MP e polícia investigam suposto grupo de extermínio em SP

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Por Agencia Estado
Atualização:

O Ministério Público Estadual e as corregedorias das polícias Militar e Civil, com o apoio do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), de São Paulo, continuam investigando a possível existência de um grupo de extermínio em Ribeirão Preto formado por policiais da cidade. O MP tem uma lista de 17 nomes de policiais suspeitos de terem praticado execuções nos últimos anos. O procurador-geral de Justiça, Luís Antônio Guimarães Marrey, prometeu respaldo na apuração do caso. Também é investigada a possível existência de um cemitério clandestino na região. Segundo o corregedor-auxiliar da Polícia Civil em Ribeirão Preto, Jayme da Silva Ribeiro Filho, estão sendo investigados 17 casos específicos de crimes que estariam relacionados ao suposto grupo de extermínio, tendo sido ouvidos dezenas de depoimentos sobre eles. Ao ouvir que cerca de cem pessoas teriam sido executadas, além da existência de um possível cemitério clandestino, Ribeiro Filho se surpreende e diz não imaginar de onde teria saído o número. Mesmo porque, segundo ele, não existe um grande número de desaparecidos na região. Ele também afirmou que desconhece a lista dos policiais suspeitos. As investigações sobre o possível grupo de extermínio começaram em agosto de 2002, após mortes seguidas com características de execução: tiros na cabeça, e até em grupos. As vítimas tinham, na maioria das vezes, passagem pela polícia. As armas dos crimes eram geralmente semelhantes às usadas pelas polícias. Numa mesma noite, três irmãos e o namorado de uma dessas vítimas foram assassinados - o casal em casa, e dois deles, no carro, diante da mãe, minutos após prestarem depoimento na polícia. A mãe das três vítimas, que está sob proteção policial, teria mencionado que existe o Primeiro Comando de Extermínio (PCE), de que Ribeiro Filho e o diretor do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior (Deinter-3), Luiz Roberto Ramada Spadafora, jamais tinham ouvido falar. Ribeiro Filho disse que duas reuniões de trabalho foram feitas em São Paulo, mas o caso está longe do fim. "É um trabalho hercúleo e precisamos ter critérios", diz ele. Para Spadafora, é interessante que tudo seja apurado e, se comprovados os casos, que hajam punições. "Nosso objetivo é comum", afirma Spadafora. Segundo ele, o caso "mais estranho", e que pode ter envolvimento de policiais, foi a morte de João Paulo Alves da Silva, de 21 anos, ocorrida na cela do anexo do 1º DP, em abril. Silva tinha sido preso havia pouco mais de 24 horas, suspeito de ter participado do atentado à casa do delegado Paulo Pereira de Paula alguns dias antes. Na parede da cela, o aviso 15.3.3 (de PPC, de Primeiro Comando da Capital) não convenceu. Sobre o possível cemitério clandestino, que seria em Serrana, Spadafora e Ribeiro Filho dizem que, em janeiro, houve um caso de homicídio, isolado, no qual houve a suspeita de que o autor teria enterrado mais de uma pessoa, mas isso não foi confirmado. Daí poderia ter surgido o número de mais de cem mortes. Outro dado é o relatório "Homicídios de Adolescentes no Município de Ribeirão Preto", baseado num levantamento feito entre 1995 e 1998, pela Universidade de São Paulo (USP) local em parceria com o Ilanud, órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) que combate a violência na América Latina. No estudo foram levantados 107 homicídios de jovens naquele período. O promotor da Infância e da Juventude, Marcelo Pedroso Goulart, entrou com ação civil pública, responsabilizando o Estado e a Fundação Estadual para o Bem-Estar do Menor (Febem) pelos crimes. A ação foi rejeitada em dezembro de 2002 pelo juiz Guacy Sibille Leite e Goulart recorreu ao Tribunal de Justiça em janeiro.

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