Na 25, qualquer um vende o que quiser

Repórteres passaram 2 dias como camelôs sem serem incomodadas

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Por Luisa Alcalde e Marici Capitelli
Atualização:

Basta R$ 1 para conquistar o direito de ocupar ilegalmente o espaço público. Com esse valor foi possível comprar uma caixa de papelão com suporte e montar uma banca na Rua 25 de Março. Foi assim que duas repórteres se tornaram camelôs - vendendo brincos - por dois dias na via de comércio mais movimentada do País. A ideia era observar de perto a fiscalização do comércio ilegal. Puderam constatar o que lojistas contam há algum tempo: a região está fora de controle. Qualquer um pode vender o que quiser. Produtos falsificados estão à vista de todos. O trânsito é caótico. O lixo se acumula pelas esquinas. O barulho é ininterrupto e gangues atacam consumidores e fornecedores. Os guardas-civis metropolitanos fazem de conta que coíbem os marreteiros e esses fingem que fogem do chamado rapa. Na verdade, ninguém foge. Nem precisa. Os ambulantes apenas recolhem momentaneamente as mercadorias enquanto a GCM passa. No instante seguinte, as expõem novamente. É assim o dia todo. Com 56 brincos comprados com nota fiscal na Ladeira Porto Geral, as repórteres foram para a 25, próximo da Travessa Lucrécia Leme, onde fica justamente a base da CGM e o ônibus supostamente utilizado para guardar produtos apreendidos. Ficaram a princípio a cerca de 50 metros dos guardas, com os produtos dentro de uma caixa de papelão, abordando pedestres. Vende-se de tudo: veneno para baratas, raquetes de matar mosquitos, roupas para cachorro, depilador de ouvido, bandeiras do Corinthians. Ninguém olhava para os brincos de R$ 1 e os colegas de rua foram solidários. Mostraram às repórteres como "ficar na rua" , ou seja, montar uma barraca de papelão para começar. As caixas podem ser compradas na rua de trás, a Comendador Abdo Schahin. Detalhe: elas são dispensadas pela própria loja que terá sua entrada obstruída por essas bancas. "Mas o ideal mesmo é comprar um tabuleiro, porque a mercadoria não fica caindo", ensinou um deles. O tabuleiro pode ser adquirido por R$ 5 no Parque D. Pedro. Com a barraca improvisada, as repórteres a posicionaram junto à calçada. "Só não pode montar onde tem faixa amarela", avisou um camelô das antigas. As faixas tiveram de ser demarcadas pela loja, que não queria sua entrada obstruída. Ele orienta a dar um nó nas pontas do pano. "Quando os guardas passarem, fica mais fácil segurar a mercadoria." Logo vão chegando chineses, bolivianos, angolanos, peruanos. Ficam literalmente no meio da rua, com lonas estendidas no chão. E são em número cada vez maior, segundo brasileiros.

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