Metrô atinge padrão de segurança

Em 10 anos, companhia paulista reduz em 85% ocorrências policiais; para jogos, prepara-se esquema de guerra

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Por Naiana Oscar e Aline Nunes
Atualização:

O Metrô de São Paulo reduziu em 85% o índice de ocorrências policiais registradas nas estações para cada milhão de passageiros em pouco mais de dez anos. No primeiro semestre deste ano, foram 579 casos notificados e, com esse número, a companhia atinge pela primeira vez o padrão internacional em segurança para o sistema metroviário de, no máximo, 1,5 ocorrência para cada milhão de usuários. Em 1998, os 6,5 mil casos policiais nas estações equivaleram a 9,7. O ano passado fechou com 1,6 mil registros de violência (1,9). "Trabalhamos hoje com base em fatos e dados. Avaliamos tudo o que aconteceu na semana anterior e discutimos com a equipe", disse o chefe do Departamento de Segurança, José Luiz Bastos. Para ele, essa estratégia fez a diferença no período de redução das ocorrências. Ter controlado as brigas de torcedores em dias de jogos de futebol é um dos orgulhos. "Pensamos até em apresentar esse exemplo em congressos internacionais", disse. Quando há jogos, segundo Bastos, o Metrô monta um "esquema de guerra". No dia anterior, os pontos de encontro de torcidas são mapeados para que a segurança seja intensificada. Até os trens são controlados para que não se encontrem em estação que coloquem frente à frente os adversários. A última ocorrência grave foi em 2005, na Estação Tatuapé. Um palmeirense, de 23 anos, morreu em confronto com corintianos. "Essa estação não estava na lista de pontos de encontro. Depois descobrimos que a briga havia sido combinada pela internet", disse Bastos. E foi aí que o monitoramento do Orkut entrou no esquema. Em semana de jogos, os técnicos do Metrô avaliam também as trocas de informações online. Bastos tem orgulho também de funcionário do Metrô terem identificado um dos ladrões que roubaram e atiraram em um passageiro na Estação Trianon-Masp em setembro de 2007. A vítima havia acabado de sacar dinheiro em um banco da Avenida Paulista. "Em maio, encontramos o bandido sentado em uma estação." Segundo ele, o ladrão estava se preparando para agir novamente quando foi reconhecido pelos seguranças. FURTO E ROUBO Hoje, porém, um dos maiores desafios é reduzir a violência em cinco estações do sistema: Sé, Barra Funda, Tatuapé, República e Paraíso. Dos 58 pontos de embarque e desembarque, essas respondem por quase metades das ocorrências policiais. E furto e roubo somam 48% dos registros. Segundo o Departamento de Segurança, os números refletem a quantidade de passageiros que circulam pelas estações e a situação externa dos locais, em regiões centrais e de alto movimento. A Sé concentra 18% das ocorrências policiais; a Barra Funda, 9%; Tatuapé, 7%; República, 5%; e a Estação Paraíso, 3%. Pelas catracas dessas estações passam cerca de 20% dos passageiros dos sistema metroviário de São Paulo por dia. O gerente de conteúdo Valmir Aparecido dos Santos, de 37 anos, sabe bem dos problemas do Metrô na região central. Ele circula todos os dias pelas Estações Barra Funda e Sé e já foi furtado uma série de vezes. Exceto o celular, nunca levaram nada de valor. "Até um pacote de cotonetes e um carrinho de plástico que comprei para meu filho já foram furtados", disse. "Parece que os ladrões sempre dão um jeito de pegar, e a segurança de não ver." A estratégia dos ladrões é diferente para cada situação. No caso de furto, em que a vítima chega a pensar que perdeu o objeto, a preferência é por lugares movimentados. O empurra-empurra do embarque e desembarque e o descuido de passageiros são grandes aliados dos bandidos. No roubo, quando a vítima é abordada, quanto mais vazio, melhor para os ladrões. No metrô, esse tipo de ocorrência costuma acontecer a 15 metros do acesso à estação. O principal alvo é o celular por as pessoas saírem das estações para usá-lo. No primeiro semestre deste ano, foram registrados em média dois casos de furto e roubo por dia. Esse número já foi maior: em 2004, eram quase cinco. A queda foi possível com o aperfeiçoamento da segurança. Imagens geradas por 860 câmeras são acompanhadas em tempo real por três funcionários, gravadas e arquivadas por sete dias. Até o fim do ano, o Metrô pretende investir mais R$ 20 milhões em segurança.

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