Menino de 3 anos morre baleado em favela no Rio

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Por Agencia Estado
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Um menino de três anos morreu na noite de segunda-feira depois de ser atingido na cabeça por um tiro de fuzil, que teria sido disparado por policiais civis durante uma perseguição a suspeitos num carro, na favela Tancredo Neves, no Jacaré, zona norte do Rio. Uma menina de oito anos e uma mulher ficaram feridas. A Corregedoria da Polícia Civil investiga o caso e já identificou quatro agentes da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) que participavam da operação. A mãe da vítima quer processar o Estado. Testemunhas contaram que os policiais, que faziam uma blitz, passaram de carro pela rua Camboriú, que dá acesso à favela, atirando contra os ocupantes de um carro preto, por volta das 21 horas. Pelo menos seis disparos foram ouvidos. Os moradores também acusam os policiais de não terem prestado socorro aos feridos. Ainda na noite de segunda-feira, eles fizeram um protesto pacífico em frente à delegacia da região, cobrando explicações. Quando foi atingido, a vítima, Nicolau Yam dos Santos Xavier, estava com a irmã, Jéssica Cristina, de 13 anos, num bar, comprando balas. A dona de casa Ana Beatriz Rodrigues, de 32, que também estava no bar, foi baleada de raspão na cabeça e na perna direita. A menina Elisandra de Oliveira Lucena da Silva, de oito, foi ferida no braço esquerdo quando fugia dos tiros. Os três foram atendidos no Hospital Salgado Filho, mas Nicolau não resistiu. Elisandra ainda está internada e Ana Beatriz já está em casa. Nesta terça-feira, o clima na favela era de indignação. Moradores estenderam um pano preto em sinal de luto. Revoltada, a mãe de Nicolau, a artesã Jane Tito dos Santos, de 32 anos, disse que vai procurar um advogado para processar o Estado. ?Isso não é justo. Se fosse um bandido, era bandido, mas meu filho só tinha três anos. Era cedo e a rua estava cheia, porque fazia muito calor. Muito mais gente poderia ter se ferido.? Jane estava em casa e foi avisada pela filha. Ela conseguiu ajuda do governo do Estado para enterrar o filho. Prima de Ana Beatriz, Giselda da Silva, de 46 anos, estava junto da moça quando começou o tiroteio. Ela contou que viu quando os policiais dispararam,?sem se preocupar com as pessoas que estavam na rua?. ?Eles atiraram sem motivo e viram que a rua estava cheia. Quando começou o tiroteio, corremos para dentro do bar, mas minha prima acabou ficando ferida. Os policiais viram e não ajudaram?, acusou Giselda. Elissara, de 10 anos, irmã de Elisandra, disse que ela foi ferida porque voltou para pegar o chinelo que saíra do pé. ?Ouvimos os tiros e corremos para dentro do beco. Ela voltou e foi baleada?, lamentou a garota. O corregedor da Polícia Civil, Jorge Jesus Abreu, foi à favela e levou as testemunhas para depor. Ele comunicou o caso ao chefe de Polícia Civil, delegado Álvaro Lins. Mauriléia Galvão, da associação de moradores da favela, pediu a presença de um representante da governadora Rosinha Matheus. ?A polícia não nos respeita. As crianças não podem mais ficar na rua. Minha neta de apenas um ano está tão acostumada com esse tipo de coisa que simula uma arma com os dedos e faz com a boca o barulho dos tiros?.

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