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Massacre e megarrebelião, a triste memória do Carandiru

Por Agencia Estado
Atualização:

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou que com a implosão dos pavilhões do Complexo Carandiru, inicia-se uma nova fase na história do sistema penitenciário brasileiro e um marco para a vida das pessoas que moram na cidade de São Paulo. Em sua história, o Carandiru tem dois marcos tristemente célebres: o massacre de presos, em 1992, e a megarrebelião, em 2001. A Casa de Detenção foi inaugurada em 1956 pelo então governador Jânio Quadros. Inicialmente seu projeto previa o abrigo para 3.250 presos, mas com o passar dos anos teve sua capacidade máxima ampliada para 6.300. Em 1975 a penitenciária deixou de abrigar apenas os presos à espera de julgamento, e, no início da década de 90, a população oscilou perto dos sete mil, chegando a ter picos de superlotação que ultrapassavam os oito mil presos. Vista como um exemplo de defeitos da execução penal no Brasil, a Casa de Detenção não tinha estrutura física adequada, tamanho seu gigantismo. Com o excesso de consumo de água e ligações elétricas irregulares, a penitenciária oferecia riscos à segurança, além dos inúmeros túneis que abalaram as estruturas das edificações. Os últimos presos das unidades detonadas foram retirados em setembro deste ano. "Estamos iniciando um novo momento, substituindo essa megaprisão, totalmente inadequada e com uma história muito triste, por unidades menores, com segurança e presos trabalhando. Ou seja, um sistema penitenciário hierarquizado, que inclui o preso provisório, penitenciárias fechadas, alas de progressão penitenciária, centro de ressocialização em parceria com o terceiro setor e penitenciária de segurança máxima", disse o governador. Alckmin agradeceu ao ministro da Justiça, Paulo de Tarso Ribeiro, e ao presidente Fernando Henrique Cardoso, dizendo que o governo federal foi um importante parceiro no projeto de desativação do Complexo Carandiru. "Dos R$ 100 milhões investidos, metade veio do governo federal", afirmou. O projeto inclui também a construção de 11 unidades prisionais no interior do Estado, totalizando 8.256 vagas. Três pavilhões (6, 7 e 8) do Carandiru vieram ao chão na manhã deste domingo, colocando um fim na história da penitenciária famosa por abrigar oito mil presos e ser palco de tragédias. A implosão foi acionada pelo governador Geraldo Alckmim, pelo ministro da Justiça Paulo de Tarso Ribeiro, e pelo secretário de administração penitenciária, Nagashi Furokawa, e durou pouco menos que os sete segundos previstos. No local será construído o Parque da Juventude, onde serão oferecidas atividades culturais, esportivas e educacionais gratuitamente. Para que a implosão fosse um sucesso foram necessários 250 quilos de explosivos, espalhados por três mil pontos de perfuração, que transformaram os pavilhões em 80 mil toneladas de entulho. Apesar do procedimento não oferecer riscos, a área foi isolada nas proximidades e o trânsito local ficou interditado até o início da tarde. Para evitar que estilhaços de concreto voassem, a parte inferior dos prédios foi coberta com plástico. Assim que os três pavilhões vieram abaixo, uma densa nuvem de pó espalhou-se pelo local. O projeto prevê ainda a desocupação de outros setores do Complexo Carandiru. Por enquanto ficam mantidas apenas as unidades que abrigam a Penitenciária do Estado, a Penitenciária Feminina, o Centro Hospitalar e Observação Criminológica do Sistema Penitenciário, a Escola de Administração Penitenciária, a farmácia e as oficinais. O Parque da Juventude terá uma área de 300 mil m2, onde serão realizadas atividades e oficinas com o objetivo de desenvolver a potencialidade criativa dos adolescentes e a preparação para futuras alternativas de emprego. "Com a construção do parque, vamos olhar para a frente e cuidar dos nossos jovens", ressalta Alckmim, avisando que a primeira fase da obra terá início nos próximos dias. O projeto foi dividido em três grandes fases: Parque Esportivo, Parque Central e Parque Institucional. No local que antes abrigava os três pavilhões serão construídos oito quadras poliesportivas, dois campos de futebol, banheiros, pistas de skate e vestiários. A previsão é de que esta fase ? orçada em R$ 5, 87 milhões - seja entregue à população até setembro de 2003. Apesar da implantação dos novos modelos de penitenciárias, o governador alertou que a luta contra as rebeliões continua. "Essa é uma batalha que deve ser vencida todos os dias, pois são 110 mil presos tentando fugir. Não podemos esmorecer. Essas novas penitenciárias seguem um modelo muito mais adequado, com presos trabalhando, unidades menores, alas de progressão penitenciária, mas a vigilância tem que ser permanente." Para o secretário de Administração Penitenciária, Nagashi Furokawa, outra luta está diretamente relacionada ao crescimento do número de presos. "Neste ano tivemos um aumento de 11 mil presos, ou seja, são quase mil novos por mês. Para conter isso estamos sugerindo há um bom tempo mudanças da lei de execução penal e ampliação das penas alternativas de forma que se consiga punição rigorosa e exemplar, mas adequada ao tipo de crime que a pessoa cometeu."

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