Motoristas acampam nas estradas bloqueadas

PUBLICIDADE

Por Natália Viana e Agência RBS
Atualização:

Flávio dos Santos, de 26 anos, saiu de São Bernardo do Campo, no ABC, na quinta-feira, para carregar um caminhão cegonha em Gravataí (RS). Geralmente ele viaja sozinho, mas desta vez resolveu levar a mulher e a filha de 6 anos, pois planejava voltar em três dias. A família já está há uma semana fora de casa e, desde sábado, segue alojada nas margens da BR-101, em Palhoça. Santos é um dos cerca de mil caminhoneiros impedidos de seguir viagem por causa de um deslizamento que bloqueou as pistas da rodovia no Morro dos Cavalos. No sentido norte-sul da BR-101, a fila de caminhões começa no trevo de acesso a Santo Amaro da Imperatriz. Há muitos veículos estacionados no acostamento e em postos de gasolina. No sentido contrário, o cenário é semelhante e os postos de combustíveis servem de alojamento para centenas de caminhoneiros. O banho e as refeições da família Santos são feitas no posto e eles tiveram de recorrer a um bazar para comprar roupas, principalmente para a pequena Paloma, de 6 anos. Já as noites são passadas dentro da cabine do caminhão. "Nossa sorte é que o pessoal do posto trocou um cheque, pois estávamos sem dinheiro", diz o caminhoneiro. Em 26 anos trabalhando nas estradas, Carlos Nei do Livramento, de 47 anos, diz que nunca viveu uma situação como esta. Ele chegou ao trecho bloqueado da BR-101 logo após o deslizamento e ao receber a indicação do policial para retornar não pensou duas vezes: procurou o primeiro posto para "montar acampamento". Morador de Joaçaba, Livramento é contratado de uma transportadora de Itajaí e leva uma carga de cosméticos de Canoas (RS) para São Paulo. "Ontem consegui ligar para a empresa e está tudo debaixo d?água", conta. Cada dia parado representa prejuízo para esses trabalhadores, constatação que é agravada pela incerteza de quando poderão seguir adiante. Nelson Teixeira dos Santos, de 44 anos, não se conforma. Há cinco dias, ele aguarda parado na estrada, faltando pouco mais de 20 quilômetros para chegar ao seu destino. Nelson saiu de Taquara (RS) para entregar uma carga de leite em pó para creches de Florianópolis. "Agora não vale a pena voltar. O que me chateia é que tenho um caminhão pequeno e poderia passar pelo desvio, mas os policiais não deixam." Se o clima ajudar, os engenheiros do Dnit pretendem eliminar a rocha de 2 mil toneladas que tranca a BR-101 na região de Palhoça até domingo. Enquanto isso não ocorre, a pedra gigante se transformou em atração para moradores e viajantes. Com a dimensão de um sobrado de dois andares e peso equivalente ao de 2 mil carros populares, a rocha começou ontem a ser perfurada para a colocação de cargas de dinamite. Para ajudar os caminhoneiros parados, a Defesa Civil de Palhoça distribuiu, ontem, 150 cestas básicas e água potável, doados pelo Hospital Universitário de Florianópolis.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.