Convidada especial do tradicional chá das quintas-feiras da Academia Brasileira de Letras, a prefeita petista Marta Suplicy fez um resumo de sua administração para os imortais e deixou escapar uma crítica ao governo de Rosinha Matheus (PMDB). Ao citar o programa de renda mínima, que atinge 186 mil famílias paulistanas, a prefeita emendou: ?Fizemos absoluta questão de não fazer como o Rio de Janeiro, onde você dá um cheque a uma igreja, um pastor e (o beneficiado) vai buscar o cheque. Isso não dá para mim. Tem que ser cartão eletrônico, a pessoa recebe o cartão e vai no banco?, disse a prefeita. No Rio de Janeiro, o programa cheque-cidadão distribui R$ 100 mensais a famílias pobres. Desde a administração de Anthony Garotinho, a fiscalização da distribuição do cheque é gerenciada por grupos religiosos das próprias comunidades beneficiadas. Marta brincou dizendo que o fato de as famílias paulistanas receberem diretamente no caixa criou ?um certo problema?: ?Eles acham que é o Banco do Brasil que paga. Não entenderam que é a prefeitura, mas agora vamos acertar esse problema.? Depois de resistir à maior parte dos salgadinhos, doces, bolos e pães de queijo do lanche, a prefeita participou da sessão da ABL. A maior parte dos 30 minutos da apresentação foi dedicada aos Centros Educacionais Unificados (CEUs) e ao programa que alia ensino tradicional a cultura, esporte e lazer para crianças pobres da periferia. Marta fez uma referência especial à escritora Rachel de Queiroz, que morreu no dia 4 deste mês e dará nome à biblioteca do CEU Vila Curuçá. A prefeita declarou-se contra a diminuição da maioridade penal de 18 para 16 anos. Marta considerou o assassinato do casal de namorados Liana Friedenbach e Felipe Caffé ?terrorismo puro, um crime além do hediondo?. ?A gente não deve tomar decisões num estado de paixão. A discussão vai se aprofundar e a sociedade já está dividida. Muitas pessoas vão mudar de lado e nós vamos chegar a uma posição que seja não só de aumentar a pena para essas pessoas que cometem crime hediondo. Não devem ser tratadas como um adolescente que comete crime normal. Mas vamos discutir também o que fazer com os adolescentes em situação de risco, com o que estão na Febem. A solução da paixão não traz resultados a longo prazo, a pessoa fica lá mais dez anos e em vez de matar com 21 vai matar com 31?, afirmou a prefeita. Depois de fazer uma rápida visita à biblioteca da ABL e cumprimentar cada um dos 19 imortais presentes, além de parentes de Rachel de Queiroz, a prefeita brincou com os escritores: ?Estou entendendo um pouco por que todo mundo quer ser acadêmico. Gostei! Vocês se cuidam bem, devem ser gostosas essas tardes.? Os imortais aplaudiram, satisfeitos.