PUBLICIDADE

Missionário recusou propostas para deixar Timor, diz irmã

Familiares de Edgar têm intenção de realizar enterro em Belo Horizonte

Por Agencia Estado
Atualização:

O missionário evangélico brasileiro Aurélio Edgard Gonçalves de Brito, 27 anos, que neste sábado foi assassinado em Díli, capital de Timor Leste, recusou as propostas para deixar o país após o acirramento do conflito político-militar, em abril. "Era o projeto de vida dele, o que escolheu. Ele tinha muita consciência do que estava fazendo. Esse era o momento que as pessoas mais precisavam dele", relatou nesta segunda Eglais Gonçalves Brito dos Santos, 33 anos, irmã mais velha de Edgar. Ela lembrou que naquela época a residência do irmão em Timor chegou a ser atacada. "Foi colocado para ele voltar para o Brasil. Mas quem está em um país para uma missão, como ele estava, não tinha lógica ir embora no momento em que o país mais precisa". Familiares do missionário da Assembléia de Deus, que moram em Belo Horizonte, aguardam a definição sobre a autópsia no corpo do jovem para que possam preparar o sepultamento. A intenção é que ele seja enterrado na capital mineira. Edgar foi morto quando retornava de um encontro de orações acompanhado da irmã, Elizama Gonçalves Brito, de 31 anos, que também é missionária em Timor. Eles foram atacados por um grupo desconhecido dentro do carro que Edgar dirigia. "Estava ele, a irmã e três crianças que eles cuidavam, que moravam com eles. A mais velha com 12 anos de idade. São crianças que perderam o pai e mãe na guerra", relata o pastor Moisés Silvestre, vice-presidente da Assembléia de Deus em Minas Gerais. "Chegaram apedrejando carro... alguém introduziu uma arma branca, um chucho, uma espada, entre o ombro e o pescoço (do missionário)". Segundo o pastor, mesmo ferido, Edgar conseguiu dirigir até a casa de alguns brasileiros, que tentaram transportá-lo até um hospital. "Mas foram impedidos devido à confusão nessa parte da cidade". O missionário foi levado para uma clínica, mas já chegou sem vida. Apaixonado pela missão Silvestre descreveu Edgar como um jovem carismático e apaixonado pela causa. Filho de um missionário pioneiro da Assembléia de Deus no norte de Minas, ele era formado em Teologia e morava em Timor Leste havia um ano e sete meses. Edgar trabalhava como voluntário na área de alfabetização de crianças, com cerca de 70 alunos. A irmã já está no país há três anos e meio e atua como enfermeira junto à Cruz Vermelha. O pastor disse que Edgar já tinha uma passagem para o Brasil reservada para o dia 07 de janeiro de 2007. Ele e a irmã decidiriam quem viria visitar a família. "Ambos estavam apaixonados pelos projetos que estavam desenvolvendo lá", reiterou. No início de 2006, a igreja evangélica pensou em enviá-los para novos projetos na China ou Indonésia, mas os irmãos preferiram ficar em Timor. Silvestre disse que o assassinato de Edgar não teve nenhuma relação com seu trabalho missionário. "A morte dele é fruto da violência que impera no país, que está em reconstrução. Há várias gangues de jovens que estão loteando áreas, tomando conta. Quem passar está sujeito a esse tipo de problema", afirmou. Missionários no exterior Segundo o pastor, essa foi a primeira vez que um integrante da Assembléia de Deus morre em missão. Somente de Belo Horizonte, de acordo com ele, são 168 missionários no exterior. A igreja evangélica prometeu dar toda assistência à família. A mãe, a aposentada Maria Antônia Gonçalves de Brito, 61 anos - que, muito abalada, estava sob efeitos de sedativos -, e outros dois irmãos de Edgar moram num prédio no bairro Nova Gameleira, região oeste da capital mineira. O governo de Minas divulgou nota em que informa que encaminhou nesta segunda, ao Ministério das Relações Exteriores, pedido de apoio especial à família do missionário. Conforme a assessoria do Palácio da Liberdade, o governo mineiro recebeu garantias nesse sentido do embaixador Manoel Gomes Pereira, diretor da Comunidade de Brasileiros Residentes no Exterior e da Embaixada do Brasil em Díli.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.