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Morte de menor revolta moradores no Rio

Por Agencia Estado
Atualização:

Moradores do Complexo do Alemão, conjunto de doze favelas na zona norte do Rio, fizeram nesta segunda-feira um protesto violento contra uma ação policial para coibir o tráfico de drogas que resultou na morte do estudante Marcelo Apolinário Nunes, de 11 anos, atingido por um tiro na cabeça. Eles atearam fogo a três ônibus e depredaram outros seis em locais diferentes. Teriam sido insuflados por traficantes, segundo a Polícia Militar. Quatro pessoas foram presas. Testemunhas contaram que o garoto brincava numa das ruas da favela da Grota quando foi baleado e que o tiro foi disparado pela polícia. Já o comandante-geral da corporação, coronel Francisco Braz, disse que houve tiroteio com criminosos e só o exame de balística dirá de onde partiu a bala. Tensão Braz viveu momentos de tensão na favela - que fica em uma das áreas mais violentas da cidade. Ele chegou a ser cercado por moradores e chamado de assassino. Mesmo assim, depois de conversar com o presidente da Associação de Moradores da Favela da Grota, Jorge Silva, determinou o patrulhamento normal no Complexo do Alemão, não a ocupação, como costuma ocorrer depois de confrontos. Policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope), do Batalhão de Choque, do 16º BPM (Olaria) e do Grupamento Especial Tático-Móvel (Getam) estão no local desde manhã. "Acreditamos na força da liderança comunitária, que garantiu que o clima ficaria tranqüilo. A comunidade vai entender que nós estamos aqui para defendê-los e que será feita justiça", afirmou o comandante. Ele disse ainda que sempre vai estar presente quando houver confrontos como o de hoje. "O comandante sempre estará onde for necessário. O risco que corro é igual ao de qualquer outro soldado." O comandante da PM ordenou a apreensão das armas dos quatro PMs que estavam na favela da Grota quando Marcelo foi baleado. Indignação O líder comunitário disse que não há necessidade de policiamento ostensivo no Alemão e que os moradores protestaram porque se indignaram com a morte violenta de Marcelo. "O pessoal não agüenta ver essas coisas. É normal se revoltar quando você chega em casa e vê seu filho morto. Não temos saneamento básico, escola, cursos profissionalizantes. E agora isso." Jorge Silva afirmou que as manifestações costumam ser pacíficas. Renata de Lima, de 14 anos, irmã do garoto estava em casa, na Travessa Nilton Paulino, perto do ponto onde o irmão brincava. Ela ouviu os tiros e correu para a rua. "Quando vi, meu irmão tinha uma bala na cabeça." Chorando, ela disse "só quem vive aqui sabe o que se passa." O pai do menino, Reginaldo de Lima, de 44 anos, contou que os vizinhos viram policiais atirando na Travessa Nilton Paulino. "Foi a PM. Todo mundo viu", afirmou Lima, que estava trabalhando no momento do tiroteio. De acordo com a PM, quatro policiais foram mandados à favela depois de uma denúncia de que traficantes estavam vendendo drogas e exibindo armas nas ruas. Os PMs teriam sido recebidos a tiros pelos bandidos. Marcelo foi baleado 50 minutos após a entrada dos policiais, informou o comandante Braz. Ele afirmou que deu ordens aos policiais para que nenhum tiro fosse disparado, de modo a resguardar a vida dos moradores, mas admitiu que os PMs revidaram. "Troca de tiros é sempre uma coisa desagradável, mas é uma resposta da polícia." Depredação Os comerciantes fecharam as portas. Apavorados, motoristas que passavam pela Avenida Itararé, principal acesso à favela da Grota, voltaram de marcha à ré. Com paus e pedras, moradores depredaram seis ônibus que chegavam à favela cheios de passageiros. Outros três foram incendiados. O motorista José Geilton Pereira, de 31 anos, da linha 629 (Saenz Peña-Irajá) contou que levava 35 passageiros quando foi cercado por cerca de 50 pessoas que mandaram todos descer. Depois, destruíram o veículo. O tráfico de drogas no Complexo do Alemão é liderado por Márcio Nepomuceno, o Marcinho VP, um dos líderes da facção criminosa Comando Vermelho. Ele está preso no complexo penitenciário de Bangu. Na região, são comuns conflitos violentos entre bandidos e PMs.

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