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Matar agentes e depredar presídios é a nova estratégia do PCC

O objetivo da facção, dizem promotores e delegados, é encurralar o governo e acovardar os funcionários que trabalham no dia-a-dia com os líderes do PCC

Por Agencia Estado
Atualização:

O Primeiro Comando da Capital (PCC) reiniciou sua guerra contra o Estado. A estratégia da organização é matar agentes prisionais e destruir penitenciárias. O governo sabe disso e tomou medidas para enfrentar a facção, prendendo seus "soldados" e usando a Tropa de Choque nas rebeliões. Segundo promotores de Justiça que investigam a organização, é essa estratégia que explica a depredação nas celas do Centro de Readaptação Penitenciária (CRP) de Presidente Bernardes, onde está Marcos Camacho, o Marcola, líder máximo do PCC, além dos assassinatos de três agentes prisionais e de um carcereiro desde o dia 28. O objetivo da facção, dizem promotores e delegados, é encurralar o governo e acovardar os funcionários que trabalham no dia-a-dia com os líderes do PCC. Ao executar agentes de folga perto de suas casas, a facção quer passar aos colegas dos mortos a impressão de que sabe onde cada um deles mora. É por isso que caiu como uma bomba nesta segunda-feira no Complexo Penitenciário de Campinas a informação do sumiço de um fichário com nomes, endereços e fotos dos agentes do lugar. O fato ocorreu na megarrebelião de maio. A denúncia foi feita por João Rinaldo Machado, do sindicato dos agentes prisionais. Hoje, o governador Cláudio Lembo (PFL) disse acreditar que as investigações da polícia ajudarão a vencer essa guerra. "Essa é uma luta difícil para a categoria porque os agentes são sempre pegos de surpresa." Emboscadas De acordo com a polícia, a forma dos últimos ataques aos funcionários de presídios obedece a duas razões. Ao atacá-los de folga e perto de suas casas, os bandidos evitam possíveis reações que aconteceriam na porta de presídios. No dia 26, 13 integrantes do PCC foram mortos em uma operação policial quando tentavam emboscar agentes em frente ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de São Bernardo do Campo. Foi depois dessa operação que a facção fez quatro vítimas em emboscadas nas quais os criminosos tinham as vantagens da superioridade numérica e da surpresa. A segunda razão é que os atentados de maio ensinaram à organização que atacar a polícia pode ser um mau negócio. Na época, os bandidos mataram 42 policiais e 5 civis, mas a reação da polícia deixou 122 mortos, muitos deles integrantes do PCC. "Eles temem a retaliação", disse um delegado. Baixas Na avaliação da polícia, os ataques aos agentes estão provocando baixas no PCC que a facção não terá dificuldades para repor. De fato, desde o dia 26, 28 acusados de participar da facção foram presos. "O Estado tem estrutura suficiente para garantir a segurança dos agentes penitenciários fora dos presídios", disse o governador. Conforme escutas reveladas pelo Grupo Estado, a organização esperava baixas. Uma ordem da cúpula do dia 22, determinou o aumento da contribuição mensal dos filiados ao PCC de R$ 600 para R$ 1 mil. Era necessário fazer caixa para a guerra. O dinheiro pagaria enterros e cestas básicas a famílias dos mortos. Além disso, iniciou-se um recadastramento de membros do PCC e, para evitar que a comunicação com a base fosse cortada pela falta de celulares, determinou-se a contratação de advogados como pombos-correio. Na semana passada, quatro advogados foram presos. Já a estratégia de quebrar presídios segue uma lógica de números. São necessárias quase mil vagas nas prisões por mês para novos presos. Quando um presídio é destruído, o número de vagas cai e a superlotação aumenta, o que diminui o controle sobre os presos. Desde o começo do ano até agora, pelo menos 11 presídios e CDPs foram destruídos pelos presos no Estado em rebeliões nas quais os detentos não apresentam nenhuma reivindicação. É por isso que o secretário da Administração Penitenciária, Antônio Ferreira Pinto, decidiu que a Tropa de Choque da PM será usada contra detentos amotinados toda vez que houver reféns ou depredações. O agente penitenciário Otacílio de Couto, de 40 anos, foi enterrado hoje no Cemitério Campo Santo, em Guarulhos. Ele foi morto a tiros de metralhadora perto de sua casa, no Jaçanã, zona norte, ontem à noite. (Colaboraram Camila Tuchlinski e Rose Mary de Souza )

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