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Moradores da Favela Nova Holanda protestam contra morte de criança

Renan da Costa Ribeiro, de 3 anos, foi atingido por um tiro de fuzil na barriga durante suposto confronto entre policiais militares do 22.º BPM (Maré) e traficantes

Por Agencia Estado
Atualização:

Muitas crianças da Favela Nova Holanda trocaram, na tarde desta quinta-feira, o lazer pela passeata em protesto contra a morte de Renan da Costa Ribeiro, de 3 anos, no dia 1 de outubro. O menino foi atingido por um tiro de fuzil na barriga, no domingo de eleição, durante suposto confronto entre policiais militares do 22.º BPM (Maré) e traficantes. Passadas quase duas semanas do crime, o clima ainda é de comoção entre os moradores, que percorreram as principais ruas do morro e uma pista da Avenida Brasil, cujo trânsito ficou interrompido por 30 minutos. De forma pacífica, cerca de mil manifestantes pediram o fim da violência policial e uma nova política de segurança pública. Vestindo uma camisa preta com a foto do filho, a mãe de Renan, Roberta da Costa, de 24 anos, afirmou que vai entrar na Justiça com pedido de indenização contra o Estado. "Estou esperando também o resultado da perícia, mas já sei que os policiais foram os responsáveis pela morte de meu filho". Mãe de outras três crianças, Roberta disse que foi "duro" comemorar o dia de hoje. "Estou triste. Hoje de manhã, comprei três presentes em vez de quatro. Não consigo dormir nem comer, mas sei que os autores do crime estão perturbados pelo que fizeram", declarou ela, emocionada. Roberta participou de toda passeata. Em frente ao Batalhão da Maré, ela e os demais moradores fizeram um minuto de silêncio em memória a Renan, oraram e cantaram o Hino Nacional. "Mas sei que o protesto não vai dar em nada. Então, entrego os policiais nas mãos de Deus". A marcha, batizada de "Viva a Criança viva", parou a favela. Todos se solidarizaram com o ato. De cima das lajes, da janela dos barracos ou da porta de casa, os moradores entoavam cantos pedindo paz. "O que mais quero no Dia das Crianças é que a polícia não entre atirando na favela", afirmou um menino, que segurava um cartaz com a inscrição: "As crianças do Jiu-Jitsu repudiam qualquer tipo de violência". Sentado na escada de acesso ao bar enquanto os manifestantes percorriam as ruas da favela, um pai dizia ao filho, aparentando ter menos de 5 anos, para que ele não se iludisse com o protesto. "Agora, a polícia não faz nada. Mas depois entra atirando", afirmou. A mãe de Renan está convicta de que sua vida nunca mais será a mesma. "Meus três filhos têm medo de sair e de ir ao colégio. Não é fácil lidar com isso e com a dor da perda", contou.

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