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Ministério deu verba a ONG de PM após desvio

Dias assinou outro convênio mesmo após ter 'irregularidade grave' em 1º contrato

Por Marta Salomon e BRASÍLIA
Atualização:

Pouco mais de seis meses depois de constatar "irregularidades graves" em convênio de R$ 2 milhões com a Federação Brasiliense de Kung Fu (Febrak), comandada pelo policial militar João Dias Ferreira, o Ministério do Esporte fechou um segundo contrato com ele - destinando verbas a outra entidade em seu nome. Foi João Dias quem denunciou esquema de propina no programa Segundo Tempo e acusou o ministro Orlando Silva de corrupção.Na época da assinatura do convênio, o policial militar era candidato a deputado distrital pelo PC do B, partido do então ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, e de seu sucessor, Orlando Silva. Atualmente Agnelo é filiado ao PT, partido pelo qual foi eleito governador do DF em 2010.O dinheiro destinado a atividades esportivas de 15 mil crianças e jovens fora do turno escolar foi quase integralmente desviado. Pouco mais de 200 crianças teriam sido atendidas, em instalações e horários impróprios, sem material, e recebendo biscoitos em vez de refeições.O desvio de dinheiro público nos convênios levou João Dias à prisão em abril do ano passado. De acordo com ação apresentada pelo Ministério Público Federal, em valores corrigidos, o total desviado alcança R$ 4 milhões.Luxo. A reportagem do Estado flagrou, estacionados na garagem da residência de João Dias, em Sobradinho (DF), cinco carros de luxo, entre eles um Camaro vermelho 2011, uma BMW conversível e um Volvo C-30. Juntos, os veículos valem cerca de R$ 700 mil. Os carros são parte dos sinais de enriquecimento que ele ostenta.Até o fechamento desta edição, o Ministério do Esporte não havia informado o motivo da celebração de um segundo convênio com João Dias, mesmo depois de identificadas irregularidades no primeiro convênio.A cronologia levantada pelo Estado aparece no inquérito policial que investigou os convênios. Nos dias 29 e 30 de março de 2006, representantes da Secretaria Nacional de Esporte Educacional do ministério visitaram os supostos núcleos do projeto contratado à Febrak.Essas visitas, segundo documentos levados à Justiça, "demonstraram graves ilicitudes, em total descumprimento ao que foi estabelecido", o que indicaria "apropriação e malversação de verbas públicas". Ainda assim, em outubro de 2006, o ministério celebrou um segundo convênio com João Dias.Segundo a investigação, o PM usou notas fiscais frias para comprovar despesas e ocultar desvio de dinheiro público. A liberação de verba só foi suspensa após sindicância aberta no fim de 2007.Uma das ações civis públicas contra João Dias destaca a compra de 10 mil quimonos numa empresa especializada no comércio de móveis. A Infinita Comércio e Serviço de Móveis Ltda. foi contratada para fornecer quimonos aos alunos no convênio celebrado com a Febrak. Foi emitida nota fiscal de R$ 498 mil, mas nenhum quimono foi entregue.A Infinita foi uma das empresas fantasmas usadas no esquema da fraude para emitir notas fiscais frias. Uma dessas empresas, a HP Distribuidora e Serviços Gerais Ltda. passou recibo milionário por despesas com alimentação no convênio com a Febrak. "Não há como justificar gasto de R$ 1,2 milhão para o fornecimento de suco e biscoito em pequena quantidade", registra o Ministério Público.

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