Moradores protestam contra ação da polícia em favela carioca

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Por Agencia Estado
Atualização:

Moradores da Barreira do Vasco, em São Cristóvão, no Rio, protestaram hoje contra a ação da Polícia Civil na favela no final da noite de quarta-feira, quando dois homens foram mortos, uma mulher ferida, e 58 pessoas detidas. A operação policial foi uma reação ao terror imposto pelo crime organizado na cidade na terça-feira. Na ocasião, comboios de traficantes tentaram promover a fuga de líderes do Comando Vermelho do presídio Bangu 3, fuzilaram o Palácio Guanabara (sede do governo) e uma delegacia, assassinaram um policial e balearam dois outros. A Polícia acredita que o ataque a dois inspetores da 17ª Delegacia tenha partido de traficantes da Barreira do Vasco, vizinha ao estádio de São Januário. Na manhã de hoje, dois ônibus da Viação Braso Lisboa foram atacados. À tarde, a mesma empresa emprestou um coletivo para moradores irem ao Palácio Guanabara, onde esperavam se encontrar com a governadora Benedita da Silva (PT) para reclamar da suposta violência dos policiais - que teriam agredido a população e assassinado os dois homens sem reação. Durante intenso tiroteio, uma bala perdida atingiu no braço esquerdo a auxiliar de enfermagem Iracema Delgado Chamarelli, de 54 anos. A dona de casa Eva Romano Vidal, mulher de um dos mortos, o pedreiro Antônio Carlos Gomes da Silva, 39 anos, chorava abraçada a um sobrinho, junto à entrada principal da favela. Ela participou do protesto e prometeu pedir reparação. "Espero que o governo me ajude", disse ela, que tem quatro filhos, todos com menos de seis anos de idade. Os manifestantes estavam revoltados com policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e da Delegacia de Repressão aos Furtos de Automóveis (DRFA), os responsáveis pela operação. "Herança da Core e da DRFA: Morte e impunidade", dizia uma faixa. "Governadora, obrigado pela morte de inocentes na Barreira do Vasco." Indignação Por volta das 5h, a polícia impediu moradores que tentavam incendiar um ônibus. Seis horas depois, outro grupo de manifestantes depredou e tentou atear fogo a um coletivo na Rua Ricardo Machado, em frente à Barreira do Vasco. A Escola Municipal João de Camargo, na mesma rua, funcionou precariamente por causa da escassez de alunos. "Assassinaram friamente um pedreiro que tem quatro filhos e tinha ido comprar fósforos. Ele levou um tiro na perna e disse que era trabalhador, mas os policiais acertaram outro tiro na cabeça dele", relatou um rapaz, que segurava uma faixa e tinha o rosto coberto por uma camisa, para não ser identificado. "Toda vez que a Core vem aqui é isso, matam, prendem inocentes, espancam moradores e nada acontece." Dos 58 detidos na operação, apenas um - Francinei Gregório, que tem mandado de prisão expedido - continuava preso no fim da tarde de hoje. Segundo o chefe de Polícia Civil, Zaqueu Teixeira, todos foram fotografados, deram endereços e serão comparados a imagens feitas pelo dirigível da Secretaria de Segurança. Quatro dos conduzidos à 17ª DP afirmaram ter sido espancados por policiais na favela e na delegacia. Dois mostraram arranhões e marcas de pancadas nas costas, no peito e no pescoço e se disseram vítimas de humilhações. "Invadiram minha casa e me deram tapas na cabeça. Depois nos levaram para um bar e ameaçavam nos levar para a favela vizinha para o pessoal do Terceiro Comando (facção rival à que domina a Barreira) nos matar, enquanto bebiam cerveja e nos tacavam as latas vazias no rosto", contou o ajudante de obras Francisco Morais, 20 anos. Procurada, a assessoria de imprensa da Polícia Civil, não respondeu às acusações. Na operação, foram apreendidos um fuzil, munição para vários calibres, carregadores de pistolas e fuzis, uma farda semelhante à do Batalhão de Operações Especiais, dois rádios transmissores, celulares, papelotes de cocaína, comprimidos de ecstasy, uma balança eletrônica de precisão e vidros de éter. O titular da Delegacia de Roubos e Furtos, Cláudio Góis, disse que o objetivo era localizar integrantes de uma quadrilha de roubo e revenda de automóveis e peças. Segundo ele, a favela fica em um ponto estratégico da cidade por sua proximidade com as zonas norte e sul da cidade, o que facilita seu deslocamento em "bondes" - comboios - como os de terça-feira.

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