''Menti que pararia quando quisesse. Nunca quis''

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Por Viviane Kulczynski
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Nasci fumando. Cresci fumando. Passei a infância fumando. Mas só acendi o primeiro cigarro aos 16 anos. O último? Bem... Explico, em ordem cronológica. Minha mãe (e também meu pai) fumou a gravidez inteira - e era reincidente, pois minha irmã também aspirou todos os mesmos gases tóxicos quatro anos antes. E nossa "passividade" se expressou de maneira antagônica. Ela, claro, é antitabagista. Comecei ?filando?. De brincadeira. Até comprar o primeiro maço (mentolado e enjoativo), o primeiro isqueiro (rosinha), o primeiro cinzeiro (um coração de vidro). O mau passo virou hábito. Caí no vício. Menti para mim mesma durante os 18 anos seguintes que pararia quando quisesse. Confesso, hoje, que nunca quis. Até que a patrulha apertou, nos tornamos ?mal-vindos? em quase toda a parte, viramos contraventores sociais. E aí veio a lei, decretaram a morte do fumódromo, criaram o dedo-duro da fumaça e nos empurraram para o precipício - ironicamente representado por um imenso meio-fio. Que é lá agora o anti-purgatório paulista. Havia pouco mais de um mês para a lei antifumo entrar em vigor quando resolvi me impor um desafio. Trinta dias para mudar (ou seria parar?). Sem remédios nem terapia, sem neurose nem... Mau humor. Hum, essa parte não cumpri. Minhas desculpas, bem envergonhadas, a quem me suportou. Fiz um diário das pequenas contravenções desses longos dias. Comecei meu ?esforço concentrado? no dia 7 de julho - e só terminarei na sexta-feira. Até aqui (1h30 de sábado) foram 26 dias e 29 cigarros. Escrevo e enfumaço as ideias fumando o primeiro deste novo dia, um dos finos e longos, que duram mais. Não será o último. Não prometo o que não posso cumprir. A sexta-feira está longe de chegar e ainda restam seis cigarros no maço aberto. * É editora de ?Cidades/Metrópole?

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