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Mansão histórica é ocupada por sem-teto no Rio

A mansão foi projetada por Lucio Costa e foi ocupada por membros do Movimento Terra, Trabalho e Liberdade há cinco dias

Por Agencia Estado
Atualização:

Uma mansão do bairro do Cosme Velho, zona sul do Rio, projetada pelo arquiteto Lucio Costa, autor do Plano Piloto de Brasília, e tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), foi ocupada há cinco dias por integrantes do Movimento Terra, Trabalho e Liberdade. Os proprietários, herdeiros dos fundadores do jornal Correio de Manhã, que deixaram o imóvel há mais de dez anos, segundo vizinhos, estão tentando recuperá-la na Justiça. Erguido em 1937, o casarão, de estilo colonial e cor rosa, fica no Largo do Boticário, a 300 metros da estação do Corcovado. Serviu, há onze anos, de cenário para a mostra de decoração Casa Cor. Os dias de auge foram nos anos 60 e 70, quando abrigava a família de Paulo Bittencourt, dono do Correio. "Ali foram realizadas grandes festas. Eles chegaram a receber Walt Disney", contou o advogado Bruno Siciliano, que representa Sybil Bittencourt, filha de Paulo. Atualmente, o imóvel está abandonado: há pedaços de teto desabando, o telhado está desfalcado, a escada que leva ao segundo andar está em mau estado e as paredes estão rachadas. Bruno Siciliano disse não saber quando a casa deixou de ser ocupada pela cliente. Disse apenas que, há um ano e meio, ela cedeu a residência, em regime de comodato, a uma conhecida, uma senhora portuguesa que passava por necessidades e passou a residir lá com o filho. Em 2005, Sybil pediu o casarão de volta, mas a mulher se recusou a deixá-lo, afirmou Siciliano. "Ela se nega a sair e deixou que os sem-teto fossem morar lá, para ajudá-la a brigar pela posse". A portuguesa não quis dar entrevista. Sybil, uma senhora de 80 anos que mora a duas construções da mansão (há outras três casas da família no largo), também não quis comentar o problema. Liminar Os ocupantes contam história diferente. Eles afirmam que a portuguesa foi para a casa há três anos, com duas famílias. Na quinta-feira passada, outras 19 famílias se juntaram a eles. Algumas viviam na rua; outras já não tinham condições de pagar aluguel. Na sexta, o grupo (do qual fazem parte onze crianças) conseguiu na Justiça uma liminar que lhes permite continuar na mansão. "Pagava R$ 280 de aluguel, não tinha condição", disse Silvio Calábrio, de 63 anos, que tem uma banca de livros. Segundo os líderes do movimento (que ocupam três áreas rurais do Estado), todas as tarefas são divididas: preparo da comida (hoje, foram servidos panelões de arroz e feijão), limpeza dos cômodos (são 15 suítes, amplos salões e capela) e segurança (duas pessoas se revezam durante a noite no portão). "Isso aqui é um trabalho sério, não é bagunça. Queremos que a casa seja recuperada", explicou Jurandy Venceslau de Castro, de 46 anos. Os mantimentos comida são comprados com dinheiro de doações. Todos dormem em colchonetes ou mesmo no chão. O fornecimento de luz e água é normal - segundo vizinhos, trata-se de ligações clandestinas. A mansão tem jardim de Burle Marx; como quintal, parte da Floresta da Tijuca. Na parte externa, há espécies raras da Mata Atlântica e uma fonte d´água do século 19. O Largo do Boticário, que tem este nome porque, em 1831, o boticário Joaquim Luiz da Silva Souto se mudou para lá, faz parte do roteiro turístico carioca. Nesta segunda-feira, turistas europeus admiravam as belas construções, sem saber da confusão por trás do portão do casarão. O Inepac, que tombou o casarão há 19 anos, informou que a preservação do casarão é de responsabilidade da dona - que alega não ter condição de arcar com as obras de recuperação. Na terça-feira, haverá vistorias de técnicos do Inepac e também da Defesa Civil, que irá verificar se há risco de desabamento.

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