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Mapa GLS ganha points até na periferia

Para ativistas, novelas e Parada ajudaram a reduzir preconceito

Por William Glauber
Atualização:

As noites de sábado no 12.983 da Avenida Sapopemba, em São Mateus, zona leste de São Paulo, são embaladas por ícones gays como Madonna, Cher e Whitney Houston. Distante do eixo República-Consolação-Jardins, o Guinga?s Bar é exemplo da expansão das fronteiras GLS da cidade, com abertura de bares e danceterias no extremo sul e em cidades da Grande São Paulo. Entre os fatores para esse crescimento estão a Parada Gay e a presença de personagens homossexuais em novelas. Points surgiram no Carrão e no Tatuapé, na zona leste, no Ipiranga e em Interlagos, zona sul, e em Santo André, Osasco, Carapicuíba e Mogi das Cruzes. São alternativas aos "velhos" points do centro, embora os ambientes sejam parecidos, com hits pop para meninos e apresentações de MPB para meninas, além de karaokê. "Essa visibilidade era impensável em locais como São Mateus, até poucos anos. Gays tendem a ir para o centro, porque lá são invisíveis", diz Beto de Jesus, secretário para a América Latina e Caribe da International Lesbian and Gay Association. "Mas, com uma Parada Gay que atrai milhões, cria-se clima favorável à aceitação." Na periferia, as relações cotidianas são mais estreitas. "Conheço bares do centro, mas freqüento aqui porque estou perto de casa e fico entre amigos", diz Michael Douglas dos Santos, de 18 anos, que costuma ir ao Guinga?s, evitando viagem de duas horas até o centro. Outro ponto é a praça de alimentação do Shopping Metrô Tatuapé, que lota nas noites de segunda. Na Penha, o Diva?s Bar reabrirá no mês que vem, após ter funcionado de 2004 a 2006, em Itaquera e depois no Aricanduva. "A zona leste é gigante, e têm muitos gays e lésbicas aqui", diz a analista de marketing Fabiana Rodrigues, de 25 anos, que mora em Itaquera e freqüenta o Babadu?s Bar, no Carrão. A dona, Regina Gomes, diz que abriu o Babadu?s a pedido de amigos. Distância não é problema para o supervisor de atendimento Everton Silva, de 26, que sai de Osasco para se divertir com o namorado. Em vez do centro, eles vão ao Boteco Ouzar, no Ipiranga. "Aqui o ambiente é voltado mais para casais", explica. Em Interlagos, Mari de Souza, de 43, toca a Reencontros, que tem DJ e shows de drag queens, há dois anos. "O público é eclético. A maioria é fiel, até porque somos a única casa gay aqui." Em Carapicuíba, gays e lésbicas dançam na Rainbow. Em Osasco, há o Point Mix; em Santo André, shows de drags são "sagrados" no Santo Pastel. Em Mogi das Cruzes, a Up Club agita a noite. Essa aceitação foi influenciada pela TV, diz o sociólogo e pós-doutorando em Ciências da Comunicação pela USP Ferdinando Martins. "A dona de casa, quando vê o Bruno Gagliasso sofrer por amor na novela das oito (América, da Globo, de 2005), vê que aquele sentimento faz parte da vida. Continua existindo preconceito, mas em menor grau." A mudança se reflete na auto-estima dos homossexuais. "Não tive problemas (com homofobia) e, se me chamarem de sapatão, não estou nem aí", diz a vendedora Hendy de Lucena Silva, de 21, que vive em São Mateus e, quando pode, leva até a mãe ao Guinga?s.

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