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Missa vira ato contra violência no Rio

Mais de duas mil pessoas atenderam hoje à missa em memória da jovem Gabriela, de 14 anos, vítima de um tiroteio entre polícia e assaltantes no metrô da cidade

Por Agencia Estado
Atualização:

Mais de duas mil pessoas transformaram hoje a missa em memória da menina Gabriela do Prado Ribeiro, na Igreja de São Francisco Xavier, na Tijuca, em ato de protesto contra a violência e de crítica ao governo estadual. Aos 14 anos, ela foi assassinada na última terça-feira, durante um assalto à bilheteria da estação São Francisco Xavier do metrô, que fica ao lado do templo. A multidão, que lotou a igreja, reuniu desde pessoas próximas à garota - colegas de escola, parentes, amigos e vizinhos - a manifestantes que nunca a conheceram, mas compareceram em solidariedade à família. Um dos mais emocionados era o aposentado Eros Ribeiro, de 70 anos, tio-avô de Gabriela. Ele responsabilizou a governadora Rosinha Garotinho (PSB) pela onda de violência. "Tem que haver justiça ou então tirar esse governo daí", disse ele, chorando muito. Foi muito aplaudido. A única autoridade vista na manifestação foi o deputado federal Chico Alencar (PT), ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa. Mesmo assim, alguns presentes perguntavam, em tom irônico, se alguém vira no ato defensores dos direitos humanos - que associam à proteção a marginais. A missa começou às 18h, com um coral, e se transformou num grande encontro de parentes e amigos de vítimas da violência, que estão criando uma rede de organizações não-governamentais para enfrentar o problema. "Isso tem que servir para alguma coisa, acho até que já está servindo", disse a mãe de Gabriela, Cleide Maia. "A violência levou minha filha, levou minha vida. Não tenho mais nada a perder. Agora tenho que lutar para que isso acabe, para que o filho de outro não morra no chão baleado", afirmou o pai, Carlos Santiago Ribeiro. Ambos são psicólogos e vestiam uma das 250 camisetas brancas com a foto da menina, que foram distribuídas. Eles destacaram a importância da solidariedade recebida mesmo de pessoas com quem jamais tiveram contato antes da tragédia. Um exemplo dessa solidariedade foi dado pelo camelô Almir de Carvalho, de 42 anos. Sem conhecer a família, ele pagou do seu bolso a confecção de 500 faixas para ser amarradas na testa, com os dizeres: "Basta, eu quero paz". Muitos as usaram durante a cerimônia. "Como foi a Gabriela, pode ser um filho meu", disse o ambulante. Abalo - O diretor do Hospital Municipal Souza Aguiar, Paulo Marçal Alves, pai do jovem Vinicius de Souza Alves, alvejado na noite de sábado em tiroteio entre assaltantes e a polícia na noite de sábado, convocou uma entrevista hoje no hospital para pedir à sociedade amor, desarmamento e que "as substâncias ilícitas sejam banidas do nosso convívio". Marçal Alves declarou estar se sentindo fragilizado e impotente "perante essa situação que ronda a nossa cidade", mas propôs que os pais de vítimas da violência sejam os porta-vozes pelo desarmamento da população. "Nós acreditávamos que essa onda de violência fosse muito distante. Hoje não tem área de nossa cidade que seja discriminada por essa violência", disse o médico, referindo-se a que não há mais lugar seguro no Rio. Os casos de violência são registrados das favelas nos subúrbios à Avenida Vieira Souto, em Ipanema, endereço mais caro da cidade." Enterro - O corpo do estudante Marco Antônio Soares, de 16 anos, que morreu anteontem à tarde durante assalto a um posto de gasolina foi enterrado hoje no início da tarde no Cemitério de Inhaúma. O jovem estava enchendo o pneu de sua bicicleta num posto de gasolina no Jacaré (zona norte) no momento em que o local estava sendo assaltado. Houve tiroteio com a Polícia e ele foi atingido na cabeça.

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