Morre em Alagoas último cangaceiro do bando de Lampião

José Alves ingressou no grupo em 1937, aos 20 anos, depois de se dizer perseguido pelas polícias da Bahia, Alagoas e Pernambuco

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Por Carlos Nealdo
Atualização:

MACEIÓ - O servidor público aposentado José Alves de Matos, de 97 anos, morreu na manhã deste domingo, 15, em sua residência, na cidade de Maceió, vítima de insuficiência respiratória, problema que o acompanhava há pelo menos cinco anos. Natural de Paripiranga (BA) - a 264 km de distância de Salvador - o funcionário era tido como o último cangaceiro vivo do bando de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, que dominou o sertão nordestino entre as décadas de 1920 e 1930. 

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Seu sepultamento aconteceu no final da tarde desta segunda-feira, 16, no cemitério Campo Santo Parque das Flores, na capital alagoana. Ao longo do dia, o velório contou com a presença de amigos e familiares do aposentado. 

José Alves ingressou no grupo do cangaceiro no dia 25 de dezembro de 1937, aos 20 anos, depois de se dizer perseguido pelas polícias da Bahia, Alagoas e Pernambuco. "Naquele tempo os civis apanhavam mais da polícia do que os cangaceiros", conta a historiadora pernambucana Aglae Lima de Oliveira, autora do livro "Lampião, Cangaço e Nordeste", atualmente fora de catálogo. "Tinha oito parentes no bando, inclusive José Sereno, seu primo", acrescenta.

O dia em que ingressou na volante de Lampião lhe valeu o apelido de Vinte e Cinco. Preso pela polícia alagoana pouco mais de um ano depois de ingressar no cangaço, José Alves de Matos foi alfabetizado na cadeia, fato que contribuiu para passar em concurso público para guarda municipal, segundo conta sua neta Juliana Matos Galvão. "Se havia algo que ele mais prezava em vida eram os estudos", lembra a neta, formada em Relações Públicas graças ao incentivo do avô. "Tenho orgulho disso. Uma pena que ele não pôde comparecer à minha formatura, por já se encontrar doente", lamenta a jovem. 

"Era um ser humano inteligentíssimo", lembra o pesquisador baiano João de Souza Lima", em entrevista ao Estado. Com seis obras publicadas sobre o cangaço, João de Souza informa que conheceu Vinte e Cinco em 2005, através de um amigo comum. "Costumávamos conversar muito, e numa dessas conversas ele revelou que o motivo que o fez ingressar no cangaço foi o fato de a polícia violentar familiares seus", conta.

José Alves, aposentado como servidor do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Alagoas, era casado há mais de 50 anos com Mariza da Silva Matos e deixa seis filhos e 16 netos.

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