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Morte de toda a família Wright choca moradores e funcionários

Empresário e os parentes iam ao menos duas vezes por mês ao condomínio de Trancoso onde pretendiam passar o fim de semana

Por Vitor Hugo Brandalise e TRANCOSO
Atualização:

Morreu uma família inteira. Os funcionários do condomínio, os vizinhos, mesmo os atendentes dos poucos estabelecimentos comerciais próximos, ao receberem o visitante, mantêm olhos baixos, falam com voz trêmula - sabem qual é o assunto a ser tratado. "Roger, Lucila, Felipe, Verônica... Praticamente uma família inteira. Já pensou na situação, no absurdo da situação?", questiona o empresário Carlos Eduardo Régis Bittencourt, vizinho da casa de veraneio da família Wright, afastada 7 km do centro de Trancoso. Era para lá que a família ia, na casa de alto padrão na beira do mar, com 60 metros de frente e espaço reservado para dois barcos e lancha. Vinham cada vez mais, os netos estavam crescendo, aprendendo a gostar dali. "Bonito de ver como a família era unida. Aqui em Trancoso faziam tudo juntos, desde os passeios na praia até as trilhas ecológicas e passeios de bicicleta nas matas aqui perto", conta Bittencourt, de 55 anos, em Trancoso desde 1989. Segundo ele, ao menos duas vezes por mês a família inteira estava ali - ocupavam a casa, geralmente, as mesmas pessoas que constavam da lista recebida pelo Aeroporto do Resort Terravista, a qual Bittencourt conferiu, emocionado, momentos após o acidente. "Agora, com a criançada crescendo, a casa estava ficando mais movimentada, ocupada praticamente todo fim de semana." Na cidade turística, distante 755 km de Salvador, os Wright eram conhecidos em pontos específicos: no restaurante Maritaca, onde Roger Wright levava a família para jantar ao menos uma vez por mês, e na pousada Etnia, cujo proprietário era seu amigo próximo. Também eram conhecidos, talvez até mais de perto, no "quadrado", como é chamado o centro histórico do local. É por lá, mais especificamente no Bar Praiano, que pode ser encontrado o marinheiro Aguinaldo dos Santos, responsável por um dos hobbies preferidos da família: pescaria em alto-mar. "Quem mais gostava era a dona Lucila, que pescava camarão que era uma beleza. Saíamos de manhã cedinho, às 5h30, e voltávamos no almoço", conta. Os peixes que traziam - geralmente dourados, cavalas e guaiubas -, se não fossem servidos no jantar, eram limpos, embalados e levados com Lucila a São Paulo. "Ela dizia que servia às amigas, como parte da Bahia que levava com ela." O amor à região, os Wright - que construíram a casa em Trancoso em 2005, num condomínio restrito a apenas cinco residências - demonstravam ao aproveitar tudo o que podiam do local. "O Roger gostava de mesclar tudo. Pedia para fazer trekking, caiaque, mountain bike, tudo num mesmo passeio. Era o ecoturista ideal", conta Leonardo Martins, dono da empresa que Roger costumava contratar para guiá-los. "Não acredito que todo mundo se foi." Para o fim de semana, tudo estava planejado. No sábado, os Wright sairiam para pescar - Santos preparou tudo: abasteceu e lavou a lancha, que os levaria à Praia do Espelho. Ontem, fariam uma trilha ecológica com caiaque, descendo o Rio da Barra. A família planejou, também, um grande jantar na sexta-feira, organizado pelo caseiro, que estava no aeroporto esperando o patrão. Ao primeiro sinal da aeronave, ligou para a cozinheira. "Coloca a mesa", disse. Cinco minutos depois, ligou novamente. "Pode tirar. Estão todos mortos."

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