SALVADOR - A derrubada das 352 barracas de praia de Salvador (BA), determinada pela Justiça Federal no fim de julho, foi iniciada na manhã desta segunda-feira, 23, pelo trecho da orla mais frequentado pelos turistas, as Praias do Flamengo e de Stella Maris, no norte da cidade.

 

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A ação, que cumpriu decisão do juiz da 13ª Vara Cívil Federal, Carlos d'Ávila Teixeira, teve início às 6 horas e contou com a participação de técnicos e funcionários da Superintendência de Uso e Ordenamento do Solo do Município (Sucom), auxiliados por policiais federais, militares e integrantes da Guarda Civil Metropolitana.

 

A primeira praia que teria as barracas demolidas, Ipitanga - que marca a divisa com o município de Lauro de Freitas -, porém, foi poupada da ação. Apesar de pelo menos metade das barracas instaladas no local estar na área de Salvador, elas são cadastradas em Lauro de Freitas. A prefeita do município da região metropolitana, Moema Gramacho, entrou com um mandado de segurança contra a derrubada e foi pessoalmente explicar a situação aos responsáveis pela demolição. Acabou convencendo-os a postergar a demolição, enquanto a situação legal desses estabelecimentos não é definida.

 

Com o adiamento da derrubada das barracas da Praia de Ipitanga, alguns dos estabelecimentos mais famosos da orla de Salvador, como as Barracas Marguerita e Barraca do Lôro, na Praia do Flamengo, foram os primeiros a ser derrubados.

 

A ação das escavadeiras derrubando as construções causou tristeza entre as centenas de funcionários dos estabelecimentos e curiosos que acompanhavam os trabalhos.

 

"A gente sabia da decisão da Justiça, mas esperava alguma solução", conta a cozinheira Nilma Castro Souza. "Trabalho aqui há 12 anos, tenho oito filhos, meu marido é autônomo, como vou fazer, agora?", reclama a encarregada de cozinha Cássia Miranda Santos.

 

Manifestações. A falta de alternativas para os barraqueiros e seus cerca de 3 mil funcionários foi o motivo para uma série de manifestações e barricadas feitas na Praia de Patamares - que deve ter suas barracas demolidas em até dois dias.

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Proprietários dos estabelecimentos e trabalhadores interditaram, por diversas vezes ao longo do dia, o trânsito na Avenida Octávio Mangabeira, que margeia a orla. Para impedir a passagem de veículos, os manifestantes atearam fogo a cadeiras e mesas plásticas. "Já investi mais de R$ 700 mil na barraca. Quem vai arcar com o prejuízo?", pergunta o empresário Massimo Pascucci.

 

Os barraqueiros também ameaçam processar a prefeitura, com ação indenizatória, pela derrubada dos estabelecimentos. "Eles tinham alvará para funcionar, por isso estavam ali", justifica a advogada Rita Martins.

 

A Prefeitura informa que ainda não há um projeto alternativo para as barracas, mas que está estudando a situação. À tarde, o prefeito João Henrique Carneiro divulgou um comunicado no qual informou ter pedido ajuda, por meio de ofício, aos governos estadual e federal, para ajudar a encontrar uma solução. "Nós compreendemos a decisão da Justiça, mas os três poderes podem ajudar a construir uma solução para a sobrevivência dos trabalhadores", disse.

 

A estimativa da prefeitura é que as barracas estejam demolidas em duas semanas. Nesta terça-feira, os trabalhos devem ser iniciados pela Praia de Itapuã.

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