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Mortos em Bangu 1 são do Terceiro Comando

Por Agencia Estado
Atualização:

Os presos mortos na rebelião no presídio de segurança máxima Bangu 1, nesta quarta-feira, eram da facção criminosa Terceiro Comando, rival do Comando Vermelho, do traficante Fernandinho Beira-Mar. Um dos mortos era um dos traficantes mais perigosos e procurados do Rio, Marcelo Lucas da Silva, o Café, de 25 anos, que foi preso em junho de 1998, acusado de chefiar o tráfico no Morro do Andaraí, na zona norte. Ele estava sendo procurado pela polícia desde agosto de 1994. O outro morto estava há seis anos em Bangu 1, Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, cumprindo pena de mais de 200 anos de prisão por tráfico de drogas. No mês passado, ele e 13 integrantes de sua quadrilha começaram a ser julgados na 26ª Vara Criminal do Rio. Arma sueca Celso Luís Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, Wanderley Soares, o Orelha, cunhado de Uê, faziam parte do bando, assim como Roberto Cabral da Silva, o Robertinho do Morro do Adeus. Desde que o traficante Orlando Jogador foi morto pelo rival Uê em junho de 1994, bandidos do Complexo do Alemão, formado por 11 favelas, disputam a chefia do tráfico no Morro do Adeus. Em julho, a polícia apreendeu lá uma bazuca de fabricação sueca - arma capaz de destruir um tanque de guerra. Em Bangu 1 ficam os criminosos mais perigosos do Estado do Rio. De acordo com informações de presos do Complexo de Bangu, não confirmadas oficialmente, o número de mortos chegaria a seis. Dois dos oitos reféns - quatro agentes penitenciários e quatro operários que faziam obras no interior do presídio - foram libertados no início da noite. Até as 19 horas desta quarta-feira, a polícia não tinha cumprido a determinação da governadora Benededita da Silva de invadir o presídio. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, o levante teria sido comandado por Luis Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, Marco Antônio Pereira da Silva, o My Thor, e Márcio Silva Macedo, o Gigante. Corpo queimado Segundo um policial militar que fez parte do cerco à penitenciária, Uê teve o corpo queimado após ser morto. O filho do traficante, D.M., 16 anos, prometeu vingança. ?O que aconteceu lá dentro vai acontecer aqui fora, é um reflexo. Vai morrer muita gente do lado de fora de Bangu?, disse ao Estado. A rebelião começou às 8h30 desta quarta, quando o bando dominou dois agentes do Desipe (Departamento do Sistema Penitenciário) que faziam a contagem dos presos. Os rebelados lhes tiraram as chaves da galeria e os tomaram como reféns. Em seguida, outras seis pessoas ? dois agentes do Desipe e quatro operários que faziam uma obra na prisão ? foram feitas reféns. Armas Os integrantes do Comando Vermelho conseguiram pegar dois revólveres calibre 38 e uma escopeta que ficam em um depósito no presídio para o uso de agentes em caso de emergência. Eles já teriam duas pistolas e uma bomba de fabricação caseira. O presídio tem capacidade para 48 pessoas e é dividido em quatro galerias, com 12 vagas em cada uma. Estavam lá 46 presos no início da rebelição. Duas alas são ocupadas por membros do Comando Vermelho, uma por integrantes do Terceiro Comando e do ADA (Amigos dos Amigos, aliada ao TC), e a última abriga condenados considerados ?neutros? ? que não pertencem a nenhuma organização. Estes conseguiram ser retirados pouco após o início do conflito. Duas torres Um grupo do Terceiro Comando, desesperado, teria conseguido derrubar um muro do presídio para escapar da chacina e fugido para o pátio. Foram transferidos para outra unidade. Durante a operação, foi ouvido o grito de um preso, comentando os supostos assassinatos de integrantes do Terceiro Comando. ?Duas torres já caíram, e outras mais ainda vão cair?, afirmou, relacionando a morte de dois líderes rivais ao atentado aos edifícios do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, que fez um ano nesta quarta. Cerco A Polícia Militar cercou o presídio com cerca de 300 homens, mas evitou invadi-lo, sem antes negociar. O comandante da corporação, coronel Francisco Brás, só chegou a Bangu às 15h30, sete horas depois do início do incidente, mas equipes de todas as unidades especializadas da PM ? como o Batalhão de Operações Especiais (Bope), o Batalhão de Choque, Grupamento Especial Tático Móvel (Getam), por exemplo ? e da Polícia Civil, helicópteros e o dirigível da Secretaria de Segurança faziam parte do enorme aparato montado. Mesmo encurralados do lado de fora, os rebelados não se intimidaram e hastearam uma bandeira vermelha de cerca de 3 metros de comprimento em uma das guaritas, em alusão à ação do Comando Vermelho. Enquanto isso, os reféns estariam sendo mantidos presos a grades, cercados de bujões de gás e de bombas caseiras. Para libertar os reféns, os presos reivindicaram tratamento digno ? ?sem esculacho? ? pela PM e que os líderes da rebelião não fossem transferidos para outros Estados. Condição ?inaceitável? A Secretaria de Segurança concordou com a primeira condição, mas informou que a segunda é ?inaceitável?. Quando soube do início da rebelião, por volta das 9h, quando participava da apresentação de um patinete que será usado no patrulhamento da orla de Copacabana, o secretário da pasta, Roberto Aguiar, disse que controlar o incidente seria ?muito fácil?. ?São só 46 pessoas. É muito fácil dominar aquilo lá. A gente invade na hora que quiser?, afirmou. Até as 18h30, entretanto, a polícia ainda não havia invadido nem decidido que unidade entraria em Bangu 1. Agentes da penitenciária estão sendo investigados, pois há suspeitas de que teriam facilitado a entrada de armas e o começo da rebelião. Doze funcionários do Desipe que estavam de plantão de manhã foram convocados à tarde para depor na Draco (Delegacia de Repressão ao Crime Organizado). Agressão A fotógrafa da Folha de S.Paulo Ana Carolina Fernandes foi agredida e ameaçada de morte nesta quarta-feira por parentes do traficantes Ernaldo Pinto Medeiros, o Uê, em frente ao presídio Bangu 1. Ela recebeu tapas e socos nas costas e na cabeça depois de tê-los fotografado. Um rapaz de cerca de 20 anos a ameaçou. ?Ele falou: ?me dá o filme! Marquei a sua cara, você vai morrer!?, ela relatou. O fotógrafo do jornal O Globo Michel Filho, registrou cenas das agressões. ?A polícia não fez nada?, disse. O fotógrafo do Estado foi impedido de registrar a cena pelos agressores.

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