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Médico é morto diante da Unifesp por não entregar celular a ladrão

Segundo testemunhas, a vítima hesitou quando o bandido pediu o aparelho e acabou baleada na cabeça

Por Jones Rossi
Atualização:

O médico José Edmur dos Santos, de 50 anos, foi assassinado com um tiro na cabeça, supostamente por não ter entregado seu celular a um assaltante, anteontem à noite, em frente ao prédio da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp) na Vila Clementino, zona sul. Segundo testemunhas, ele teria hesitado na hora de entregar o aparelho, que acabou nem sendo levado pelo ladrão. Pneumologista, Edmur tinha saído do hospital onde trabalha, no Tatuapé, e ido de metrô encontrar sua mulher, também médica, na Unifesp. Na altura do número 377 da Rua Pedro de Toledo, Santos foi abordado pelo assaltante, que, segundo duas testemunhas, era um rapaz de estatura média e usava boné, jaqueta vermelha e uma calça jeans surrada. "Ouvi um tiro e saí para ver o que era. Vi um senhor barbudo, abismado, dizendo ?por um celular, por um celular?, perto do corpo ensangüentado. Ainda deu tempo de ver um rapaz correndo. Em cinco minutos a polícia chegou", disse uma testemunha. Segundo o boletim de ocorrência, o médico teria feito algum movimento brusco e o bandido, armado com um revólver cromado, disparou apenas uma vez, mas na cabeça. A mulher de Edmur estranhou a demora e ligou para o celular do marido, mas quem atendeu foi um PM que pediu para ela ir ao Hospital São Paulo, onde Santos passou por cirurgia e morreu por volta das 2h30 de ontem. Nada foi roubado do médico. Ele será enterrado hoje de manhã em Maringá (PR). De acordo com Oswaldo de Souza, delegado titular do 16º DP, na Vila Clementino, roubos e furtos de celulares são de grande incidência na região. Somente entre quarta e quinta-feira, foram registrados três furtos de celular no Distrito. Uma das testemunhas do crime, funcionário de uma farmácia que fica perto do local, disse que o estabelecimento onde trabalha já foi assaltado três vezes e que roubos de celular são comuns na região. Outra drogaria localizada na Rua Pedro de Toledo também foi assaltada várias vezes, segundo funcionários que também não quiseram revelar os nomes, com medo de represálias. PREOCUPAÇÃO Essa não foi a primeira vez que Edmur foi assaltado. Calmo, nunca reagiu. Preocupado com a segurança de sua mulher, Liana, costumava buscá-la no Hospital São Paulo, da Unifesp. Como Santos não dirigia, Liana - que também já foi assaltada - ia embora sempre de metrô, com o marido. O casal morava no bairro do Tatuapé, onde o médico trabalhava no Hospital Municipal Dr Carmino Carrichio. Ontem, Liana e os dois filhos gêmeos, de 17 anos, do casal, embarcaram para Maringá, no Paraná, local do enterro. "Ele era uma pessoa muito calma que jamais reagiria a um assalto", disse a empregada da família, Lígia Rodrigues. "Todos estão em choque. Os meninos parecem que estão sedados." Para o Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), o crime é mais uma prova de que os órgãos de segurança precisam aumentar o policiamento nas imediações e dentro de hospitais. "Os médicos precisam de segurança para trabalhar", disse o presidente do Simesp, Cid Carvalhaes. "O fato de o assassinato ter ocorrido na rua não muda o quadro. A vítima estava de branco, perto de um hospital público."

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