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MP acusa delegado de receber R$ 50 mil para libertar traficantes

Segundo promotores, policial do 95.º DP, na zona sul de SP, até trocou a escala de plantão para fazer acerto

Foto do author Marcelo Godoy
Por Rodrigo Pereira e Marcelo Godoy
Atualização:

Cinqüenta mil reais foi o preço pago por uma quadrilha para livrar da prisão em flagrante três acusadas de tráfico de drogas. Segundo denúncia apresentada ontem pelos promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado, do Ministério Público Estadual, à 8ª Vara Criminal de São Paulo, a propina foi pedida pelo delegado Antônio dos Santos, que trocou sua escala de plantão com um único objetivo: fazer o acerto com os bandidos. Santos começou a carreira na polícia em 1974, como investigador. Era chefe de uma das equipes de plantão do 95º Distrito (Heliópolis) quando o Serviço Reservado da Polícia Militar começou a investigar o traficante Élson Andrade dos Santos, o Zica. Os PMs vigiavam uma casa na Vila D. Pedro II, no Ipiranga, zona sul, usada pela quadrilha de Zica quando, na noite de 7 de abril de 2006, abordaram um carro que deixava o local com 100 quilos de maconha. Alessandro Rodrigues Teixeira e Maria Larissa de Souza estavam no Uno branco com a droga embalada em caixas de papelão. Em seguida, os PMs entraram no imóvel, onde foram detidas Sandra Aparecida Loschiavo de Araújo, dona do imóvel, e uma mulher conhecida como Cristina. Os policiais acharam duas balanças de precisão, usadas para pesar a droga, vestígios de cocaína e de maconha. Tudo foi recolhido e levado ao 95º Distrito, onde seria feito o auto de prisão em flagrante por tráfico de entorpecentes. Mas, em vez disso, os policiais foram surpreendidos pela decisão do delegado de transformar a dona da casa em testemunha, soltar Cristina sem nem mesmo identificá-la e considerar Maria vítima de Alessandro Teixeira, o único acusado autuado por tráfico de drogas. Tudo teria ficado apenas na desconfiança dos PMs se o líder do bando, Zica, não estivesse sendo monitorado em uma outra investigação sobre tráfico de drogas em uma cidade no interior do Estado. Num telefonema grampeado, Zica e um comparsa comentaram como fizeram para livrar as três mulheres. Dizem que pagaram "cinqüentão" para "o delegado". "Não foi pra militar não, foi pra civil." Os bandidos comemoram o feito e ainda comentam o comportamento da dona da casa. Ao depor, Sandra jurou que apenas alugava o quarto para Teixeira sem saber o que ele traficava em sua casa. "Trocou a maior idéia a bandida da velha, bandida!", disse o traficante. Nas conversas telefônicas, fica claro que a negociata foi intermediada por um suposto advogado, o Dr. Rubens. A Corregedoria da Polícia Civil abriu inquérito. Os PMs e outras testemunhas foram ouvidas e confirmaram a libertação das acusadas. A investigação foi concluída há um mês. Embora não tenha sido surpreendido nas escutas, o delegado foi denunciado pelos promotores sob a acusação de corrupção passiva. "Se o tráfico de droga tiver poder de fogo de destruir flagrantes, aí estaremos perdidos", disse o promotor José Reinaldo Guimarães. Com a denúncia, a cúpula da Polícia Civil decidiu afastar preventivamente o delegado. Santos, no entanto, está de licença médica desde fevereiro, quando foi transferido do 95º DP para o 97º DP, em Americanópolis, zona sul. O delegado já foi investigado, segundo os promotores, em outro caso rumoroso de corrupção: o escândalo da fraude contra clientes de seguradoras de veículos acusados no 27º DP (Campo Belo) de dar falsa queixa de roubo e vender seus carros no Paraguai.

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