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Minas Gerais: Sem a mãe e os irmãos, pedreiro deixa uma vida para trás

Mais de um mês após chuva matar sua família, Gilberto não conseguiu voltar a local da tragédia

Por Leonardo Augusto
Atualização:

BELO HORIZONTE - Mais de quarenta dias depois de um deslizamento de terra provocado pelas chuvas destruir a sua casa, Gilberto do Carmo, de 41 anos, em momento algum teve forças para retornar ao local onde vivia. Nem para ver se sobraram os documentos, objetos pessoais ou alguma lembrança.

“Falta coragem para subir lá”, justifica. No deslizamento, o pedreiro, que não estava em casa na hora em que a terra deslizou, perdeu a mãe Marlene, de 58 anos, e três irmãos – Edmar, de 25, Luiz Augusto, de 19, e Edvânia, de 17. Carmo hoje mora na casa de um amigo. “É uma dor que não vai passar”, conta.

Gilberto do Carmo Silva, pedreiro, que teve a casa perdida nas chuvas de janeiro, no bairro Bonsucesso, em Belo Horizonte Foto: Washington Alves/ESTADAO

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A casa em que morreu a família do pedreiro fica na região do Barreiro, zona oeste de Belo Horizonte, cidade fortemente atingida pelas chuvas no início do ano. Na noite de 24 de janeiro, além da família de Carmo, três pessoas morreram no mesmo bairro, também vítimas do deslizamento de terra. O Estado foi o recordista em mortes por chuva neste verão, com 72 vítimas.

Segundo Carmo, a prefeitura fez algumas reuniões com moradores do bairro, que perderam parentes e casas, mas, até o momento, não foi liberado benefício. “Falaram que veriam o que poderia ser feito, mas, até agora, nada”, reclama ele. Em janeiro, a capital mineira teve o mês com maior volume de chuvas desde 1910, o dobro da média para janeiro. 

BH tem hoje 305 pessoas em pousadas definidas pela gestão municipal. Segundo a prefeitura, a hospedagem é “uma medida provisória e excepcional para salvar as vidas” de quem deixou locais de risco por causa das chuvas.  Sobre benefícios a vítimas da chuvas, a Secretaria de Assistência Social da cidade afirmou ter pedido à União antecipação do pagamento do Bolsa Família. A Prefeitura disse ainda que desde, a semana passada, técnicos fazem vistoria em casas atingidas pelas chuvas para verificar a possibilidade de retorno dos moradores. Foram indicadas 150 famílias para o programa Bolsa Moradia, que paga o aluguel residencial a vítimas de chuvas.

Segundo o tenente-coronel Flávio Godinho, coordenador-adjunto da Defesa Civil de Minas, as pessoas que permanecem sem teto após as chuvas no Estado estão nas casas de parentes, amigos, ou no chamado aluguel social. Neste caso, uma casa é escolhida pelo desabrigado com custo máximo especificado pelo poder público e o valor é pago pelo Estado via prefeitura. Godinho disse ainda que, nos casos de acolhimento por parentes e amigos, há entrega de cestas básicas pelo poder público.

Estado e prefeitura prometem investimentos

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Ele diz que o Estado vinha se preparando para as chuvas, e que o número de mortos registrado pode ter ocorrido, ao menos em parte, porque as pessoas não teriam respeitado alertas emitidos. A Defesa Civil usa redes sociais e envia mensagens diretamente a telefones cadastrados sobre volume de chuva esperado para as próximas horas. "Pode ter ocorrido um descrédito inicial por parte da população."

Outro problema, segundo ele, são as ocupações de encostas. Em relação a obras previstas pelo Estado, afirmou que o Estado liberou R$ 22,7 milhões para contenção de enchentes no Córrego do Ferrugem, em Contagem, afluente do Ribeirão Arrudas, que corta a capital mineira, e vem aplicando R$ 17 milhões por mês para reconstrução de estradas.

Em relação a obras que começaram a ser realizadas ao longo do período de chuvas, a prefeitura diz ter concluído 160 de um total de 221 intervenções. Estão entre os serviços, o restabelecimento de pavimentação e recuperação de vias, contenções, recuperação de praças e canteiros, desobstrução de redes de drenagem, limpeza urbana, implantação de sarjeta, desobstrução e limpeza de bocas de lobo e de bacias. Sobre obras para evitar  novasenchentes, a prefeitura afirma que cinco intervenções têm previsão para serem concluídas antes do início do próximo período de chuvas, um investimento de R$ 33,7 milhões em recuperação de canais de córregos, drenagem e esgotamento sanitário.

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