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Motorista sem carteira mata criança e é liberado ao pagar fiança

Por Agencia Estado
Atualização:

O menino Lucas Henrique Patrício, de 6 anos, costumava jogar bola e andar de bicicleta com os irmãos em um canteiro da Avenida Governador Carvalho Pinto, na Penha, zona leste de São Paulo. Na quarta-feira, ao tentar atravessar a pista, foi atingido pelo carro dirigido pelo promotor de vendas Célio Fernando de Meneses Prodócimo, de 24 anos - que não tem carteira de motorista. Prodócimo fugiu. Tomou banho na casa da irmã e tentou enganar os policiais do 10º Distrito Policial. "Meu carro foi roubado", dizia. Eram 17h30 quando Lucas, o irmão Matheus, de 5 anos, e o primo Daniel André, o Popó, de 14, brincavam no canteiro da avenida. Por causa do horário, decidiram ir para a casa da avó, que fica próxima dali. Popó foi na frente e atravessou a rua. Matheus permaneceu no canteiro, mas Lucas tentou atravessar. Foi atingido em cheio por Prodócimo, que vinha em alta velocidade, segundo testemunhas, em um Gol vermelho, de placa CFR-8927, de São Paulo. Lucas agonizou ao lado da guia. A polícia chegou rápido, mas, diante da gravidade do caso, acionou o Resgate do Corpo de Bombeiros. Ainda na rua, o menino precisou ser reanimado pelos bombeiros. Levado ao Hospital Municipal do Tatuapé, Lucas morreu. Enquanto isso, Prodócimo, que trabalha na empresa Bozzano, largava o carro na altura no número 20 da Rua Xanquerê, próximo da Estação Vila Matilde do Metrô. Em seguida, foi até a casa da irmã para tomar banho. Mais tarde, ligou para o pai, José, - o dono do carro - para dizer que o veículo havia sido furtado e ele iria até o 10.º DP registrar a ocorrência. Lá, a família de Lucas já havia comunicado o crime. Os policiais não caíram na conversa do rapaz, que chegou ao distrito por volta das 22 horas. Ele bem que insistiu. Disse que tinha deixado o carro na mesma rua do atropelamento para fazer exercícios. Quando voltou, o veículo não estava lá. A comunicação entre os policiais de plantão mostrou-se decisiva, pois o atropelamento foi registrado pela equipe que trabalhou até as 20 horas e já havia ido embora. Pressionado, Prodócimo confessou. Alegou que temia ser linchado, se parasse ao lado da favela em que Lucas vivia. A testemunha Rosemeire dos Santos, de 20 anos, contesta. "Não havia um homem sequer na rua para ameaçar o motorista. Só eu estava na frente do barraco e vi tudo", contou. O promotor de vendas levou os policiais até o carro, que foi periciado e entregue ao pai. A liberdade de quem tirou a vida do menino de 6 anos foi fixada numa fiança de R$ 1.100,00. O temor de ser linchado não convenceu. "Conversa dele. Esse medo não justifica o que fez", disse o delegado Mario Guilherme da Silveira Carvalho, titular do 10.º DP. A reportagem ligou para a casa de Prodócimo e uma pessoa que se identificou como Sandro, que seria seu irmão, disse que ele havia se mudado para o interior, por causa do crime. Aos 37 anos, com aspecto de 50, a avó de Lucas Henrique Patrício, Maria do Socorro Henrique da Silva, hoje exigia justiça. "Onde está a lei? Esse assassino veio em alta velocidade, deixou o meu neto morrer à míngua e saiu livre, pagando mil reais pela vida de uma criança." Dizia que espera ver, um dia, o promotor de vendas Célio Fernando de Meneses Prodócimo na cadeia. "Não é porque sou uma pobre favelada e esse bandido tem dinheiro que ele vai ficar impune", gritava, entre crises de choro. Quando esteve na delegacia, Maria, empregada doméstica e paraibana de Campina Grande, viu chegar um homem para dar queixa de furto de veículo. Era o motorista que tinha atropelado o neto. "Quando ele falou do carro, meu coração palpitou. Senti que ele podia ter alguma coisa a ver com o caso, mas só depois vim a saber que tinha matado o meu Lucas", contou. Maria do Socorro, que trabalha na Avenida Gabriela Mistral, a cerca de 1 quilômetro do local do acidente, foi avisada do ocorrido pelo outro neto, Daniel André, o Popó. Quando chegou, Lucas, descrito pelos parentes como uma criança arteira, brincalhona e alegre, estava agonizante, caído ao lado da guia. Ainda respirava, mas estava muito machucado. Apesar de decepcionada com a Justiça por causa da libertação do promotor, Maria disse esperar que ele acabe indo para a cadeia. "A justiça de Deus é reta. Ele vai pagar pelo que fez", afirmou. Grávida de gêmeos, a mãe do garoto, Nazaré, passou mal e foi levada ao hospital. O pai, Lauro, vive na Paraíba e foi avisado da morte do filho, mas não pôde ir ao enterro, no Cemitério da Vila Formosa.

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